Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

O fim do Estado e a era das reformas

Quem já não ouviu a frase “é mais fácil construir que reformar”? Isso se explica pelo fato que a palavra reforma significa alterar estruturas já existentes e que envolve pessoas instaladas dentro do espaço de trabalho (demolição reconstrução).

Reformas que envolvem legislação significa alterar situações que afetará algo ou alguém que em dado momento foi ou ainda é beneficiado pela velha estrutura a ser desmontada. É uma  ruptura dos velhos conceitos  da coisa pública, e ai o novo enquadramento  gera  desconforto e inconformidade.

O Brasil vive um momento que exigem reformas, uma vez que a dinâmica do tempo e a evolução das relações sociais e políticas deterioraram o modelo de Estado vigente. Na falta de um outro modelo, faz-se necessário reformar o atual para que ele tenha uma sobrevida até encontrarmos uma outra forma de se constituir relações entre o convívio com aquilo que é público e o dito poder público.

A Constituição atual foi feita no término de uma era, lá no final da década de 1980, e um pouco antes do mundo mudar completamente sua geopolítica. Fim da Guerra Fria, morte das ideologias pragmáticas e início da era tecnológica que revolucionou a comunicação no mundo.

Um mundo estava acabando e um outro por vir. Construímos tudo como se o tempo fosse estático e a década de 80 fosse eterna. A profecia se concretizou; “1999 chegará, mas de 2000 não passará”. E não passou. O celular, a internet e os apps revolucionaram as relações, encurtaram distâncias e separaram pessoas, matando a força do “Estado Político” por asfixia digitalizada (construção e desconstrução da informação).

Agora sabemos que o mundo acabou a mais de duas décadas, mas as pessoas que estavam lá não desapareceram; sobreviveram e não perceberam o fim dos tempos e por isso ainda vivem sob o estigma do velho mundo findado e em confronto com as novas exigências. Por isso somos uma forma inacabada de relações entre o passado e o futuro. Somos gente do presente sem nada para apresentar. Por isso o presente é vazio e conflitante.

Alguns tem somente passado, outros somente futuro. O presente padece de solidão e sofre de todas as incertezas. Difícil compreender como funciona este novo momento da humanidade para quem só tem passado. E esta novo “Ser” que surgiu não entende que não se constrói futuro sem ter presente.

O conflito entre os interesses do “individuo” e do “coletivo” se instalou de tal forma que os direitos individuais e os direitos coletivos já não cabem mais no mesmo espaço físico. Daí a explosão de insatisfação (passeatas e protestos). Somos capazes de nos unir no que não queremos, mas nos tornamos inimigos naquilo que queremos (os desejos são difusos demais).

O Brasil, mais que a maioria dos outros países, precisa de profundas reformas.  Há quedas significativas, desigualdade econômica e social, baixo investimento em infraestrutura e educação, endividamento da máquina pública, altas taxas de impostos, corrupção regulamentada, muita gente na cadeia e mais gente precisando ser preso. Como fazer se todos os interesses são difusos?

Nas reformas, a “demolição” é certa, mas a reconstrução será incerta se os interesses não convergirem!

João Edisom de Souza é professor universitário e analista político em Mato Grosso.
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