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Opinião

Viva a cultura brasileira!

Luiz Henrique Lima

O mundo inteiro não é bobo e sabe que a cultura brasileira é maravilhosa. E quando falo em cultura, não me refiro apenas à arte clássica, mas às mais variadas expressões da inteligência humana.

Por exemplo, nossa música é amada, tocada e cantada em toda parte: MPB, bossa nova, samba, mas também Villa-Lobos.

Deve ser muito triste viver odiando e não se emocionar com o canto de Milton Nascimento ou Elis Regina ou Clara Nunes ou Beth Carvalho; com os versos de Taiguara, Ivan Lins e Gonzaguinha; com a percussão das escolas de samba cariocas; e com a riqueza melódica de todos os ritmos, de Almir Sater a Alceu Valença, de Fagner a Chitãozinho e Xororó, de Tom Jobim a Legião Urbana. É muito bom saber que neste exato momento músicas brasileiras estão sendo executadas em rádios do Japão, Alemanha, Líbano, Angola, México e Vietnã.

Deveríamos nos orgulhar do reconhecimento mundial aos nossos artistas, cientistas e criadores.

É muito bom saber que na sede das Nações Unidas em Nova Iorque exibe-se com destaque a obra de Portinari. É muito bom saber que projetos de Niemeyer são atrações em cidades francesas, italianas e espanholas. É muito bom saber que a obra pedagógica de Paulo Freire é traduzida e publicada em dezenas de idiomas e estudada com admiração nas principais universidades do mundo. É muito bom saber que esses poucos exemplos citados são apenas poucos exemplos e há inúmeros outros brasileiros consagrados com premiações internacionais relevantes nas suas áreas de atuação: cientistas, cineastas, atores, pianistas, publicitários, escritores e tantos mais. E também é muito bom saber que existem ainda muitos outros mais que não são conhecidos ou divulgados no exterior, mas cujas obras alegram nossa alma e iluminam nossa caminhada!

É claro que nem toda produção cultural tem qualidade artística ou conteúdo edificante. Para cada página de Guimarães Rosa ou Manoel de Barros, há dezenas de milhares de peças medíocres. Não importa. Quem tem valor, sobressai e permanece. Quem não tem, pode até provocar escândalo e alcançar uma notoriedade efêmera, mas logo desaparece sem deixar saudades. O que é inaceitável é usar casos extremados para justificar censuras e perseguições.

Toda mente autoritária se incomoda com a cultura. Em parte, porque é ignorante e não consegue compreender o trabalho artístico; em parte, porque é invejosa e se ressente do sucesso alheio; e em parte, porque é intolerante e não admite nada nem ninguém que não adira cegamente aos seus dogmas.

Todo governo totalitário pretende impor restrições à criação cultural, desde a asfixia econômica, restringindo patrocinadores, até a censura, perseguindo artistas e intelectuais, em processos inquisitoriais. Os mais pretenciosos almejam até mesmo gestar e tutelar formas de expressão artística alinhadas ideologicamente com diretrizes oficiais. Somente conseguem engendrar monstrengos. Foi assim com o chamado “realismo socialista” das ditaduras comunistas; foi assim com as produções nazifascistas lideradas por Goebbels, um dos maiores criminosos da história humana, mas que aparentemente ainda inspira seguidores tresloucados aqui ou acolá.

A cultura não tem amarras; a criação não tem fronteiras; a inteligência não tem muros; e quem tenta controlá-las sempre fracassa.

Viva a cultura brasileira!

PS: Poucas vezes na vida presenciei tamanha agressão ao patrimônio cultural de uma cidade como a retirada da escultura Árvore de todos os Povos, do consagradíssimo Wlademir Dias Pino, da praça Oito de Abril. Pessoas ligadas à gestão municipal me asseguraram que a estupidez burocrática será revertida e que a obra será recolocada na praça, bem como refeito o mural do artista plástico Adir Sodré. Vamos aguardar e cobrar. Cuiabá não merece tamanho desamor à cultura!
 
Luiz Henrique Lima é Conselheiro Substituto do TCE-MT
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