Após registrar perdas de quase 7 milhões de toneladas de milho na safra 2015/2016, Mato Grosso deve ver no ciclo 2016/2017 um novo recorde de produção do cereal que pode chegar a 30 milhões de toneladas. Os produtores mato-grossenses não descartam cenas de milho a céu aberto por falta de armazéns e afirmam temer maior queda nos preços, que hoje no mercado futuro são encontrados na casa dos R$ 13.
Hoje, os números do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontam para o milho uma produção de 26,5 milhões de toneladas. Contudo, uma revisão começa a ser feita. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin, já se espera uma safrinha de 30 milhões de toneladas. Tal perspectiva nova é decorrente as chuvas regulares durante o desenvolvimento do milho.
Leia mais:
Safra recorde de 1 bi/t de milho no mundo pressiona preços e gera incertezas em Mato Grosso
Caso Mato Grosso colha 30 milhões de toneladas de milho safrinha, também conhecido como 2ª safra, o Estado entre o cereal e a soja somara no ciclo 2016/2017 uma produção de 61 milhões de toneladas. Somente em soja 31 milhões de toneladas devem ser colhidas, com uma média histórica de 55 sacas por hectare.
O presidente da Aprosoja-MT pontua que Mato Grosso possui uma capacidade estática de apenas 34 milhões de toneladas de grãos em armazéns públicos. Muito aquém do necessário e do estipulado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que exige uma capacidade instalada superior a 20% do que é produzido para garantir qualidade de armazenagem e recebimento.
“A colheita do milho está batendo na porta e não foi escoada toda a soja. Além da soja que não foi vendida, temos ainda a soja comercializada para entrega futura para escoar. Esse ano vamos ver a velha cena de milho em Mato Grosso a céu aberto”, comenta Endrigo Dalcin em entrevista ao
Agro Olhar.
Preços
Conforme o presidente da Aprosoja-MT, os preços estão desestimulando os produtores tanto de soja quanto de milho, o que pode ser observado no andamento das vendas deste ciclo. O Estado já comercializou aproximadamente 65% da safra de soja e 43% do milho, segundo o Imea.
Endrigo Dalcin e o gestor de análise de mercado do Imea, Ângelo Ozelame, destacam que os preços da soja e do milho estão pressionados para baixo pela supersafra brasileira, além da perspectiva de aumento na produção nos Estados Unidos.
“Nós temos uma comercialização que está um pouco travada desde o início do ano, apesar de estar um pouco adiantada em relação à média dos últimos cinco anos. Porém, a gente tem uma expectativa de uma safra muito grande, que por sinal são mais de 26 milhões de toneladas, e essa safra grande se repete no Brasil e no Mundo. O Mundo vai produzir mais de 1 bilhão de toneladas de milho e o Brasil 93 milhões de toneladas e isso vai pressionando os preços e faz com que o produtor saia do mercado. O que se projeta através do preço de paridade não é de melhora do valor e isso acaba preocupando ainda mais”, salienta o gestor de análise de mercado do Imea, Ângelo Ozelame.
Dalcin frisa que hoje um dos temores diante a queda nos preços é o endividamento dos produtores. “Temos problemas de endividamento vindo da safra de milho do ano passado. Não podemos esquecer que a safra 2015/2016 foi a pior de Mato Grosso. Colhemos quase 2 milhões de toneladas de soja a menos do esperado. Em milho foram 7 milhões de toneladas a menos. Muita gente prorrogou o custeio do cereal, investimentos e tinha que pagar agora em 2017. Imagina você pagar a safra atual e mais o restante da passada. Então, acumulou e com os preços baixos isso vai ser um problema de novo”.
A expectativa dos produtores é que as operações de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), Prêmio para o Escoamento (PEP) e de Contrato de Opção anunciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) auxiliem o setor.
No dia 04 de maio, a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) realizará três operações que visam a garantia de preço aos produtores de milho do Estado. Entre Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) e Prêmio para o Escoamento (PEP) são 400 mil toneladas. Já Contrato de Opção serão ofertados 7.400 contratos.