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Notícias / Pecuária

Crescimento da população põe em xeque produção de carne bovina

Andriolli Costa / Rural Centro

Como será o futuro da pecuária no Brasil e no mundo? Responder a esta pergunta é um desafio arriscado que envolve análise de dados, prospecção dos erros e acertos passados e avaliação cuidadosa do presente. Foi a isso que se propôs o médico veterinário Luciano Roppa. Ele, que é presidente da LROPPA Consulting, apresentou a palestra “Panorama mundial da produção de carne bovina” para uma plateia de cerca de 700 pessoas durante o Circuito Feicorte NFT 2013, em Palmas, Tocantins.

“Nos próximos dez anos teremos um aumento de 75% na população, sendo 88% só na África e na Ásia”, afirma Roppa, citando dados da FAO. “São lugares onde a produção não tem muito para onde se desenvolver, especialmente pelas grandes áreas de deserto que ocupam estas regiões”. Neste mesmo período, as estimativas são de que o consumo mundial de carne aumente em 54 milhões de toneladas, incentivado por uma melhoria crescente no poder de compra da população. O resultado será um mercado com grande demanda e oportunidades de negócios para importação.

No entanto, apesar destas perspectivas positivas para o futuro, é preciso estar preparado para atender as necessidades deste mercado contornando grandes desafios. Para Roppa, uma das grandes preocupações será a variação do preço dos grãos utilizados para a nutrição animal. “Os Estados Unidos, para diminuir sua dependência do petróleo importado, passou a investir no etanol feito a partir do milho. Hoje, eles destinam 40% dessa produção, cerca de 120 milhões de toneladas, apenas para a produção de etanol”. Para fins de comparação, a expectativa da safra de milho no Brasil em 2013, segundo o veterinário, é de 74 milhões. “Quando um grande produtor toma uma decisão dessas, isso afeta o mercado inteiro”, expõe Roppa. O preço dos cereais, nos últimos 13 anos, subiram 189%. Por sua vez, o leite subiu 110% e a carne bovina 84%. “Se um sobe mais do que o outro, isso significa margens menores para o produtor. Com margens menores, temos que ser mais eficientes”.

Outra das grandes preocupações do setor não são necessariamente responsabilidades da administração “de dentro da porteira, mas sim da de fora”. Roppa chama a atenção para a infraestrutura de armazenamento, que não deve ser suficiente para suportar a colheita brasileira neste ano e para a qualidade das formas de escoamento da produção. “Na próxima década, para escoar 100% da safra do País seriam necessários investimentos na ordem de R$ 133 bilhões em rodovias e ferrovias”, calcula. Um exemplo dos problemas causado pela dificuldade do escoamento pode ser visto em comparação. “Para levar uma tonelada de alimento de Sorriso/MT para o porto de Santos e depois para a China você gasta US$ 170. A partir da Argentina esse valor cai para US$ 100 e dos EUA para US$ 70”.

O Futuro está na Qualidade
De acordo com dados da USDA (United States Department of Agriculture), a Índia deve superar o Brasil em quantidade de carne importada em 2013. O País deve atingir 1,7 milhões de toneladas comercializadas, contra 1,6 milhões do Brasil, o atual líder mundial de importações. Os negócios são feitos não utilizando a vaca, sagrada no País, mas sim o búfalo. Outra diferença, segundo Roppa, é o posicionamento assumido pela Índia no mercado da carne. “Eles optaram por produzir uma carne barata, de baixa qualidade e baixa sanidade. O Brasil não pode assumir essa mesma estratégia para tentar competir em termos de preço. É preciso investir em qualidade”.

A pecuária do futuro, para Roppa, não será aquela com uso cada vez maior de novas tecnologias, mas sim com a boa aplicação das tecnologias já disponíveis. Uma pecuária com um calculo adequado das métricas da produção, para saber onde investir, e com valorização da gestão de pessoas e da sustentabilidade. “Qualidade, garantia e segurança são o caminho. Nós estamos na atividade certa e no momento certo”, assegura o palestrante. E garante: “A pecuária do futuro está no Brasil”.
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