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Quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Produção de leite em Pernambuco entra em crise por causa da seca e pragas

Fenômeno climático e doença em planta forrageira deixam 18 mil desempregados. Criadores estão levando seus rebanhos para AL. Considerada a pior seca dos últimos 30 anos, a estiagem tem provocado um sofrimento extra na região da bacia leiteira de Pernambuco, no agreste, responsável por 85% da produção de leite no Estado.

"Sempre teve seca, mas não secas em palma", disse o presidente do Sindicato dos Produtores de Leite de Pernambuco (Sinproleite), Saulo Malta, ao se referir à planta forrageira, imprescindível para quem cria gado em área de estiagem por sua capacidade de suportar clima seco. A palma tem sido dizimada no Estado pela praga cochonilha carmim - um inseto que suga a seiva e a destrói em poucos meses.

"Só produz leite na região quem tem palma", resumiu ele. Sem o alimento para dar ao gado, os criadores de porte médio de Pernambuco têm abandonado suas propriedades para levar as reses para Alagoas. Ali,em torno do município de Batalha, eles arrendam terra com água e plantação de palma, sem praga, na luta pela sobrevivência dos animais. O retorno só ocorrerá com a chegada das chuvas, cuja previsão é a partir de dezembro.

Outros criadores do Estado não tiveram a chance de engrossar o êxodo.Ouviram suas reses morrer ou venderam o rebanho por preços indignos. De tão magros, os animais não nem servem para o corte.

Impacto. De acordo com a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária (Adagro), a redução na produção do leite no agreste pernambucano, que engloba cerca de 10 municípios, é de40%:foramproduzidos1,3milhão de litros por dia neste ano contra 2,2 milhões litros por dia no ano passado.

A relação entre produção de leite e emprego é de um emprego direto para cada 50 litros de leite produzidos,enfatiza o sindicalista.

A queda da produção em 900 millitros/dia significa 18 mil pessoas desempregadas.

"A situação é muito triste no campo.É de doer ver o sofrimento dos animais e do homem", afirmou Stênio Galvão, diretor-presidente da Bom Leite, uma das 20 empresas de laticínios do agreste, que também abriga 300 queijarias informais.

Localizada em São Bento do Una, com 190 funcionários, a Bom Leite coletou, ano passado, 110 mil litros de leite por dia dos produtores locais, que também exportavam para as capitais de Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte. Neste ano, o laticínio só conseguiu comprar 60 mil litros/dia.

Para compensar a falta do produto na região, a empresa está substituindo o leite in natura por leite em pó, adquirido no Sul e Sudeste, para fazer iogurtes, manteiga e queijos."Os empresários têm essa opção, podem comprar fora, mas o criador está sem saída", avaliou Galvão.

Malta testemunha que o cenário é de desolação. Destaca que os produtores de leite - a maioria pequenos e médios -não têm condição de comprar Ração para os animais, em razão do preço alto. Nem mesmo o milho prometido pelo governo federal com preço subsidiado(R$18,50) tem sido solução. "Além da demora, o que tem chegado de milho é insuficiente e não supre a demanda", reclamou Malta.

Sementeira. O Sinproleite propôs ao governo do Estado a implantação - em 120 hectares de terra distribuídasem 27 propriedades - de sementeiras de variedades de palma resistentes à cochonilha carmim. Essas variedades foram desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (Ipa) depois da chegada da praga ao Estado no ano 2000.

De acordo com o projeto, no primeiro ano,60% do produzido seria repassado para outros associados fazerem suas sementeiras, com assistência técnica e maior capacidade de produção. No segundo ano, o porcentual cai para 40%, no terceiro, para 20%, até todos terem sua própria sementeira. A previsão é de que a meta seja alcançada em quatro anos.

As mudas já foram adquiridas pelo governo estadual. Falta, segundo Saulo Malta, a aquisição de kits de irrigação.O secretário estadual de Agricultura de Pernambuco, Ranílson Ramos, informou que os kits de irrigação estão sendo orçados e devem integrar o orçamento de 2013.

Para o sindicalista, essa deveria ser uma prioridade imediata. "Com a protelação, a previsão mais otimista é de que as sementeiras só sejam plantadas no segundo semestre do próximo ano", observou. "Até lá, vamos continuar sem palma e sem garantir a produção de leite."
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