Ao contrário do que o setor produtivo prevê, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não acredita que Mato Grosso e o Brasil possam enfrentar uma crise no agronegócio nesta safra 2014/2015, como se viu na safra 2004/2005. Para o governo federal há muita diferença entre as duas safras, como é o caso das taxas de juros do Finame, por exemplo, que há 10 anos chegavam a 12,5%, enquanto hoje estão na casa dos 3,5% a 4,5%.
Em entrevista, exclusiva, ao
Agro Olhar o ministro da Agricultura, Neri Geller, durante breve passagem por Mato Grosso, na semana que passou, salienta que o governo federal está “alerta” para caso algo venha a acontecer.
Na visão do Ministério mesmo que a produção agrícola venha a ter redução, me decorrência do clima, a demanda é grande por alimentos. Além disso, os estreitamentos comerciais continuam, como é o caso da China e dos Emirados Árabes que em breve recebem uma missão do governo brasileiro para novos estreitamentos de “laços” comerciais.
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Confira a seguir a entrevista com o ministro da Agricultura, Neri Geller:
Agro Olhar - Como está o agronegócio no Brasil? A Aprosoja-MT anunciou estar prevendo crise em decorrência do clima, o plantio cresceu apenas 0,9% entre a semana passada e esta. O Paraná parando o plantio e Mato Grosso do Sul parado. Como o Ministério está vendo esta safra, esta situação?
Neri Geller - A questão do clima é preocupante. Temos regiões no país em que a chuva se estabilizou na segunda quinzena de setembro. Chuva bem regular, bem estável, o que fez com que os produtores começassem a semear e infelizmente agora estamos vendo está seca. Há uma perspectiva de chuva agora nos próximos dias e estamos acompanhando isso com bastante cautela e preocupação, mas não têm o que fazer. Isso depende de São Pedro e não do Ministério da Agricultura, mas nós estamos acompanhando isso sim. Graças a Deus conseguimos ampliar muito no Seguro Agrícola, passando de R$ 400 milhões para R$ 700 milhões convencionado pelo governo federal e isso é um alento, principalmente para o Planalto Gaúcho, Mato Grosso do Sul e aqui no Mato Grosso alguma coisa também, porém aqui temos uma estabilidade, as chuvas são regulares e a maioria dos produtores não querem fazer seguro, até porque ele mesmo sendo subvencionado pelo governo federal ele tem um custo adicional, porque o governo federal subvenciona 60% e em algumas culturas até 70%.
Com relação ao mercado internacional também houve uma queda no preço em função da superssafra anunciada pelos norte-americanos e também o crescimento na América do Sul, principalmente no Brasil e nos outros países vizinhos, que acabou gerando um crescimento acima da expectativa, portanto uma oferta maior do que esperava. Contudo, mesmo assim estou muito otimista. Tem uma superssafra, tem uma queda não muito acentuada no mercado futuro, mas o mundo inteiro continua crescendo o consumo. Isso é importante, porque ele pode ter uma queda no preço agora na próxima safra, mas há os investimentos maciços estão sendo feitos em logísticas com os mecanismos que estão sendo exercidos para a garantia do preço mínimo. O milho neste ano R$ 300 milhões, o algodão R$ 250 milhões, na citricultura em São Paulo R$ 120 milhões, no trigo R$ 350 milhões. Então o governo está fazendo muito para garantir o preço mínimo e uma renda mínima para o nosso produtor e em um futuro bem próximo, outras ações que estamos implementando muito forte, é a abertura de novos mercados para agregar valor à produção. Por exemplo, nós abrimos mercado para a China, abrimos mercado para o Japão na suinocultura e avicultura, nós abrimos mercado muito forte para o Irã na bovinocultura e tudo isso faz com que cresça e muito forte as exportações de carne e consequentemente os empresários brasileiros investem mais forte na agroindústria que acaba absorvendo boa parte da produção tanto de soja, do milho e do caroço de algodão para o consumo da agroindústria. Isto está muito pautado no Ministério da Agricultura, nós estamos trabalhando isso muito forte. O crédito, a comercialização, o seguro com as federações e com as associações, no caso de Mato Grosso a Aprosoja-MT, a Famato e também os Sindicatos, além de outras lideranças. Estamos bem alinhados com a agroindústria em São Paulo, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que hoje é liderada ex-ministro Francisco Turra, e dentro do Ministério nós temos uma agenda muito forte neste sentido.
Neste tempo em que estou como ministro nós fizemos muita coisa. Fizemos uma articulação bem feita na Rússia para preparar o mercado brasileiro. Foram habilitadas 107 plantas agroindustriais aqui do Brasil e se está avançando muito com a exportação da carne suína, da carne de frango. Nós abrimos mercado no Egito. Tudo isso graças ao trabalho do Ministério com o setor. Nós estamos muito próximos, tanto que eu tirei féria até segunda-feira (20) de cinco dias, porque eu retorno na terça-feira (21) por ter uma reunião com a agroindústria preparando uma viagem para a China e para os Emirados Árabes exatamente para consolidar esse mercado que está abrindo.
Agora eu tenho uma expectativa bastante positiva no sentido de ver que realmente com cautela agora para o ano que vem é importante que o produtor fique bem atento e uma outra questão que ajuda é o aumento do dólar. O aumento do dólar ele está tento impacto positivo no preço da nossa produção. Acho que isso aliado o que o produtor precisa ficar é atento e também não deixar tudo para o governo, não deixar tudo para a última hora. Se tiver mercado para fazer venda futura tem de travar e você conseguir fazer de forma equilibrada para cobrir os custos. Outro programa importante que está andando muito forte e o governo tem dado toda atenção é a questão da armazenagem. O Programa de Armazenagem estou muito feliz que ele está avançando muito e isso também ajuda para que o nosso produtor possa estocar essa produção se não vender bem no pico da colheita e ter aonde deixar esse produto. São ações muito articuladas. A cadeia está muito organizada.
Agro Olhar - Analisando está previsão de crise por conta dos fatores de preço, clima e custo de produção e comparando com a safra 2004/2005 podemos dizer que estamos bem mais organizados?
Neri Geller- Nem se compara. Você pega 2004/2005 as taxas de juros quanto que eram no Finame? 12%. Hoje, a taxa de juro de equipamento agrícola é de 3,5% a 4,5%, no máximo 5%. É tão baixo que o produtor não corre o risco de se endividar. Essa reflexão o produtor, as nossas lideranças aqui no Estado de Mato Grosso, devem fazer. Dizer que não foi feito nada no governo aí alto lá se comparar com o passado. O CDC para financiar uma colheitadeira era 13,95%. Você ia buscar um capital de giro um absurdo e hoje não. Todas as taxas de juros muito baixas. Quanto de recursos vieram com o preço mínimo e antes não vinha. Claro que é obrigação do governo, mas não vinha. O ano passado o preço do milho estava em R$ 7, R$ 8 e trouxemos quase R$ 2 bilhões aqui para Mato Grosso em Contrato de Opção, Pepro e AGF. Deu segurança para o produtor. É uma renda garantida para o produtor que o governo está fazendo e disso eu me orgulho como ministro, porque fomos nós que conseguimos. Aumentamos o orçamento e o recurso saiu no momento certo. Então, no Brasil os produtores estão capitalizados e organizados e tem um governo que estende a mão e que faz a sua parte. É só obrigação, mas no passado não fazia. Comparativo pode-se fazer e não vê. Então, muitos produtores quebraram, muitos produtores saíram da atividade. A economia em 2004, 2005 e 2006 estava exaurida, porque você vendia a produção, no caso da soja você vendia a R$ 13, R$ 14, enquanto o custo de produção era R$ 22 e o governo não fazia nada. Agora não, o custo de produção no milho é R$ 13 e se estiver abaixo disso o preço da saca o governo banca. É um bolsa família para a produção nacional. É importante o produtor refletir sobre isso e as lideranças. E o Brasil está mais preparado. A credibilidade no mercado internacional está consolidado. Hoje, os grandes centros consumidores estão vindo direto para o Brasil, não estão atravessando pelos Estados Unidos ou por Hong Kong como estava acontecendo. Hoje, o Brasil conquistou até pela estabilidade do fornecimento, pela segurança do fornecimento e também pela qualidade do nosso produto.
Agro Olhar - O senhor fala da questão do Pepro, da questão do leilão do frete para auxiliar no escoamento, o AGF. No caso do Pepro caiu de R$ 500 milhões para R$ 300 milhões. Pode vir a aumentar este valor para o milho?
Neri Geller - Ano passado tínhamos R$ 700 milhões e foi usado somente R$ 380 milhões. Eu sei o que estou fazendo. Dos R$ 500 milhões eu reduzi para R$ 300 milhões, porque nós entendemos que chega R$ 300 milhões. Porque vou ter uma portaria de R$ 500 milhões se eu vou usar só R$ 280 milhões, R$ 300 milhões. Já fizemos os estudos técnicos e nós entendemos que com o aumento do dólar vamos precisar de mais um ou dois leilões. Não vai precisar mais que isso. O mercado interno hoje também está aquecido. Há mercado hoje de R$ 13, R$ 13,50 para o milho. Não está abaixo do preço mínimo e eu tenho a responsabilidade. Tenho a CGU dentro do Ministério da Agricultura e nós vamos fazer tudo para garantir o preço mínimo e não para o produtor especular. Nós estamos muito atento e se precisar vai ter mais recurso, mas entendo que talvez não precise e se não precisar por que vou deixar um orçamento ocioso? Vou usar em outras culturas. Usei R$ 350 milhões para o trigo no Rio Grande do Sul, usamos R$ 250 milhões para o algodão. As políticas estão sendo bem articuladas. As lideranças aqui do Mato Grosso não tem com o que se preocupar com o valor. Elas têm de se preocupar em ter a garantia do preço mínimo. Eu tinha uma portaria de R$ 500 milhões, porque o dólar estava baixo, a previsão do mercado interno era não estar tão aquecido e quando vi que o dólar subiu e os estudos apontavam que eu não iria precisar deste recurso eu o tirei para usar em outras culturas. O país inteiro tem que ser coberto e estamos conseguindo. Não se fazia isso antes. Hoje, o produtor não pode reclamar. Não tem do que reclamar deste governo. Nós estamos fazendo muita coisa.
Agro Olhar - E a questão da pecuária? Hoje no caso da bovinocultura os preços estão altos, acima de R$ 110, no caso de Mato Grosso, a arroba, em São Paulo chega a quase R$ 120. Como que se está vendo os preços? A questão da suinocultura e da avicultura?
Neri Geller - Olha estou muito feliz e inclusive com a Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso) e queria externar isso. A Acrimat tem sido uma grande parceira do Ministério da Agricultura. A questão de abertura do mercado eles têm nos pautado, eles têm participado das reuniões. Essa abertura de mercado foi liderada pelo Ministério da Agricultura com a participação do setor e a Acrimat foi muito ativa nisso. Este reconhecimento é justo fazer, porque eles realmente nos ajudavam muito. Eles tinham uma demanda de 20 e poucos anos, por exemplo, que nós conquistamos neste ano que é fazer o financiamento com taxas equalizadas para a retenção de matrizes e aquisição de animais para confinamento. Em alguns casos, até cinco anos de prazo. Acho que este foi um avanço muito importante. Além de ter outros programas como o ABC (Agricultura de Baixo Carbono) para recuperar as áreas de pastagem degradada com linhas abaixo da inflação, o que traz, também, segurança para que este setor possa se incorporar a novas tecnologias. Temos que reconhecer que a pecuária está entrando agora na era da tecnologia e infelizmente no passado recente, diferente da produção de grãos, eles ainda faziam aquela pastagem extensiva, que demorava. Agora está acontecendo tudo de forma mais rápida e a pecuária tem incorporado e o governo tem feito a sua parte.
Agro Olhar - A questão do mercado internacional, nós estamos vendo pela balança comercial que o Brasil tem apresentado queda e no caso de Mato Grosso por hora não chega a 1% de crescimento. Como é que o Ministério está vendo esta questão das exportações brasileiras estarem em queda?
Neri Geller - Estes números têm de esperar. Eles não estão fechados. Não tenho nenhuma dúvida de que as exportações de valor agregado da bovinocultura, suinocultura e avicultura vão crescer. Se você conversar com os setores verá que todos estão satisfeitos com o que o Ministério, por que estamos fazendo um grande trabalho em parceria com eles, exatamente consolidando estabilidade do fornecimento e credibilidade, inclusive com relação a defesa. Mais uma vez o setor aqui de Mato Grosso foi muito participativo nesta questão da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecida como Mal da Vaca Louca, que ocorreu em Mato Grosso, por exemplo, o Ministério atuou rápido e em 30 dias tivemos uma resposta e tivemos a participação efetiva da Acrimat. Eles nos ajudaram muito, então nós estamos muito sintonizados, muito articulados. No geral, somando todas as cadeias produtivas, a queda seja em algumas culturas e talvez nesta época, porém há a queda nas exportações de milho, também, em função da superssafra norte-americana e isso sim tem um impacto.
Agro Olhar - Como é que o Ministério está vendo este relacionamento com a Rússia? Ainda é preciso ter bastante cautela?
Neri Geller - Muita cautela e o setor têm de ficar atento. O Ministério da Agricultura fez sua parte. O setor nos pautou, nos orientou. Agora precisa cuidado. Neste momento de crise da Rússia de relação com outros países nós precisamos estabilizar e conquistar estabilidade no fornecimento. Nós temos segurança na qualidade, nós temos estabilidade no fornecimento e agora tem de ter estabilidade também no preço. Não pode querer aumentar muito o preço e talvez espantar o mercado e facilitar que o mercado russo venha e reabilite as plantas barradas de outros países. O Brasil tem de ter cautela, a produção tem de ter cautela e o governo brasileiro está acompanhando isso de perto. Nós estamos conversando com o setor exatamente isso. A abertura do mercado russo teve a participação muito forte do Ministério e da presidente Dilma. Quando veio o presidente Putin para o Brasil, a presidente Dilma pautou muito forte esta discussão de abertura de carne para a Rússia, então foi uma conquista do setor com a participação e suporte do Ministério da Agricultura e a presidente Dilma pessoalmente falou para mim, me chamou, e disse 'ministro você conseguiu fazer um bom trabalho, nós ajudamos a fazer a abertura do mercado, agora chame o setor e coloque a responsabilidade. Nós não podemos queimar este mercado e aumentando preços'. E só tem uma forma de queimar o mercado que é se prevalecer nos preços num momento em que eles estão precisando. Tem de ter lucro, mas tem de ter uma visão e não se prevalecer no preço.