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Enxofre é indicado para controle do oídio do cajueiro

28 Mar 2016 - 09:30

Verônica Freire/Embrapa Agroindústria Tropical

O oídio do cajueiro, doença que na última década vem devastando pomares em todo o País, pode ser controlado com a aplicação de enxofre – um produto inócuo à saúde humana e ao meio ambiente e apropriado para cultivos orgânicos. Cientistas da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) observaram que o enxofre é capaz de controlar a doença, reduzindo a incidência a menos de 10% nos pomares acometidos.

Muito agressivo, o oídio ataca os tecidos jovens da planta, as inflorescências, pedúnculos e castanhas. Provoca o abortamento das flores e deformações, rachaduras e varíolas nos pedúnculos e frutos. O ataque provoca prejuízos tanto ao mercado de castanha quanto ao de caju de mesa. Um sintoma comum é a variegação (presença de zonas com alteração de cor) na maçã do caju. Esse dano é observado em quase todos os clones comerciais acometidos e provoca redução do preço como fruta de mesa, um importante nicho de mercado do agronegócio do caju.

O pesquisador Emilson Cardoso explica que além do enxofre elementar, que pode ser polvilhado nos pomares, os produtores têm à disposição um produto industrializado à base de enxofre com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A recomendação é para que os produtores façam três aplicações semanais com o produto logo na primeira florada dos cajueiros.

Emilson Cardoso acrescenta que o enxofre elementar é um produto natural e acessível, mas que apresenta a desvantagem de necessitar de um equipamento específico para polvilhamento. Por este motivo, os produtores obtiveram em 2015, a partir de recomendação da Embrapa, o registro no Mapa de produto à base de enxofre. O defensivo agrícola liberado é solúvel em água e pode ser aplicado com equipamentos de pulverização facilmente encontrados nas propriedades, o que facilita o controle.

O Pseudoidium anacardii, fungo que provoca a doença, apresenta disseminação explosiva, germinando em poucas horas. O patógeno pode ser facilmente disseminado por vento ou insetos. "Não depende muito de chuva para germinar, bastam poucas horas de orvalho, o que é comum mesmo nos sertões. Uma vez germinado, penetra facilmente nos tecidos jovens", detalha Cardoso.

O pesquisador considera fundamental o controle pela magnitude da epidemia da doença. Apesar de a Embrapa não ter, ainda, dados sobre os prejuízos provocados pelo oídio do cajueiro, os pesquisadores acreditam que esta seja, atualmente, uma das principais causas da queda de produtividade, associada a outros fatores como a predominância de pomares velhos, a seca e a falta de tratos culturais em muitas regiões. "O oídio é uma ameaça à sobrevivência da cultura do caju, por isso o controle e o trabalho de pesquisa são muito relevantes", declara o especialista.

A Embrapa tem feito visitas técnicas a várias cidades das regiões produtoras e observado excelentes resultados no controle com enxofre. Apesar disso, continua sendo constatado o avanço da epidemia. "Estivemos recentemente em Surubim, Pernambuco, que fica longe das regiões produtoras, e constatamos um ataque forte do fungo, o que muito nos preocupou", revela o pesquisador.

Novos estudos

Nos últimos três anos, os pesquisadores avaliaram o comportamento dos clones comerciais de cajueiro com relação à doença, identificando quais os mais resistentes e tolerantes. Os resultados da pesquisa estão em finalização e devem ser publicados em breve. Os pesquisadores estão identificando também progênies com resistência para o desenvolvimento de novos clones resistentes à doença.

Estão em andamento, também, estudos com controle químico e alternativos, manejo, avaliação de danos e avaliação genética. "Estamos com 70 amostras de diferentes estados e diferentes plantas hospedeiras. Nossa meta é isolar o DNA de todos, fazer a caracterização e identificar a filogenética da população de oídio", explica Emilson Cardoso. Nesses estudos, estão envolvidos diversos pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical, da Embrapa Monitoramento por Satélite e alunos da Universidade Federal do Ceará.

O caso africano

O Oidium anacardii foi descrito pela primeira vez no Brasil, em 1898, por F. Noack no Instituto Agronômico de Campinas. No Brasil, o oídio se manteve, até recentemente, como uma doença de importância secundária, porque apresentava ocorrência endêmica e os sintomas não eram tão graves, atacando predominantemente os tecidos mais velhos da planta.

O oídio foi registrado pela primeira vez como importante problema agrícola no fim dos anos de 1960, na costa leste da África. Durante a primeira metade daquela década, países como Tanzânia, Moçambique, África do Sul e Madagascar sustentavam a posição de maiores produtores mundiais de amêndoa de castanha-de-caju. Até que a região começou a enfrentar sérios problemas de produtividade. Entre os principais fatores que contribuíram para isso estava o oídio do cajueiro.

A doença foi descrita como muito agressiva, com ataque muito intenso aos tecidos jovens das plantas. Em oito anos, a produção da Tanzânia caiu 90%, passando de 145 mil toneladas para 16 mil toneladas. Nesse período, o governo daquele país contratou a consultoria do professor britânico Clive Topper, que sugeriu renovar os pomares e implantar um sistema de controle baseado no polvilhamento de enxofre em pó. Em 1978, foi implantado um sistema compulsório de controle da doença, que começou a surtir efeito, reduzindo a epidemia. "Eles conseguiram controlar, mas foi de forma compulsória. Os produtores recebiam o enxofre e eram obrigados a fazer a aplicação. Assim, o governo garantiu a efetiva aplicação em todas as áreas", conta o pesquisador Emilson Cardoso.

No Brasil, o início de problema semelhante ao registrado na África começou em 2004, quando produtores do Piauí procuraram a Embrapa, reclamando de uma doença que provocava varizes nos pedúnculos, o que estava comprometendo o mercado de caju de mesa. "Houve muitas suspeitas, mas, analisando os esporos, observamos que eram semelhantes a descrições feitas do oídio registrado na África", relembra o pesquisador Emilson Cardoso.

A equipe da Embrapa Agroindústria Tropical iniciou, então, uma série de ensaios para avaliar a eficiência do tratamento com enxofre no Ceará e Piauí. "Quando observamos a eficácia do tratamento, a Câmara Setorial da Cajucultura entrou com pedido para a liberação de produto à base de enxofre no Mapa", conclui.
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