Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

Carta aos navegantes (já que insistem em dizer que estamos no mesmo barco)

Nesse momento, um casal discute. A mulher diz que vai sair de casa, que Bolsonaro tem razão. São meus vizinhos e vizinhos de milhões de brasileiros. Meu bebê chora e eu tento convencer meus pais idosos a não saírem de casa.  Chegamos ao limite dessa situação e não acredito que sairemos dela com meias palavras. É preciso dar nome às coisas.
               
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem orientações sobre essa pandemia e o mundo todo está se mobilizando para evitar mortes. Ao politizar o tema para manter sua plateia ideológica, tanto os imbecis que ficam insinuando que a China é a responsável pelo vírus como os que ficam fazendo manifestações de rua, colocam-nos em risco. Eles prejudicam as relações internacionais em um momento delicado, dispersam a atenção de nossas prioridades e espalham o vírus por aí nessa marcha da irracionalidade.
               
Nem um cientista sério no mundo todo e nem a OMS definem o vírus com "chinês". Isso é uma construção ideológica; esta parte da constatação de onde foram identificados os primeiros casos, o que não é um critério. Nem a gripe espanhola era espanhola e nem essa é chinesa. O filho do Bolsonaro e seus apoiadores, sua plateia, precisam manter o clima de guerra contra algum inimigo para dispersar as fragilidades desse governo, custe o que custar... "que seja a vida de alguns", como disse o sujeito.
               
Os Jogos Olímpicos foram suspensos, porque há uma crise real e não uma "fantasia", como disse o presidente. Além de ir na contramão do próprio Ministério da Saúde e de todos os governadores, inclusive dos que o apoiaram, ele agora insinua que pessoas de idade que praticaram esporte durante a sua vida vão pegar no máximo um resfriado. No momento em que estamos nos esforçando para cuidar dos nossos avós e pais, ele crítica o isolamento social. Como disse ele mesmo, "contra tudo e contra todos".
               
Isto não é razoável. Por isso, não sejamos agradáveis e polidos com a imbecilidade; isso precisa parar. Estou me esforçando para auxiliar meus pais idosos e cuidar do meu filho recém-nascido e somos milhões por aí tentando.
               
Nas ações econômicas, esse governo bizarro já propôs até cortar salários enquanto todas as orientações no mundo inteiro são de ampliar a proteção social, devido à fragilidade das famílias nesse momento. Isto é óbvio! A situação aqui já passou dos limites. Os trabalhadores informais, e mesmo os celetistas, estão passando o "pão que o diabo amassou". Já basta, não dá para ser polido, agradável e cheio de etiquetas.
               
O casal (meus vizinhos) continua brigando e os argumentos bizarros de Bolsonaro são utilizados. Não foi só um pronunciamento de um lunático, ele vai alcançar muita gente e vai levar pessoas às ruas em meio à crise de saúde. Alguns empresários vão aplaudir, pois " é isso, vamos salvar a economia". Muitos deles  têm dinheiro para viver muitas vidas e as vidas dos demais valem pouco para esses canalhas. É o caso do Senhor da Havan, que não paga nem o impostos que lhe são devidos.
               
O casal continua batendo boca, meu bebê chorando, meu pai achando exagero (ele tem 71 anos). Já pensou se os idosos que sempre cuidaram da saúde se inspirarem na fala do presidente!? Vão acreditar que, no máximo, pegarão um resfriado! Entendem o que estou dizendo? Foi a palavra do Presidente da República!
               
Muitos jovens que podem ser portadores assintomáticos do vírus vão seguir o que ele disse. A confusão continua aqui, entre meus vizinhos e um deles diz: "Eu vou sair. O Bolsonaro tá certo. Eu não estou no grupo de risco".
               
Não vou ser elegante, meus amigos e minhas amigas, é hora de barrar os imbecis, orientar os desorientados, garantir proteção social aos mais frágeis... e tratar crime contra a saúde pública como crime.
 
Fernando Viana é professor de História do IFMT - Campus Avançado Guarantã do Norte e membro da Diretoria do SINASEFE MT (Gestão 2019-2021).
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