Olhar Direto

Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Opinião

Vítimas urbanas do desapego social

Um crescente número de pessoas está em condição de rua por não aceitarem as regras e conceitos que a população social defende como padrão de vida. São homens e mulheres que já desapegaram da família por não concordarem com as determinações dos membros familiares em virtude dos costumes ou tradições que afugentam ideias e alternativas de vida diferente. São humanos independentes que acreditam na transformação como forma de relacionar-se com os semelhantes, porém desprovidos do conforto e da segurança que a sociedade padronizada articula como padrão de vida coletiva.

Em síntese, são pessoas, cuja vida está dilacerada, ou seja, entregue ao mundo imundo dos desacreditados. Dentro disso, o que a sociedade pode ou deve fazer para que esse problema social seja, enfim, resolvido, no sentido de promover melhores condições para que essas pessoas possam ter o mínimo de dignidade, uma vez que muitos dos seus direitos são usurpados? A resposta é o preconceito e a distância que os sociáveis instituem para eximirem de qualquer culpa. Qualquer que seja as medidas solucionativas serão de obrigação do poder público, porque a sociedade tem como defensiva a administração pública que tem a prerrogativa de proteger e promover o bem estar social.

O que sobra, nas ruas, são resquícios do maldito vício da intolerância que destrói famílias e adeptos fraternos da comunhão de seres semelhantes e compromissados com o que a vida tem de melhor: amor e paz! Essas sobras são como cerne que perturba e tira o sono daqueles que acreditam que o poder é algo prazeroso e salutar e que desconhecem que o simples gesto de um abraço é mais importante que a senha de uma conta bancária. Esses estão na contramão da vontade e da ânsia do novo; do transformador. São pessoas que, ainda, não conheceram a dor do desprezo que atropela sonhos e tira o mínimo de dignidade de quem já sentiu, na pele, o desgaste de noites mal dormidas; de insônias.

O vento que sopra da direita livra sonhos e verdades enclausuradas no coração aflito dos que almejam mudanças, no sentido de promover melhorias que atendam desejos contidos na imaginação fértil dos que já alcançaram o conhecimento como alternativa para um futuro promissor. É o mesmo vento que alivia o calor da clausura provocada pela rejeição da expressão libertadora que promove a capacidade de interlocuções entre os que acreditam e defendem a vida livre na esfera da sociedade promotora do livre arbítrio e da garantia de direitos.
 
Felizmente, há uma grande massa que, ainda, consegue perceber as mazelas produzidas pelos sociáveis. Os mesmos que reprovam e recriminam uma significativa parcela de pessoas perdidas e abandonadas por acreditarem em sonhos contidos na esperança de um futuro melhor. Essa massa está no meio da briga incontida entre povo e Estado, porém com a ávida sensação de mudança, no sentido de aproximar pessoas e poder público, a partir da comprovação de estudos e pesquisas que apontam a destruição social pela inoperabilidade da ânsia exacerbada pelo poder que mantém as pessoas dominadas pelas inverdades e promessas absurdas proclamadas, somente, no ambiente virtual das redes sociais. 

Defender as pessoas que acreditam no desapego social pode soar como atitude que permeia o absurdo, porém é importante destacar que a clausura social mantém muitos na dependência de uma verdade que somente promove insatisfação, mas que é capaz de manter unida uma grande parcela de pessoas, cuja índole é conservadora. Isso, não é promoção ou articulação para uma forma diferenciada de vida, mas é, também, uma fuga desmedida, no sentido de estimular novas ideias que acrescentem coisas boas para que a sociedade entenda que há dois lados distintos na promoção do bem estar social, mas que dependem do inchaço social, no sentido que fortalecer qualquer um dos lados na expectativa de mudanças significativas para a segurança e o conforto da vida social.

O morador de rua é, hoje, o mesmo membro social que, em tempos remotos, defendia a soberania social, a partir da liberdade de expressão que o mantinha em igualdade, no sentido de participar do processo de cidadania que o assegurava pelos direitos e deveres constitucionalizados, mas que, de repente, agora, parece estar em julgamento. Isso não é mera expectativa, é sim manobra política para exigir deveres que fogem da alçada do poder público, mas que é da vontade de muitos dos gestores que estão no poder. Porém, o morador de rua não está na berlinda, ele é o protagonista de uma história que ultrapassa séculos e sem esperanças de um final feliz. O morador de rua é o expectador da exibição do filme da verdade que está em cartaz no cinema da vida, porém sem ingresso para assistir.

É imperativo destacar que os membros sociais estão livres às escolhas, por isso têm alternativas e opções de vida. Nesse caso, a pessoa que escolhe estar em situação de rua deve arcar com as consequências que essa forma de vida pode proporcionar, mas a vida social, dentro das determinações legais, as quais mantém a sociedade em consonância, proporciona benefícios que são estendidos a todos sem distinções, até mesmo para os que escolhem morar nas ruas. Contudo, há pessoas em situação de rua padecendo sem a mera assistência que, constitucionalmente, é prerrogativa, tanto do poder executivo municipal, como estadual.

Então, ao desapegar do social, as pessoas se tornam vítimas urbanas, pois o apego social é a cumplicidade entre sociedade e poder público como forma de convívio para o estabelecimento da ordem que faz as pessoas inter-relacionarem, a partir da legalidade que assegura o compromisso das relações sociais como responsabilidade para assegurar o direito de viver socialmente.
 
Valdir Rozeno É Funcionário Público Estadual e Mestrando do Curso de Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE da UFMT.



 
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