Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Samba: amor de ontem, hoje e sempre

É um caso de amor antigo: eu e o Samba. Ao contrário de outros amores, que a gente não tem como garantir, esse amor eu sei que estará comigo até o fim. Começou ainda adolescente, com aquelas vezes em que fiquei de castigo por estar até tarde na rua de casa batucando com os amigos. Quase com 40, são raríssimas as coisas que não trocaria por um samba. 

Sem essa de baladas: basta um lugar para ficar com a turma, o pandeiro, ganzá e um tamborim pra ajudar a marcar, já estou em casa. Faz um longo tempo que parei com lugares badalados. No meu grupo não compactuamos mais com algum lugar dedicado ao volume alto. No samba não tem essa. Encontro argumentos bem fundamentados para rebater quem tiver a audácia de falar mal dele na minha frente.

No mundinho criado pela minha mente e do meu amigo Marcelinho, em modo aleatório, um dos principais requisitos a ser preenchido nas fichas de inscrição distribuídas na entrada do Céu é quanto ao gosto pela maior das linguagens musicais desse mundo. Aqueles que não louvassem o gênero sagrado passariam a eternidade ardendo no fogo do inferno por tal pecado: não ir ao samba por mais de sete dias.

Parei de agendar com antecedência porque comecei a ir ao samba após um dia estressante, depois para rabiscar o salão, antes do jantar com a família, aquele na companhia dos amigos, outro pra soltar a voz, até perceber que ia ao samba até para ir ao samba. Sozinho, assim como Rodrigo Mendes, que me confirmou essa tese. Aliás, ele criou uma espécie de tour nos fins de semana. Começa às 9h33 do sábado e costuma parar às 5h12 de domingo, na Feira do Porto, compondo mais um samba. 

Há uma divisão básica sobre as pessoas que conheço, está quase pra uma definição de caráter: as que gostam de samba e as “ruins da cabeça e doentes do pé” (e não fazem a menor ideia do que estão perdendo: ou são malucos e deveriam procurar um especialista o quanto antes. Deve ser algum problema sério. Eu, hein!).

De acordo com uma teoria não comprovada, criada por esse sambista que escreve essas linhas, os amantes do samba tendem a ser menos viciados em eletrônicos, o que ajuda a evitar, entre outras coisas, problemas de visão. Além do mais, conhecemos gente muito mais interessante com um tamborim na mão e um sorriso no rosto do que segurando os tais halteres. E não estou nem aí para o crescimento involuntário da barriga, causado pela junção do maior representante da música popular brasileira, com talvez, a maior bebida de todos os tempos: a cerveja! Segundo nosso atleta Raoni Ricci, outro motivo para visitar a academia que não seja conseguir um crédito maior na saúde para compensar os vários brindes durante a roda de samba seria uma desculpa esfarrapada.

Quando alguém comenta de um novo relacionamento com a conselheira amorosa Larissa Padilha, reclamando que a outra pessoa é chegada a “um sambinha”, minha cabeça frita, pois não sei qual o defeito em ser brasileiro. Ela já salvou nos favoritos de todos os navegadores possíveis algumas  milhares de pesquisas falando sobre esse jovem centenário senhor Samba, para mostrar os sem futuro, enquanto chora o cavaquinho. Os que sempre preferem o samba elitizado, de cadências duvidosas, mas mais aceitos pelos grupos, também tem meu respeito.

É impossível não gostar de um samba raiz, partido alto, enredo, afrosamba. Que lindo que as rodas de samba estão mais democráticas e agora mulheres e homens se renderam a uma das grandes verdades da humanidade: samba é samba, e vice-versa, num “ritornelo” infinito e além. Por mim, andaria num carro alegórico, no porta-malas cavaquinho e pandeiro, trabalharia no fundo do quintal, e acordaria com o galo cantando: “Alô Comunidade”!

Quando se trata de quem ocupa o primeiro lugar entre as melhores linguagens musicais, seu primo, o pagode, até rivaliza um pouco, mas nesse mundo do samba não trabalhamos com preconceitos, senhora! E é toda essa liberdade e democracia que o samba traz consigo, que eu desejo enaltecer nesta data (02 de dezembro) em que se comemora o Dia Nacional do Samba. Nada mais justo do que ter uma data para celebrar esse grande símbolo da nossa cultura, que embalou e embala tantos momentos de nossas vidas. Viva o samba! Com ele estou casado e é pra sempre.

*Músico educador e apresentador. Articulista do Olhar Conceito e cronista no Cidadão Cultura, atualmente comanda o “Capital no Samba” e o “Disse me Disse” na Rádio Capital. Também apresenta o Ficha Técnica, na Radio Assembleia. Está frente do programa “Palavra Literária”, produzido pela Monkey Filmes e exibido pela TV Assembleia.
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