Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

Como a ansiedade pode estar conectada ao auto-ódio

A entrevista de emprego agendada para amanhã, a palestra na frente de centenas de pessoas desconhecidas, o produto dos sonhos que demora uma eternidade para chegar, o prazo do TCC prestes a expirar, o encontro romântico acompanhado de borboletas no estômago... Muitas são as razões de nossas ansiedades, e nos sentimos tentados a dá-las um foco ostensivo que nos preenche de preocupação. Suou frio aí?

Vamos tentar uma abordagem diferente. Iniciemos nossa reflexão num lugar distante das nossas ansiedades; nessa introspecção, sintamos bondade e respeito por nós mesmos, a fim de ultrapassarmos as barreiras objetivas de nossas preocupações e girarmos os holofotes para o verdadeiro conteúdo da conversa: como o ansioso se sente a respeito de si mesmo.

Pode parecer inacreditável, mas um dos motivos para que alguns sintam intensa ansiedade é o ódio por si mesmo. Certas pessoas cresceram com a ideia de que não deveriam gostar muito delas mesmas, e são exatamente elas que correm um risco acima da média de sofrerem fortes ataques de ansiedade. Na mentalidade forjada no “não-amor”, o sujeito desacredita que seja merecedor de afeto e segue, por uma indução de covardia, um mundo instável e prestes a desabar sob risco de que alguém virá para puni-lo por ser indigno. Às vezes, a preocupação não se encontra propriamente na entrevista de emprego, e sim na suposta narrativa de que as pessoas podem estar rindo pelas suas costas durante ela; que logo após ser contratado alguém virá para despedi-lo; que alguém aparecerá do além, durante seu expediente, para intimidá-lo ou rejeitá-lo etc. A lógica dos ansiosos é a de que se as coisas estão indo bem alguém perceberá que são errados e não merecedores da bondade, e, por isso, no silêncio... BOOM! A punição chega.

Aqueles que odeiam a si mesmos interpretam a ansiedade como uma antecipação preventiva da dor, a qual inconscientemente sente que merece. De acordo com Melvin Lerner (pioneiro no estudo psicológico da justiça), acreditamos que as pessoas recebem o que merecem.

Portanto, não é conveniente a pessoa que odeia a si mesma acreditar que coisas ruins deverão e acontecerão com pessoas ruins, como elas?
 
Nem sempre a maneira como pensamos está clara ou coerente. É difícil identificarmos quando sofremos verdadeiramente de estima baixa. Odiar a si mesmo, ainda que em confidência com a própria consciência, tornou-se uma segunda pele em nossos tempos, em que devemos sempre corresponder às expectativas de nossas mídias. Precisamos perceber o problema e combatê-lo. A tristeza que acompanha a elucidação nada mais é do que o prólogo de seu tratamento; dito isso, sugiro algumas perguntas para fazer a si mesmo. Seja sincero nas respostas e, se sentir que seja adequado, compartilhe-as comigo no privado.
1) Em termos gerais, gosto de mim exatamente como sou?
a. Concordo totalmente
b. Concordo
c. Não concordo nem discordo
d. Discordo
e. Discordo totalmente
 
2) As pessoas deveriam ser, ao menos, gratas por me tê-las em suas vidas?
a. Concordo totalmente
b. Concordo
c. Não concordo nem discordo
d. Discordo
e. Discordo totalmente
 
3) Se eu não me conhecesse, acreditaria que estou bem?
a. Concordo totalmente
b. Concordo
c. Não concordo nem discordo
d. Discordo
e. Discordo totalmente
 
4) Conforme cresci, senti que realmente mereço existir?
a. Concordo totalmente
b. Concordo
c. Não concordo nem discordo
d. Discordo
e. Discordo totalmente
 
Geralmente, gostamos de nós mesmos menos do que o normal e, com total certeza, menos do que deveríamos. O questionário e a lógica não é a cura, e sim o lembrete, para quem é ansioso em excesso, de que não é indigno de afeto, que tem o direito de existir, que as negligências do passado devem ser tratadas, que a ternura mais importante que podemos sentir é aquela dirigida a nós mesmos.

Portanto, quando o ataque de ansiedade o acometer, não se perca na superfície de suas preocupações, e sim lide com o ódio que cresce em seu âmago contra si mesmo. A ansiedade nem sempre é ansiedade; ela pode ser, muito bem, um hábito cujo disfarce impecável cravejou-se injustamente numa verdade amarga, de que não gostamos de nós mesmos. Meu contato está sempre aberto para você.


Heduardo Del Pintor Vieira é Psicólogo – CRP: 18/05294 com pós-graduação em Psicoterapia Psicanalítica. Meu contato está aberto para te ouvir: (41) 99283-8970 / Email: psi.heduardodelpintor@gmail.com
 
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