Olhar Direto

Terça-feira, 16 de abril de 2024

Opinião

Quarentenem-se!

Ao ouvirmos a palavra quarentena, logo remetemos a pensar no período religioso chamado de Quaresma, nos 40 dias que espiritualmente propomos através de jejum alimentar, do álcool, ou participar de festas religarmos com preceitos de nossa crença. Também nos lembram as mulheres recém paridas que realizam a quarentena em prol do seu restabelecimento físico e dos cuidados com o recém-nascido. Ainda para quarentena atribuímos os dias nos quais o enfermo necessita para se recuperar, e é sobre este conceito de quarentena que o mundo parou, refutando muitas vezes a aceitá-la como remédio para frear vírus ou bactérias desconhecidos do corpo médico e científico.

O caminhar da humanidade e sua polarização pelo mundo fez com que a caixa de Pandora das enfermidades se abrissem, doenças contagiosas rondaram a Idade Antiga, epidemias como: a praga de Atenas, (429-326 a.C.), a Peste de Antonino, (165-180 d.C) e a Peste de Justiniano, (541-544 d.C), aceiraram os impérios greco-romanos, e dizimaram milhares de vidas.

Na Idade Média, a mundialmente conhecida Peste Negra, dizimou quase metade da população europeia, e nesta somatória de mazelas do Velho Mundo, temos as Grandes Pragas de Milão (1629-1631), Londres (1664-1665) e Marselha (1720-1722). Para além da Peste Negra, em solo europeu, no Novo Mundo Epidemia de Cocoliztli no México, (1545-1548 e 1576-1580), ceifando a vida de milhares de astecas.

Na Idade Moderna nove entre cada dez mortes eram por doenças infecciosas, a sífilis, tuberculose, sarampo, varíola, lepra tornaram-se grandes vilãs da mortandade. Estudiosos, cientistas, e pesquisadores da medicina debruçaram-se em seus parcos estudos a entender e desvendar tais doenças e consecutivamente encontrar cura.

E a quarentena se fez presente!

A Idade Contemporânea, trouxe consigo as grandes revoluções que vão das industriais, às tecnológicas, científicas, comportamentais, sociais e religiosas. Trouxe junto as concepções de epidemias e quarentena que se entrelaçam na busca do resultado de doenças infecciosas como o vírus, que diga-se de passagem surgem novos de tempos em tempos, e demonstram a fragilidade do corpo humano diante do desconhecido.

Refrescando nossa memória curta, na contemporaneidade, temos nas seguintes pandemias a difusão da impossibilidade científica de atender a contenda do surgimento de um novo vírus, a Pandemia de Cólera, do século XIX, a Gripe Espanhola de 1918, a Gripe Asiática (vírus H2N2) de 1956, a Gripe de Hong Kong (vírus H3N2) ocorrida entre os anos 1968-1970, no surto do SARS, 2002-2004, na Epidemia de Ebola, 2007/2013-2016 e no Covid 19, atualmente.

E nestas e em outras epidemias e pandemias que não citamos aqui, a quarentena se fez presente.

Pensar nas epidemias que já sopraram seu vento negro sobre a Terra, é repensar sobre a atividade humana como um todo, este cenário que nos é imposto através da quarentena é sobretudo mediador de novas concepções comportamentais, a vida tão singular e individual agora é coletiva, o pensar no outro, dar fôlego ao meio ambiente são para o hoje atitudes que fizeram às sociedades de outros tempos! É tempo de quarentena pelo bem comum.

O mundo parou tantas outras vezes, caiu ajoelhado pedindo clemência aos seus deuses. As civilizações em outros tempos, entraram em quarentena, e nestes tempos sombrios, estamos em quarentena, recolhemos a nossa insignificância humana para combater o invisível mortal.

Quarentenar-se, como em outros tempos, como nunca, como agora!




Lidiane Álvares Mendes, é mestra em História pela Universidade Federal do Amazonas. Professora da rede pública e privada de educação em Mato Grosso.
Contato por e-mail: lidianemendes2@hotmail.com



 
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