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Sexta-feira, 25 de abril de 2025

Opinião

Jogando para a torcida

Nos últimos dias um tema tomou conta das discussões nos grupos de whatsapp e
rodas de bate papo Brasil afora, a declaração do CEO do Grupo Carrefour, o
senhor Alexandre Bompard, um cidadão francês de 52 anos de idade, e apenas 8
anos de firma.

Por meio de uma carta endereçada ao compatriota e presidente da FNSEA -
Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França, o executivo
declarou que "em solidariedade ao mundo agrícola, o Carrefour se compromete
a não comercializar nenhuma carne do Mercosul", e como se não bastasse foi
além dizendo "esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e
impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade, além do papel da
distribuição, que já lidera a luta em favor da origem francesa da carne que
comercializa, e, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade
de carne que o Mercosul venha a nos oferecer".

Pronto, foi o estopim para uma guerra de narrativas envolvendo as mais altas
patentes políticas, sindicais, militares e eclesiásticas do Brasil e França,
começando pelo, e com toda razão, pelo Ministério da Agricultura e Pecuária
do Brasil - MAPA que reforçou nosso rigoroso controle sanitário e boas
práticas de produção.

Logo em seguida vieram as grandes Entidades exportadoras de proteína animal,
a Associação Brasileira de Proteína Animal - ABPA e a Associação Brasileira
das Indústrias Exportadoras de Carnes - ABIEC, reforçando a qualidade dos
nossos produtos, a rigorosa legislação ambiental a que o país é submetido e
classificando a declaração do CEO francês como protecionista. Pouco tempo
depois, em meio a um visível constrangimento, o a rede varejista mundial
disse que a atitude se restringiria às unidades na França, e que no Brasil
nada mudaria.

Até aí tudo certo, afinal é legítimo que as Entidades defendam seus
interesses.

Mas o fato é que precisamos entender o porquê dessa declaração, afinal um
executivo dessa magnitude não começaria uma crise comercial internacional à
toa. E a explicação é muito simples, ele jogou para a torcida de maneira
populista e irresponsável.

Foi irresponsável por que colocou em foco a produção agropecuária de um
gigante mundial que é o Brasil, reconhecido internacionalmente pela
qualidade, a sustentabilidade e volume de sua produção de proteína animal, e
foi populista por que quis fazer um afogo aos seus colegas franceses em meio
a crise entre os camponeses nacionais e o governo central, tudo por que
neste exato momento a União Europeia está discutindo o acordo com o
Mercosul, e que a França é contrária.

Viram como tudo tem uma explicação?

Não é segredo para ninguém que o Brasil sempre incomodou os franceses com
sua produção agropecuária, afinal somos os maiores produtores de alimentos,
fibras e energia do mundo, e sim vão continuar fazendo de tudo para
dificultar a entrada dos nossos produtos.

E para piorar o inflado ego dos franceses, os produtores brasileiros dão um
show de eficiência e competitividade, por que nas terras de Cabral se produz
tudo isso sem nenhum centavo de subsídio, ao contrário das terras de Luiz
XV, onde cada beterraba colhida vem repleta de benesses do trono. E isso
deve ser o que mais dói, a certeza da ineficiência.

O fato é que o Brasil saiu fortalecido nesse lamentável episódio, já que
graças ao infeliz executivo francês o Brasil se fortaleceu perante a
comunidade mundial e mostrou que é possível lutar o bom combate sem
privilégios, e sem jogar para a torcida.

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.
 
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