Imprimir

Opinião

Cada cidade terá o prefeito que merece

Eustáquio Rodrigues Filho

Aproxima-se o segundo turno em várias cidades do Brasil. Hora de tomar uma importante decisão, através de uma forma muito simples: votando. É difícil falarmos hoje em dia em voto consciente, em voto racional, em voto inteligente ou em voto cidadão. A estrutura política da nação, mais evidenciada ainda nos municípios, faz com que ainda boa parte dos votos sejam obtidos por cabresto, benesses, privilégios, compras e até mesmo a manutenção do próprio emprego, consubstanciado em cargos comissionados – estes, inclusive, "obrigados" a trabalhar e a panfletar pelo prefeito que estiver no poder.

Em algumas cidades será mais fácil a escolha, dado a diferença de qualidade entre um e outro candidato. Em outras, a escolha será bem difícil, cito como exemplo a cidade do Rio de Janeiro, literalmente entre a cruz e a espada, entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella. Em outras cidades, a escolha pode até parecer difícil, mas, de fato, não é. Daí o exemplo a ser falado é Cuiabá. Os dois candidatos ao segundo turno, apesar de, aparentemente, terem a mesma qualidade, são completamente diferentes e, uma análise mais racional e nem tão profunda deixa isso claro e torna a escolha mais fácil.

De um lado temos o candidato Abílio Brunini, vereador de oposição ao atual prefeito, de atuação destacada em relação a pautas importantes como por exemplo a taxação de serviços de transporte por aplicativos (em que foi contra), a luta pela lisura na licitação do transporte coletivo (dominado até hoje por uma máfia), a fiscalização incansável e intransigente em relação aos serviços de saúde, notadamente a construção e inauguração do Hospital Municipal e a insistência na abertura da CPI do Paletó, arquivada na Casa dos Horrores, local em que o prefeito atual tem ampla maioria e tenebrosa influência – entretanto uma resposta veio das urnas, ao não reeleger 2 terços dos vereadores. Obviamente que Abílio não é um candidato perfeito ou ideal, afinal, ninguém o é. Ainda precisa burilar a forma como trata o dinheiro público, tratando com mais respeito o dinheiro do contribuinte, haja vista não ter apresentado nenhum projeto para redução de gastos da máquina pública, tampouco da Câmara Municipal e nem mesmo do seu gabinete. Mas somos todos seres humanos em aperfeiçoamento. Espero que ele comece a pensar nisso o quanto antes.

De outro lado temos uma raposa da política mato-grossense: o candidato Emanuel Pinheiro. Deputado estadual com alguns mandatos, mas sem nenhuma lei relevante apresentada e aprovada. Lançou-se à prefeitura da capital há 4 anos, num projeto de poder até certo ponto megalomaníaco. Acusa o outro candidato de inexperiência, mas tentou lançar seus tentáculos na cidade vizinha com o "muito experiente seu filho" para prefeito. Critica as alianças políticas do outro candidato, alianças essas que ele mesmo insistiu em ter para si. Numa cidade séria, num país sério, teria sua carreira política terminada na infeliz e infame gravação do dinheiro no paletó. Flagrante que não suporta nenhuma explicação plausível, virou símbolo nacional da corrupção, uma vergonha exibida em horário nobre para todo o país. Qual lugar do Brasil não conhece o prefeito do paletó? Será necessário um estudo sociológico profundo da população cuiabana para descobrir como as pessoas podem votar e apoiar um candidato flagrado nesse tipo de ato. E apesar de tentar maquiar a cidade com algumas poucas obras, não conseguiu dar o mínimo de dignidade para a população da capital: transporte coletivo sucateado, escolas municipais (em sua maioria) decrépitas (você observou bem o estado do lugar em que votou no primeiro turno?), sistema de saúde em frangalhos e a cidade, com mais de 300 anos, judiada, envelhecida e ainda sem placas com nome das ruas.

Qualquer um que pensar de forma rasa, sabe que a escolha não é difícil. A não ser que você tenha ou guarde algum privilégio com a manutenção do prefeito, ou até mesmo que o seu emprego comissionado dependa disso – o que até explica, mas não justifica –, não há razão outra para reeleger o atual prefeito. Poucas coisas suplantariam a vergonha de escolher e ostentar como prefeito alguém que tenha sobre sua testa o carimbo da corrupção. Não há nenhuma garantia que o próximo prefeito, se for o Abílio, será um primor na direção municipal, mas ele merece o benefício da dúvida. Ao contrário do atual, que já se mostrou inapto para o cargo e com uma pesada acusação – gravada e delatada – de corrupção nas costas. Que os cuiabanos elejam o prefeito que merece.

Eustáquio Rodrigues Filho – Cristão, Servidor Público e Escritor. Autor do livro "Um instante para sempre". Instagram: @epelomundo  
Imprimir