Pesquisas relacionadas à gestão das florestas apontam soluções para equilibrar desenvolvimento econômico com sustentabilidade ecológica. Em Mato Grosso, o Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem) tem firmado parcerias com instituições acadêmicas para aprimorar e fortalecer a produção de madeira nativa no Estado. Somente nos últimos dois anos, foram implementadas 12 ações de inovação e aprimoramento de práticas com embasamento científico no campo da atividade de base florestal.
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Neste sentido, somando forças com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), além da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), foi realizado em setembro, no município mato-grossense de Alta Floresta, no bioma amazônico, o 1º Encontro de Identificadores de Árvores Nativas da Amazônia. O evento promoveu durante 3 dias, com 40 participantes, o intercâmbio de experiências e atualização de conhecimentos sobre espécies arbóreas, essenciais para o manejo sustentável das florestas da região.
Outros projetos apoiados pelo Cipem junto às instituições de ensino e pesquisa e com impacto na sustentabilidade envolvem estudos sobre o potencial energético de resíduos de madeira, conversão de pó de serra em adubo para melhoramento de solo, desenvolvimento de software para gestão florestal e sistema computacional para reconhecimento de espécies arbóreas da Amazônia brasileira.
Também foram desenvolvidos estudos de monitoramento da dinâmica florestal de área de manejo sustentável na Amazônia mato-grossense e sobre a situação atual das variedades de ipê. Foi realizada, ainda, atualização de informações técnico-científicas reunidas pelo Levantamento e Análise da Produção e Exportação de Madeiras (Lapex-Mad), promovida capacitação sobre secagem da madeira visando padrão exportação, bem como atualização das espécies arbóreas nativas mais comercializadas em Mato Grosso.
Em julho deste ano, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foi criado e apresentado o protótipo de um projeto inovador, “batizado” de Módulo TecnoÍndia, que possibilita a aplicação de tecnologias utilizando madeira colhida dos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS). O projeto é resultado de pesquisa coordenada pelo arquiteto e professor titular aposentado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFMT, José Afonso Botura Portocarrero.
"Durante minha pesquisa sobre habitação indígena, percebi que muitas intervenções nas aldeias, como postos de saúde e escolas, são feitas com pouca qualidade e interferem no desenho cultural dos povos onde são construídas. A proposta a partir do protótipo pode ser uma solução alternativa, oferecendo uma estrutura reconhecida culturalmente, compreendendo o desenho das habitações indígenas como tecnologia", explica Portocarrero.
Montado no campus em Cuiabá, o protótipo foi inspirado na arquitetura das habitações indígenas e apresenta estrutura que passou por testes de carga no Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia Civil da UFMT. Além disso, possui um pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que é acompanhado pelo Escritório de Inovação Tecnológica (EIT/UFMT).
A parceria do Cipem com a UFMT também resultou na oferta de uma disciplina optativa, pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo, intitulada “Introdução à arquitetura em madeira”.
Para a diretora do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), doutora em Botânica e engenheira florestal, Gracialda Ferreira, ainda é preciso avançar mais em pesquisas científicas e tecnológicas para garantir sustentabilidade no uso dos recursos naturais.
“Muito ainda precisa ser conhecido sobre o comportamento das interações frente ao uso de produtos, até então não manejados, como capacidade de produção, de produtividade, ciclos produtivos, novos produtos, maior aproveitamento, entre outros aspectos, de forma que os impactos das ações continuem sendo mínimos”, avalia Gracialda. O desenvolvimento de novos produtos florestais deve garantir que as matas nativas continuem produtivas, mas fundamentalmente em pé, vivas, gerando renda e equilíbrio climático, enfatiza a pesquisadora.
Em Mato Grosso, o setor de base florestal é reconhecido por promover práticas eficientes e ambientalmente responsáveis por meio do manejo sustentável, técnica implementada há mais de 50 anos, a partir de resultados de pesquisas sobre as florestas. Atualmente, mais de 5 milhões de hectares de matas nativas estão abarcados por Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), com potencial de expansão para mais de 6 milhões de hectares. O manejo florestal permite a produção de madeira de forma compatível com a conservação ambiental, garantindo que a colheita seletiva de árvores adultas seja feita de forma a preservar o ciclo de regeneração natural da floresta.
“A floresta é um sistema que envolve diversas relações e interações ecológicas entre os diferentes elementos naturais - flora, fauna, solos, água e clima - que a compõem. Neste sentido, o manejo florestal parte desse conhecimento para que seja possível a obtenção de produção com o mínimo de impacto ao funcionamento desse sistema, quando não é possível prever ações para mitigar. No cenário atual, o manejo da floresta ganhou uma proporção muito maior, visto que todas as políticas públicas que vem sendo fomentadas e destacadas passam pelas atividades previstas nesta técnica”, destaca Ferreira.
Das áreas contidas em Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) em Mato Grosso são colhidas aproximadamente 46 espécies arbóreas nativas de valor comercial. A colorimetria da madeira tropical mato-grossense é caracterizada por 25 tonalidades, variando entre matizes de branco, bege, amarelo, marrom, vermelho, rosa e verde-oliva. Outros atributos das espécies arbóreas comerciais são os variados valores de massa, desde os leves aos pesados.
Segundo maior produtor brasileiro de madeira nativa em tora, obtida das áreas de Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), Mato Grosso ofertou ao mercado consumidor 2,1 milhões de metros cúbicos (m3) com valor total de R$ 498,1 milhões, revela a pesquisa anual de 2024 sobre a Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (Pevs), divugada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números demonstram que a produção mato-grossense de madeira nativa corresponde a 76,4% do valor total de R$ 651,4 milhões da extração vegetal realizada no Estado. Juntos, Mato Grosso e Pará respondem por 62,6% da quantidade total extraída de madeira em tora das florestas nativas, representando 79,1% do valor da produção desse produto no Brasil.
A produção e industrialização de madeira nativa ocupa atualmente 11.063 trabalhadores formais em Mato Grosso. De janeiro a agosto deste ano, o setor de base florestal abriu 617 novas vagas de trabalho com carteira assinada no Estado, revela levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Os produtos madeireiros são destinados a atender a demanda da construção civil e moveleira, entre outras aplicações, tanto no mercado interno como internacional. Na balança comercial de Mato Grosso, a madeira está entre os dez produtos mais comercializados com outros países, agregando US$ 78,2 milhões, acumulados nos 8 meses iniciais de 2024. Apenas os embarques de madeira bruta realizados pelas empresas mato-grossenses para o exterior geraram saldo de US$ 31,1 milhões este ano, até agosto.
O valor movimentado no Estado com as vendas externas deste produto é o maior do país para o período, segundo estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). Também foram faturados US$ 47,1 milhões com as exportações de madeira parcialmente trabalhada ou dormentes de madeira, no mesmo intervalo.