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Sexta-feira, 25 de abril de 2025

Opinião

Filho de fulano e neto de sicrano...lá se vão 67 anos!

É fato que a formação social, econômica e cultural do município de Dom Aquino/MT, data-se da década de 1920. O garimpo de diamantes atraiu para a região (em sua maioria) nordestinos que fugindo das mazelas da seca e da fome, buscaram nesta localidade meios de sobrevivência. Tão logo as captações minerais entram em escassez este território se faz em loteamento de terras coordenado pela batuta do Estado – a Colônia Agrícola de Mutum. No ano de 1958 pela lei estadual nº 1.196, é criado oficialmente o município de Mutum, e sua atual denominação – Dom Aquino – ocorre pela lei estadual nº 2.492, de 24 de setembro de 1965.
 
Esse breve panorama toponímico evidencia os marcos legais e históricos que conferem a Dom Aquino/MT a oficialidade de sua existência enquanto território político-administrativo. Para além da oficialidade de sua formação histórico-geográfica, Dom Aquino, é o lugar de pertencimento, um território afetivo, tecido por convivências fraternais. E, também marcado por hiatos sensoriais: o cheiro de terra molhada, o silêncio antes da cheia do Rio Mutum, as noites amenas de outono que parecem guardar segredos antigos. As conversas infindáveis dos grupos de amigos sentados na calçada de alguma residência acolhedora ou nos bancos da praça central. As ruas traçadas ora por ladrilhos que nos levavam a casa dos avós, dos amigos, da escola ao clubão, da quermesse a festa agropecuária.
 
Do filho, de fulano, neto de sicrano e irmão (ã) de beltrano. Do sabor de molecagem da fruta tirada da árvore do vizinho; do joelho ralado pelas brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde, pula corda e elástico; das noites festivas de carnaval; das rodas de samba e de violão; dos esportes amadores; das lendas recontadas com aumento de ponto e vírgula. Das badaladas do sino da Igreja Matriz; do desembarque de passageiros na rodoviária; das idas e vindas dos universitários que sempre traziam na bagagem novidades da cidade grande.
 
Das trocas de receitas gastronômicas, de crochê ou enxerto de plantas; do cheiro de café coado; das vozes da feira. Da venda da esquina, onde vendia-se fiado na confiança do fio do bigode.  Do alto-falante que anunciava os eventos e notícias; das quadrilhas ensaiadas no pátio da escola; dos que partiram em busca de futuro em outras paragens, e dos que ficaram firmes. Das memórias que resistem e persistem, mesmo quando as ruas ganham asfalto, e os quintais viram calçadas.
 
Dos amores que se fizeram em frutos e dos que não se fizeram; dos que partiram cedo demais, nos deixando com o coração dilacerado; dos grupos virtuais que diminuem a saudade. De ser Dom Aquino, na fé singela de quem acredita no tempo das coisas.
 
Dom Aquino, em sua grandiosidade de símbolos e signos guarda em nós memórias de tempos idos...
 
Lidiane Álvares Mendes é doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT - Bolsista CAPES.
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