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Opinião

As Vulnerabilidades no interior do Isolamento Social

Aureo Dutra e Kelen Monteiro

Vivemos tempos sombrios, o Brasil e o mundo parou com a pandemia, o que não parou foram as ocorrências de todos os tipos de Violações de direitos; o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) tem recebido denúncias de violações aos direitos humanos decorrentes da pandemia. Entre os dias 14 e 24 de março, foram registrados 1.369 relatos no Disque 100 e no Ligue 180, é importante lembrar das subnotificações, já que esses dados só contabilizam as ocorrências registradas. Sendo assim, faz-se necessário com extrema urgência trazer para o diálogo a gravidade das ocorrências e informar a população sobre a necessidade de estarmos alertas. Percebemos claramente grandes esforços da sociedade em continuar mantendo suas atividades do dia a dia, e por negação de alguns e/ou dispersão de outros, a voz da violência tem soado com naturalidade. É claro que as pessoas precisam ter foco no impacto econômico e outras incidências, por conta da pandemia, porém, não dá para fecharmos os olhos e nos eximirmos da responsabilidade de resguardar os direitos básicos de integridade das pessoas, principalmente mulheres, crianças/adolescentes e idosos.

A política de Assistência Social, divide-se em níveis complexos e abrangentes, que atua diretamente na garantia dos direitos sociais e individuais, básicos e especializados. Neste momento o olhar técnico dos profissionais do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) é fundamental, uma vez que estes profissionais exercem um papel essencial, em se tratando de violações de direitos, ofertando acompanhamentos particularizados e familiares, e fazendo uma leitura das possíveis violências enfrentadas nos núcleos familiares, e atuando para que essas vulnerabilidades sejam superadas. Para isso, a Assistência Social é composta por equipes multidisciplinares que ao assistir os usuários, articulam entre si bem como com outros setores sociais estratégias de enfrentamento e superação para os que dela necessitam.  

Para o Psicólogo Aureo Dutra, "É necessário que as pessoas tenham voz, criem mecanismos para saírem do ciclo da violência, busquem apoio especializado para superarem seus sofrimentos. Na grande maioria dos casos, estes já se arrastam, mesmo antes da necessidade do isolamento social, e só se agravaram pela oportunidade na aproximação do agressor e sua possível vítima. Um dos grandes desafios para nós técnicos do SUAS, é conseguir desconstruir a naturalidade das violências, apoiar os usuários do sistema em suas necessidades integrais, bem como fortalece-los para que o ciclo da violência seja rompido e não reproduzido. O fato é, que as pessoas não podem viver em sofrimento dentro do próprio lar, local o qual teria como papel principal a proteção e segurança da família. Não podemos tolerar qualquer violação de direitos, seja contra a mulher em seus diversos tipos de violências, seja contra crianças/adolescentes, ou qualquer outra. Lembrando que é dever de toda a sociedade, zelar pela garantia de direitos, e denunciar as possíveis ocorrências, os canais de denúncias garantem o absoluto sigilo."

Para Assistente Social Kelen Monteiro "A violência, seja ela contra crianças, adolescentes, mulheres, ou idosos é um tema de grande complexidade, principalmente quando acontece nas relações intrafamiliares, sabemos que a violência sempre esteve presente na sociedade bem como nas famílias, principalmente pelas questões culturais decorrentes da prática de uma 'autorização social velada', importante salientar que não é somente nas famílias carentes que ocorrem as violações de direitos, elas estão presente em todos os modelos de famílias e classes sociais.  Por atuarmos de forma direta com os usuários e adentrarmos os núcleos familiares, é possível percebermos as situações de violência, através da linguagem não verbal, a que se expressa por um olhar que pede ajuda, marcas que nem sempre são visíveis no corpo, tais informações  permanecem em sua grande maioria sob sigilo, para garantir o rompimento do ciclo da violência, foi  criado o Sistema de Garantias de Direitos formado por órgãos diversos, que tem como principal objetivo a defesa e promoção dos direitos e o combate à violência doméstica, disponibilizando canais de denúncia através do Disque 100 e 180, bem como as unidades de atendimentos CRAS / CREAS/ Centros POP/ Conselho Tutelar entre outros"

Vale destacar que a Assistência Social está presente em praticamente todos territórios brasileiros. De acordo com dados do Censo SUAS de 2019, são 8.360 Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) que atendem famílias em situação de vulnerabilidade e realizam o registro das famílias no Cadastro Único; 2.664 Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), que atendem indivíduos e famílias em situação de violência ou com direitos violados; e 228 Centros de Referência Especializados para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP).

Operando essa rede de atendimentos, há mais de 500 mil trabalhadores que lutam direta ou indiretamente para que a população seja respeitada e seus direitos básicos garantidos.



 

Aureo Dutra é Psicólogo Servidor Público da Prefeitura Municipal de Nova Ubiratã-MT, atua na Secretaria Municipal de Assistência Social. aureopatrick@hotmail.com

 
Kelen Monteiro é Assistente Social, Servidora Pública da Prefeitura Municipal de Nova Ubiratã-MT, atua na Secretaria Municipal de Assistência Social. kelen.nmv@gmail.com
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