Opinião
Dança dos mascarados de Poconé
Autor: Licio Antonio Malheiros
13 Jun 2019 - 08:00
A manifestação cultural de um povo deve estar arraigada a sua origem e tradições, pois um povo sem história é um povo sem vida. Cada cidade traz em suas entranhas, traços culturais próprios, que lhes são peculiares. As manifestações culturais de um povo devem ser mantidas e respeitadas, para que as gerações futuras possam levara adiante estes traços culturais, que denotem sua origem.
A cidade de Poconé, descoberta por Luiz Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, em 1777, cidade esta, que surgiu em função da existência de ouro, fator atrativo de populações.
Seu primeiro nome foi Beripoconé, este nome adveio de uma tribo indígena que habitava a região. Em 25 de outubro de 1831, acontece o Decreto Geral do governo regencial que cria o município, junto com os limites políticos atuais, com denominação de Vila de Poconé. Somente em 1 de julho de 1863, Poconé recebe o estatuto de cidade via Lei Provincial.
Este ano, fui agraciado com convite para assistir a uma das manifestações culturais mais bonitas por mim presenciadas, evento este, que aconteceu na cidade pantaneira de Poconé. Uma manifestação folclórica, denominada Dança dos Mascarados de Poconé.
O evento acontece à frente da Igreja Matriz, a população se aglomera a espera da chegada da banda que é maravilhosa, além dos mascarados, que chegam dançando de forma harmoniosa e sincronizada.
Quando adentrei ao espaço reservado à plateia, observador que sou, além de achar tudo perfeito, não apenas em termos de organização, como também a educação da paleteia que se manteve em ordem e expectativa, eles que já estão acostumados com esse evento, vibravam, imagina eu, que pela primeira vez estava assistindo.
Em termos de estrutura física e ornamentação, de tudo, o que mais chamou a atenção foram às luzes, que num primeiro momento, pareciam velas acesas, parecendo estar rodando, na verdade, não era velas comuns as industrializadas.
Tratava-se, de iluminação proveniente de sebo bovino, chamadas luminárias, o centro delas, é feito com algodão; segundo os antigos, essas luminárias eram bentas, tendo como objetivo, acalmar tempestade em tempos chuvosos, ou eram acesas em altares dos Santos.
O momento mais esperado por todos, dança dos mascarados, dança esta, realizada apenas por homens, em número de 8 a 14 pares separados por dois cordões: de um lado, os homens, vestidos de mulheres, que fazem o papel das damas, e do outro, homens que fazem o papel de galanteadores, tudo dentro de um sincronismo perfeito.
O momento mais esperado aconteceu, quando os dançarinos em número expressivo, dançando segurando fitas coloridas, acopladas a um mastro trazendo na ponta dele, uma bandeira de São Benedito.
Finalmente, eles dão início à coreografia que é de dar inveja a qualquer um, dançando de forma harmoniosa, sincronizada, enrolam as fitas nesse mastro, num sincronismo perfeito, muito bonito mesmo, fiquei perplexo com a desenvoltura dos mesmos, dançando faziam com essas fitas uma espécie de cerzimento nesse mastro, tudo perfeito, algo realmente inimaginável de ser feito daquele jeito, essa dança, é originária da miscigenação das tradições indígena, africana e europeia.
Professor Licio Antonio Malheiros é geógrafo.