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Opinião

Pandemia e ansiedade: os perigos do bruxismo

Mateus Tonetto

São tempos difíceis para todos. O colapso na saúde é uma realidade mundial e, não só a contaminação pelo novo coronavírus afeta o nosso corpo, mas também o desgaste psicológico provocado pela ansiedade. Como essa preocupação excessiva pode afetar a nossa saúde física? O bruxismo é um grande vilão.

Ter bruxismo é apertar constantemente e causar atrito nos dentes, principalmente durante o sono, de forma involuntária. Este apertamento não tem relação com as funções normais da mandíbula/maxila e é considerado uma doença psicossomática, que se caracteriza como o reflexo de problemas psíquicos em áreas do corpo.

Na maioria dos casos de bruxismo, esses hábitos parafuncionais acontecem no período noturno, durante o sono, quando não há um controle dos mecanismos conscientes, o que acaba resultando em forças de mordida muito prejudiciais a toda estrutura bucal, além de prejuízos à estrutura óssea e a hábitos comuns como a própria alimentação. Entre as consequências da falta de cuidados adequados, estão inflamações, necroses, fraturas e até a perda dos dentes. Isso sem contar com os desconfortos musculares e dores de cabeça. Uma análise profunda do sono do paciente pode auxiliar neste diagnóstico para que possam ser traçadas estratégias de tratamento.

E como os efeitos psicológicos negativos provocados pela pandemia podem agravar esses impactos na saúde física com quadros mais intensos de bruxismo? Estresse e tensão emocional são fatores agravantes. Por causa da força involuntária usada para tensionar os dentes, o bruxismo traz um cansaço recorrente, irritabilidade e até a sensação de fadiga aos pacientes.

Como esse conjunto de fatores afeta a dentição? Quem sofre de bruxismo e não busca o tratamento adequado tem como consequência o desgaste gradativo principalmente das pontas dos dentes, que chamamos de incisal (para os dentes da frente) e oclusal (para os dentes do fundo), além da retração gengival, que é o afastamento da gengiva. E não pára por aí. Na continuidade desses efeitos negativos e acumulativos, sem o devido tratamento, após a retração gengival pode haver o desgaste dos dentes na região próxima à gengiva, por ser uma área com baixa proteção do esmalte.

Dessa forma, o desgaste na região onde o paciente acaba provocando a infecção dos dentes, tanto nas pontas quanto próximo à gengiva, além do próprio afastamento da gengiva, acabam resultando em casos mais graves, que podem chegar à necessidade de um tratamento de canal. Dependendo do quanto o dente é fragilizado, ele também pode chegar a fraturar. Esse dente quebrado pode ainda trazer a necessidade de implante, o que seria uma consequência ainda mais grave, frente a essas situações.

A diminuição da coordenação motora pode ser ocasionada pela hiperfunção dos músculos da mastigação e, também como consequência, podem ser provocados traumas de mordida nas bochechas, na língua e nos lábios.

O diagnóstico precoce é essencial para evitar danos mais graves e, por vezes, irreversíveis. São várias alternativas de tratamento possíveis, a depender do quadro de saúde do paciente. Todos os sinais são válidos para traçar a estratégia mais adequada, inclusive um trabalho multidisciplinar com acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico. Em algumas vezes, o paciente será tratado com a utilização de placas para amenizar os problemas associados ao bruxismo, ou ainda com o uso de resina e restaurações para minimizar o desgaste causado pelo apertamento dos dentes.

Observar os sinais é importante, mas para um diagnóstico preciso é fundamental o acompanhamento com um profissional. Aproveite o período de isolamento para se cuidar. Às vezes, são cuidados simples que podem proporcionar uma qualidade de vida muito maior.

Mateus Tonetto é cirurgião dentista, pós-doutor em Dentística.
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