Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

O ministério sem Moro

O grande acontecimento na política nacional da semana passada foi o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e a resposta do Presidente Jair Bolsonaro na sexta-feira. Há várias dimensões a serem trabalhadas neste acontecimento. Vou me concentrar mais nos aspectos políticos, deixando os jurídicos para os especialistas.

Primeiro, a reação de Bolsonaro ao convocar uma fala com todos os ministros só demonstra a dimensão política e simbólica de Sérgio Moro. Ele era o ministro de melhor reputação e popularidade do atual gabinete, gerando tensões com o chefe desde o começo do mandato por conta disto. E aquela fala só reforça a sua grandeza. Não tenho memória de outra ocasião em que um presidente da República tenha reunido todo o seu gabinete para comentar a saída de um ministro e responder às suas acusações.

Era preciso reagir, porque quem cala consente. Mas outra estratégia seria mais adequada. Em política só precisa demonstrar força quem é fraco. Isto apenas confirma que Moro é encarado, de fato, como um presidenciável em 2022. É a única justificativa para esta mobilização toda e os debates diretos no Twitter entre Bolsonaro e ele. Ficou uma sensação em amplos setores da mídia e da opinião pública de uma deterioração política acelerada do Governo, gerando comentários de impeachment, renúncia e até algum tipo de ruptura institucional. Foi um ato de personalismo junto aos demais ministros.

Segundo, com a saída de Moro o Governo perde seu grande fiador ou avalista da agenda de combate à corrupção e também da segurança pública. Sua liderança na Operação Lava Jato e junto ao Ministério Público, Judiciário e na Polícia Federal permitiram que ele se tornasse o principal ícone nesta área no Brasil. Sua aceitação do convite para compor o ministério reforçou a aliança entre duas tendências políticas fortes que levaram à eleição do atual presidente. O lavajatismo e o bolsonarismo.

Terceiro, a maior parte dos apoiadores da Lava Jato tornaram-se eleitores de Bolsonaro, tendo o sentimento anti-Lula como o grande aglutinador. Uma vez no Governo começou a haver tensões entre esses dois vetores, pela pouca ênfase dada à agenda anti-corrupção. Ademais houve concessões feitas por conta das situações envolvendo a campanha eleitoral e os filhos do Presidente, que geraram muitas críticas de quem esperava mais daquilo que foi o principal eixo da vitória de Bolsonaro.

Sem o aval de Moro fica, deste modo, um vazio importante nesta área. Uma forma de reequilibrar é com a forte presença de militares no Governo, já que eles gozam de um bom conceito junto ao eleitorado nessa área. Mas isto apenas não basta. É preciso ter uma agenda clara para as políticas de integridade na administração pública e para o andamento das operações da Política Federal. E a estratégia política para viabilizá-la.

Quarto, a negociação com os partidos do chamado Centrão cria mais uma dificuldade neste sentido, diante dos problemas que os quadros deles têm nesta matéria. A aproximação com figuras tipo Valdemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, sobreviventes do mensalão e investigados na Lava Jato, exigirá muito para não perder o discurso de um Governo duro no combate à corrupção.

Quinto, Moro saiu fortalecido do cargo. Conseguiu manter sua reputação anterior e ainda agregou os bons resultados obtidos na área de segurança pública, como a redução da criminalidade. O capital político de que dispunha foi ampliado e o deixa cacifado para uma eventual candidatura presidencial ou a outro cargo político na próxima eleição. Isto combinado com uma atividade empresarial, focado na área de políticas de integridade.





Vinicius de Carvalho é gestor governamental, analista político e professor universitário.


 
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