Torre de Babel :: Notícias de MT | Olhar Direto

Olhar Direto

Domingo, 18 de maio de 2025

Opinião

Torre de Babel

A Torre de Babel surge a 1ª vez no livro dos Gênesis, segundo o antigo
testamento Deus ao perceber que os homens que falavam a mesma língua haviam
se juntado, pregou uma peça misturando todas as línguas e espalhando os
homens pelo mundo. Pronto, todos falavam, e ninguém se entendia.

Quando uma família tem algum problema, o mais comum é que os demais se
juntem em uma mesa para conversar, discutir e resolver o problema de todos.
Já nas grandes corporações, quando surge um problema grave é convocado o
conselho de executivos, formado por pessoas altamente qualificadas, que em
muito pouco tempo conseguem ter uma visão do todo, criar uma estratégia, e
implementar a solução.

Mas e quando o cidadão brasileiro ou o país tem um problema, o que acontece?
Bem, nesse caso o caminho é bem mais longo.

Normalmente o tempo gasto entre o problema se instalar no país e ser
percebido pelo cidadão não é tão pequeno assim. E a coisa fica pior quando
se leva em consideração o tempo gasto para que o governo perceba o problema.
E como tudo pode piorar, o tempo gasto para que as autoridades resolvam o
problema é uma eternidade, isso quando se resolve não é mesmo?

Para o problema chegar na esplanada dos ministérios é preciso muita
mobilização social, gritaria e várias e várias notas na imprensa, cobrando o
governo. Outra maneira é quando a base, ou seja, aquele sujeito mais
politizado que tem o contato de algum parlamentar no celular liga, explica e
aí se começa outra via de cobrança igualmente legítima, afinal o parlamentar
é o representante do povo. Pronto, agora sim com a cobrança popular ou do
parlamento o problema vai começar a ser discutido entre os muros da
esplanada.

Aí são reuniões e reuniões que pela ordem criam um grupo de trabalho, depois
uma comissão até chegar na mão de quem tem a caneta. Nesse momento reuniões
em salões glamourosos acontecem. São mesas montadas em formato de "u", para
que todos se vejam, e é lógico, para que todos sejam vistos resolvendo o
problema. Estão ali os mais importantes atores com capacidade decisória do
país, cada um com 1 ou 2 assessores e assim como na Torre de Babel todos
falam, e ninguém se entende.

Vamos a 1 caso concreto e recente, a crise dos preços dos alimentos!

Um ministro diz que vai ficar tudo bem, que a estiagem fez com que os preços
aumentassem, mas que vai ficar tudo bem. Aí vem outro ministro e diz que o
preço dos alimentos está gerando pressão inflacionária e vai comprometer os
juros no Brasil. Em seguida, outro ministro diz que é preciso ouvir as
bases, conversar com o cidadão e aí vem a clássica ideia de "devemos fazer
audiências públicas!"

Mais ao canto um assessor timidamente pede a palavra e diz, "Senhores, não
acham que deveríamos ter dados técnicos? Vamos chamar a EMBRAPA, a CONAB e a
academia para nos subsidiar com informações", e logo é interrompido pelo
chefe, dizendo que é preciso manter o foco. Por fim, após várias fotos e
publicações em mídias sociais vem a decisão, vamos usar nosso poder da
caneta e criar mecanismos artificiais de controle, como por exemplo zerar
alíquotas de importação dos produtos.

Restringir a exportação ou facilitar a importação na esperança de que os
preços baixem ao consumidor é um erro primário, por que além de não atingir
o objetivo ainda compromete a competitividade dos produtores no médio e
longo prazo, mas no curto prazo traz a sensação de que a culpa era da oferta
restrita, e não era! Mas para os entendidos da esplanada o problema foi
resolvido.

Terminou a reunião.

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria
 
Sitevip Internet