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Opinião

Médicos também adoecem

Dr. Altino José de Souza

Mais do que homenagear, precisamos olhar com atenção para aqueles que são responsáveis diariamente pela saúde, manutenção da vida e bem-estar da população, neste dia 18 de outubro, Dia do Médico, vamos tratar do preocupante cenário apresentado pelo estudo inédito, conduzido pelo Research Center da Afya, que avaliou a saúde mental dos médicos brasileiros.

A pesquisa revela dados exclusivos acerca das percepções de hábitos de vida, estresse, adoecimento psicológico, relação com as instituições empregadoras e satisfação com a vida e o trabalho. Mas afinal, por que atualmente a classe médica tem sofrido tanto com esse tipo de problema?

Plantões exaustivos, carga horária intensa, pressões profissionais, situações de estresse extremo, privação do sono e o medo de falhar são algumas das causas de transtornos mentais entre os médicos. Todos esses fatores fazem surgir problemas como depressão, dependência química, ansiedade e síndrome de burnout entre os profissionais.

A pesquisa que deu origem ao estudo sobre o cenário da saúde mental do profissional de medicina foi realizada entre junho e julho deste ano e ouviu cerca de 3,5 mil participantes, de diversas especialidades. O estudo contou com a participação de médicos em diferentes momentos de sua carreira, desde os recém-formados até os mais experientes com décadas de atuação, compondo um amplo retrato da população médica brasileira, além de contemplar médicos generalistas, especialistas e em especialização.

O que é mais preocupante e alarmante na pesquisa é a saúde mental dos profissionais. Apenas 30,6% dos participantes nunca apresentaram sintomas de depressão. Para mais de um terço dos respondentes, os sintomas de depressão surgiram nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa. Ainda mais prevalente são os sintomas ansiosos. Apenas 20,4% dos médicos nunca apresentaram sintomas. Quase 1 em cada 3 médicos apresenta sintomas de transtornos de ansiedade, mas não mantém acompanhamento com ajuda especializada.

Quando o foco é o esgotamento profissional, o cenário não é menos preocupante. Mais de 66% dos médicos tiveram sintomas de burnout, mas ainda não buscaram ajuda. O fator que foi relatado como maior motivo pelos participantes aos sintomas de burnout foi o número excessivo de horas de trabalho, seguido de salários insuficientes e falta de realização profissional.

De acordo com o estudo, a maioria dos médicos não possui um estilo de vida que leve a uma saúde melhor. A maior parte dos médicos participantes não tem um boa noite de sono, por exemplo, sendo que apenas 35% afirmaram dormir entre 6 e 8 horas de sono. Quando questionados acerca da prática de atividade física, a maioria, 70,7%, pode ser considerada sedentária tendo uma prática de atividade física irregular ou ausente em sua rotina.

O nível de estresse também foi avaliado na pesquisa e os participantes atribuem a carga de estresse ao descontentamento com o sistema de saúde e às condições de trabalho, seguidos da elevada demanda e poucas recompensas profissionais. Para 57% dos entrevistados, o nível de estresse impacta no desempenho no trabalho.

O estudo deixa claro que é preciso dar mais atenção à saúde daqueles que estão 24 horas prontos a salvar vidas e que apesar de carregarem o estigma de heróis também merecem atenção e cuidados.


Dr. Altino José de Souza é presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Mato Grosso (Sindessmat)
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