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Opinião

A humanização do caos

Heduardo Del Pintor Vieira

Já faz pouco mais de quatro meses desde que a Organização Mundial de Saúde declarou que lidávamos com uma pandemia. De lá para cá, como você tem encarado os novos desafios diários? Há um provérbio curioso a este respeito: “mar tranquilo não produz bons marinheiros”. Contudo, realmente precisamos do caos, da ausência de tranquilidade, para que possamos ser navegadores excepcionais?


Longe de ser animador, números assustadores passam em nossas telas: na primeira quinta-feira de julho de 2020, constatou-se que a taxa de ocupação dos leitos de UTIs específicos para o tratamento da Covid-19 nos hospitais particulares em Cuiabá foi de 100% da capacidade e nas unidades públicas, de 93%. Infelizmente, esses números não diminuíram, e é um dos exemplos do caos que temos vivido.


Ele instaurou-se em nossas rotinas. Gostamos da organização, dos padrões e dos modelos; por isso, detestamos a desordem. Forçados a adquirir novos hábitos, somos confrontados com uma tarefa bem mais desafiadora do que parecia: a mudança. E, com isso, a demanda pelos profissionais da saúde da mente aumenta.


O cenário atual produz medo, insegurança, desespero. Cada pessoa lida com a doença e a repercussão que ela carrega de uma maneira singular. São nossos repertórios que ditam nossos comportamentos perante o surto. Queremos respostas (o entendimento para o que nos falta ou nos completa), e estamos certos ao procurá-las. A verdade é que o caos está conosco agora, e o nosso dever tem sido atravessá-lo do melhor jeito possível.


Seria ótimo se o caos pudesse ser dirigido, humanizado até que se tornasse normal – ou banal, na linguagem de Hannah Arendt. Entretanto, não há como controlar fatores tão externos a nossa singularidade como pessoa. No entanto, a maneira de olhar para a adversidade é o que está ao nosso alcance: o enfrentamento genuíno das águas intranquilas que velejamos está em nós mesmos. A autorreflexão intenta para a nossa melhora como cidadãos, como pais, como filhos, como amigos, como cidadãos atuantes ou como parceiros mais capazes. Falar é o melhor caminho.



Heduardo Del Pintor Vieira é Psicólogo – CRP: 18/05294 e pós-graduando em Psicoterapia Psicanalítica. Meu contato está aberto para te ouvir: (65) 98124-3734 / Email: psi.heduardodelpintor@gmail.com


 
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