Sinônimo de independência, desapego e aventura, as viagens de trailer ou motorhome, inspiraram gerações das décadas de 60 e 70 a cair na estrada, sobretudo, nos Estados Unidos. Longe de cair no esquecimento, estes veículos, cada vez mais sofisticados e confortáveis, continuam a chamar atenção de muita gente, representando também uma nova forma de economia. Foi esta a motivação para a empresária Michele Velho, que desde 2017 abriu mão das diárias de hotel, com as quais gastava cerca de R$ 52 mil anuais, e investiu na customização de um ônibus.
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Natural de Concórdia, em Santa Catarina, ela, o marido, Oberdan Wasem, e a filha, Valentina (de apenas três meses), chegaram a Cuiabá na última semana junto com o evento Food Trucks do Brasil, organizado por sua empresa. “Demos início ao festival na nossa região. Começaram então a surgir pedidos para fora dali e começamos cada vez mais ir mais longe e mais longe”, conta. Hoje já são 12 estados brasileiros percorridos por eles.
A expectativa agora é que em aproximadamente um ano e meio o investimento no motorhome, avaliado em R$180 mil, seja pago. Antes dele, a família se deslocava Brasil afora em uma caminhonete e um caminhão pequeno, hospedando-se sempre em hotéis. O gasto médio com as diárias aumentaria para R$ 82 mil a partir do próximo mês, com a chegada de uma babá e a presença de Luís, braço direito de Michele nos negócios.
A frente dos negócios, a empresária também é responsável pelo volante, já que Oberdan não possui CNH. "Eu sou mais matemática, aceitei o desafio mais por conta dos gastos, e ele pela aventura”, diz.
Planta de veículo semelhanda ao da família catarinense/Reprodução- Internet
Ela garante que até o momento não houve nenhuma situação de risco pelas rodovias do país. “Em 2016 fomos até o Mato Grosso do Sul e depois subimos mais. Em 2017 fomo até o Amazonas, Acre, Pará, Mato Grosso. Passamos pela famosa BR-319 e também pela transamazônica. O único problema que enfrentamos às vezes é ficarmos quebrados na estrada. Na transamazônica a gente atolava, tinha voltar e puxar, mas eu não ligo.”
Com o ônibus as coisas ficaram mais confortáveis, no entanto, algumas mudanças de hábito precisaram ser adotadas, incluindo redução no consumo de água e energia. Para fechar a série de itens economizados, o gasto com a gasolina também ficou mentor, se comparado aos outros dois veículos utilizados anteriormente. Segundo ela, o motorhome faz uma média de 6 km por litro.
O veículo foi comprado e adaptado por uma empresa de Joinvile, onde o casal conseguiu fazer tudo do seu jeito, incluindo a decoração e as cores. Já na entrada a sala, em estilo americano, tem sofá espaçoso e mesa para quatro pessoas. As cortinas e almofadas são um capricho a parte. Na cozinha e banheiro, as pastilhas foram cuidadosamente escolhidas. Já o quarto do casal comparta cama tamanho king size, e é antecedido por outro cômodo menor, com cama de solteiro.
Dependendo do modelo e do preço, o luxo vai aumentando. Podem possuir: televisões, dvd’s, microondas, lava-louça, lava-roupa, secadora, ar condicionado, som, gerador, macacos de nivelamento hidráulicos e etc.
De acordo com Michele, embora o motorhome tenha ficado pronto em 60 dias, a média de tempo é normalmente de seis meses, uma vez que se trata de um trabalho minucioso. “Algumas coisas não dá pra escolher. Por exemplo, eu queria uma geladeira maior, mas não pode por conta do espaço.”
O dispositivo conta ainda com água quente e fria, aquecimento a gás, e duas caixas d’água na parte de baixo. São 300 litros de água boa, para as torneiras e chuveiro e uma caixa de 150 para o vaso. Para a saída há uma de 200 e outra de 150. Todas estas instalações são feitas pela parte inferior do veículo, onde as caixas de entrada e saída e de água estão armazenadas.
Com relação aos desafios e delícias de viver sobre rodas, da principal dica é adaptação e a parceria. “Eu gosto da estrada, me adapto, faço amizades com muita facilidade. Você tem que se adequar a cada região, a cultura de cada cidade. Em todo lugar que nós passamos, levamos as amizades. Temos histórico de pessoas que trabalham com a gente e depois mandam mensagem dizendo que estão com saudade, querendo saber quando vamos voltar. É um vínculo muito legal” afirma.
Valentina já nasceu no mesmo embalo e duas semanas após chegar ao mundo, caiu na estrada com os pais, que passam apenas dois meses do ano em Concórdia, com a família. Para Michele, as dificuldades enfrentadas com a pequena são as mesmas pelas quais passam as outras mães. O importante para ela é não ter frescura. “É a mesma coisa pra cuidar dela, claro sem frescura. O que favorece muito é que somos bem pé no chão e muito parceiros", finaliza.