Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

É óbvio que a imprensa tem lado. Isso seria problema?


De acordo com a definição formal, imprensa é a “designação coletiva dos veículos de comunicação que exercem o Jornalismo e outras funções de comunicação informativa - em contraste com a comunicação puramente propagandística ou de entretenimento”. A palavra é derivada da “prensa móvel” utilizada para os primeiros trabalhos de impressão em papel no século ainda no distante século XV.

Não é difícil imaginar a revolução ocorrida com o feito humano de reproduzir e divulgar com velocidade nunca antes vista uma informação ou conhecimento. O processo não mais parou. O avanço da ciência produziu as ondas de rádio e televisão no século XX. O advento da computação e a internet causou a segunda revolução das comunicações. Hoje, com a popularização dos smartphones e as redes sociais podemos dizer que a informação chega instantaneamente a bilhões de pessoas. Apenas para que o leitor tenha uma ideia, para armazenar todo o conteúdo consumido na web em 24 horas (levantamento de 2011), seriam necessários 168 milhões de DVDs. Pode-se afirmar com significativa margem de acerto que utilizar o controle dos meios de comunicação é a melhor forma de fazer o mundo acreditar em algo. Seja esse algo verdadeiro ou falso. Essa é uma realidade do mundo atual que não adianta mais fingir que não existe ou que se trata de teoria da conspiração.

A moderna mídia de comunicação atualmente está concentrada e é controlada por poucos grupos econômicos? Antes de responder precisamos ter consciência de que mais de 85% das pessoas, segundo estudo apresentado por Daniel Estulin em sua obra “Transevolução”, obtém todas as informações da televisão e das redes de mídia social. Sendo assim, a única “verdade” que a maioria conhece é a que conta a televisão ou a que é disseminada em redes de mídia social. Toda uma geração hoje não conhece nada, salvo o que sai nos aparelhos de TV ou está sendo divulgado via aplicativos de mensagens ou youtube. Diante desta constatação você realmente acredita que tamanha capacidade de gerar poder condicionado não atrairia a concentração na mão de grupos bilionários? Alguns exemplos trazidos pelo autor aludido nos EUA: o conglomerado AOL-Time Warner controla 292 empresas e subsidiárias distintas; a Viacom, conglomerado de Sumner Redstone, controla a CBS, a MTV, a MTV2, a UPN, a VH1, a Showtime, a Nickelodeon, a Comedy Central, a TNT, a CMT, a BET, a Paramout Pictures, a Nickelodeon Movies, a MTV Films e a Blockbuster Videos, além de 1800 salas de projeção da cadeia Famous Players. O The New York Times e o The Washington Post são os veículos de comunicação mais importantes. O The New York Times conta com o sistema mais robusto de captação de noticias do mundo.

No Brasil o fenômeno ser repete. Os quatro principais grupos de mídia concentram audiência nacional que ultrapassa os 70%, no caso da TV aberta (a mais consumida no país). O Grupo Globo, em que pese as dificuldades financeiras que estão evidenciadas, ainda possui capilaridade com veículos ou redes centrais a todos os mercados de mídia.

Diante desse cenário, poderíamos inferir haver uma probabilidade significativa de que esses pesos-pesados da mídia não apenas analisam, interpretam e comentam a política interna e externa do país, mas, ajudam a fazê-la? Será que possuindo a amplitude de domínio na formação do imaginário e do senso comum das pessoas, tais grupos não definiriam linhas editoriais pró ou contra determinado governo de plantão? Veja que estamos falando de “mídia de massa”. É razoável supor que os grandes grupos pautem aquilo que consideram “notícia” e balizem os limites do que seria a “opinião respeitável”.

Aquilo que entendemos por “bom jornalismo” deveria ser, em tese, o instrumento para divulgar fatos de qualquer natureza com imparcialidade e tendo como norte a verdade. Os artigos de opinião e que não necessariamente refletem a visão de mundo do grupo midiático são legítimos. Maior credibilidade receberia o grupo que se afirma imparcial e publica opiniões plurais. O problema, percebo, está na tarefa jornalística propriamente dita. Aquela que se autointitula imparcial mas que, em verdade, transmite uma visão de mundo dissimulada como notícia de determinado fato, notadamente os de natureza política. O uso da linguagem “marcada” é patente em tais matérias “jornalísticas”.

Observe como a grande maioria dos “jornalistas” que trabalham para os grandes grupos de mídia brasileiro, ao referirem-se ao Presidente da República acrescentam adjetivos como “ultraconservador”, “extrema-direita”, “xenófobo” etc, em contexto absolutamente fora de propósito, como, por exemplo, noticiar uma determinada política anunciada pelo Governo. Mas é direito dos jornalistas expressarem-se como lhe convier! Sim, mas, nesse caso, defina o que entende por tais expressões, visto que são atualmente palavras esvaziadas de conteúdo, ou seja, signos que não mais possuem ligação com um referente na realidade. Seja honesto intelectualmente e apresente ao seu consumidor sua visão de mundo, uma vez que, é através dela que está fazendo sua leitura da realidade. Não assuma uma postura de neutralidade ou isenção, quando, a rigor, você está comprometido com determinada orientação política, notadamente, como é comum no Brasil, a progressista.

É um truísmo querer responsabilizar apenas o profissional do jornalismo. Este deixou de ser independente porque está ligado à linha editorial do grupo a que pertence. Assim, suas matérias são submetidas aos editores, que orientam o que, como, quando e onde será publicado o material. É assim que os meios de comunicação de massa atuam como agentes de mudança, contudo, é legítimo questionar: mudar para onde? Ser direcionado em função de quais valores?

Há também um componente importante nesta equação: o financeiro. Os grupos de comunicação são empreendimentos privados que precisam do lucro para existirem. Parte de suas receitas também provem das verbas destinadas à comunicação oficial dos governos de plantão. Assim, se estabelece uma simbiose que adquire determinado formato em função da aproximação ou distanciamento da visão ideológica e dos interesses do governo e dos dirigentes dos grupos. Esse fato não deve ser negligenciado.

Sei que abordei tema de enorme complexidade, dado a teia de relações que envolve o mundo da comunicação. Mídia e governos sempre estarão em um estado de tensão elevada. Em resposta à pergunta-título desta missiva, arrisco dizer que o fato de a imprensa ter um “lado” no campo ideológico não é um problema, desde que o consumidor das notícias tenha essa consciência ao fazer o sopesamento entre a informação trazida pelo mensageiro (jornalista ou similar) a forma e as entrelinhas contidas na redação da mensagem. Ao não tomar esta precaução você poderá formar uma falsa percepção da realidade ou ter o seu senso comum e imaginação moral direcionados às intenções ideológicas do grupo que as divulga.





Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)






 
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