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Notícias / Pecuária

Inovação permite confinamento de até 70 bois com cocho de 4,2m

Rural Centro

Você acredita ser possível confinar até 70 animais em uma área de 10 metros de largura por 120 de comprimento? E alimentá-los sete por vez em um cocho de 4,2 metros? Você pode até franzir a testa e estranhar, mas este é o sistema utilizado na Agropecuária Piravevê, de Adélio Crippa. Para dar continuidade à série de reportagens sobre o Confinar 2012 - Simpósio Sul-mato-grossense de Confinamento de Gado (www.confinar.net), a Rural Centro viajou até a fazenda localizada em Angélica, interior do Mato Grosso do Sul.

O pecuarista, italiano, trabalhava no ramo de pesquisa para indústria no país europeu e teve a concepção da ideia quando chegou ao Mato Grosso do Sul. “Eu trabalho somente com razão. Nos meus negócios não tem lado emocional”, explica Crippa. Atualmente, a propriedade realiza o ciclo completo (cria, recria e engorda) da raça brangus e, de acordo com as condições climáticas - pois as chuvas podem atrapalhar o confinamento - termina em média três ciclos de 500 animais anualmente (1500 animais confinados/ano). "Quando eu comecei a estudar confinamento, eu percebi duas coisas: o animal sempre joga muita comida fora e também deixa muita sobra", argumenta o proprietário.

A estrutura construída e usada para confinar o gado da Fazenda Piravevê é algo raro de se ver no Brasil. O pecuarista italiano, que trabalhava no setor de pesquisa industrial na Europa, trouxe alguns ensinamentos para as terras tropicais e inovou sua terminação de novilhos precoces e superprecoces da raça brangus. São oito piquetes, quatro de cada lado de uma passarela elevada a cerca de 1,7 m dos cochos, por onde passa a carreta com silagem de sorgo misturada com concentrado de farelo de soja e milho. Cada piquete tem 10 m de largura e comprimento que varia entre 100 e 120 m, comportando em média 60 animais. O cocho, de 4,2m de largura com sete vagas de 60 cm é o que mais chama a atenção: por causa do revezamento, a média de espaço por animal é de 7 cm. Veja abaixo as características dessa estrutura:

- Sendo a passarela elevada em relação ao cocho, não há possibilidade do animal jogar a comida para fora, evitando desperdício;

- Como a estrutura é compacta (7 cm/animal) e o custo menor, o pecuarista investiu em construir coberturas para os cochos, ou seja, a chuva não prejudica a qualidade da silagem, permitindo ao animal alimentar-se sem interrupção;

- A telha da cobertura tem no centro seu ponto mais alto, fazendo assim com que a água escoe pelas canaletas para os lados do cocho e não caia sobre a traseira do animal;

- Dois metros atrás do cocho, uma tora paralela a ele fica suspensa a uma altura pouco maior que a dos animais e evita que haja sodomia;

- Compondo a parte frente do cocho, uma borracha flexível (dessas que ficam atrás de pneus de caminhão), evita o desperdício de alimento pelo fato de impedir que a comida caia do cocho pela parte da frente. Dessa maneira, o animal, no ato de alcançar a comida, empurra a borracha e o alimento estocado cai para o fundo do cocho;

- Acima dessa borracha, uma viga sustenta caibros cilíndricos, que dividem o espaçamento do cocho em forma de canzil. Assim, sempre há espaço lateral entre um animal e outro que come. Deste modo, o animal que quiser comer entra neste espaço, cutuca aquele que está comendo ao lado e toma o seu lugar, fazendo assim um revezamento. A prova que não tem restrição alimentar é o consumo médio por dia: de 2,8% a 3% do peso vivo do animal de MS/dia;

- Em volta dos oito piquetes, um bosque de eucaliptos fornece sombra e protege a área de confinamento dos ventos e chuvas fortes;

- Os tratos diários alimentares são três: 7h30, 12h e 15h, este último servindo três carretas de silagem (cocho cheio). Desta forma, sempre há alimento disponível (ad libitum) para que não haja interrupção na oferta de comida, nem durante a noite. O confinamento permite à fazenda terminar , com 18 arrobas aos 18 meses. “Meu produto não atende ao pecuarista (eu), atende quem compra, que é o frigorífico”, diz Adélio Crippa. O capataz geral da Agropecuária Piravevê, Joaquim Antônio Pires, afirma que a estrutura facilita o trato e não esquenta a silagem, que permanece saudável por mais tempo e não é desperdiçada. “Em mais de 50 anos trabalhando com boi, eu nunca tinha visto uma estrutura dessas”, completa o boiadeiro.
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