Opinião
Quem chegará ao Senado por MT em 2026?
Caíque Loureiro
Quando falo de eleições em minhas aulas, sempre digo aos alunos a importância de olhar a história e a evolução das escolhas eleitorais, pois ela diz muito sobre o comportamento do eleitor. Pois bem, resolvi olhar para o passado e tentar construir uma opinião sobre as eleições de Senadores em 2026, em Mato Grosso. Convido vocês a imergirem nessa análise. Primeiro vou apresentar o contexto nacional em que as eleições acontecerão, depois o histórico em Mato Grosso e, por último, uma análise dos nomes ventilados até o momento. Antes de mais nada, quero deixar claro que este artigo é totalmente isento de ideologia, apenas baseado em fatos e dados.
Desde a redemocratização do Brasil, no final da década de 1980, foi na eleição de 2022 que sacramentou a maioria absoluta dos partidos de direita nas cadeiras do Senado brasileiro. Entre 1987 e 2015, esses partidos tinham, em média, 30,5% das vagas. O crescimento forte se deu nas eleições de 2018 e se consolidou nas eleições de 2022, atingindo 64% das vagas, ou seja, 21 das 27 cadeiras eleitas naquele ano. O curioso é que, nessa mesma eleição, o desempenho presidencial deu vitória à esquerda, liderada por Lula.
Tudo inicia em 2013, quando, pela primeira vez desde a redemocratização, a direita brasileira sai às ruas. O movimento (que usou a camisa canarinho da seleção brasileira) ganhou força e levou ao impeachment de Dilma em 2016. Cria-se, então, um universo paralelo para a extrema-direita, o que leva a uma vasta necessidade de validação de crença. Essa necessidade é fomentada pelas plataformas digitais, principalmente o WhatsApp.
A direita chega ao poder liderada por Bolsonaro, e o movimento eleitoral se irradia para as eleições ao Senado. Naquele momento, tínhamos uma esquerda que vinha humilhada nas eleições municipais de 2016, derrotada em 2018 e com o seu maior líder preso, além de uma ex-presidente (Dilma) derrotada ao Senado em MG. O cenário parecia um prenúncio do fim do PT no Brasil. Porém, quatro anos depois, tivemos uma reviravolta, e Luiz Inácio vai de presidiário a presidente novamente derrotando Bolsonaro.
Mas isso não significava o enfraquecimento da direita, pois no Congresso e no Senado vimos o ápice do desempenho eleitoral dos partidos dessa ideologia. O que havia acontecido era uma espécie derrota individualizada, perdeu um personagem e não uma ideologia, como diz o cientista político polonês Adam Przeworski, o eleitor faz do voto pedras de papel (paper stones).
O que vimos após a derrota no Executivo foi a postura de um grupo mais extremista de direita, exaltadíssimo, e, aqui, para descrever uma tentativa de autocratização, empresto a fala dos cientistas políticos americanos Levitsky e Ziblatt: criaram um projeto para “capturar o árbitro, tirar da partida as estrelas do time adversário e reescrever as regras do jogo em seu benefício”. Esse movimento e suas consequências mantêm viva a polarização até hoje.
Ok, mas o que isso tem a ver com a eleição do Senado? Bom, todo esse contexto criou uma guerra fria entre os três poderes brasileiros, o que levou a uma overdose de conteúdos no WhatsApp e nas redes sociais, dando uma relevância maior ao Senado e à Câmara dos Deputados entre os assuntos do cotidiano da população. Posso afirmar tranquilamente que esta eleição de Senado será mais ideológica do que pragmática, pelo momento em que o país vive.
Bom, agora vamos falar das eleições de Senadores em Mato Grosso. Farei uma análise das sete disputas eleitorais que aconteceram neste século. Nessas eleições, tivemos oito personagens diferentes eleitos. Fatos curiosos neste século são que cinco ex-governadores tentaram se eleger senadores: dois conseguiram a vitória, Blairo e Jayme; já Bezerra, Dante e Pedro Taques amargaram derrotas. Dois deputados federais de carreira conseguiram migrar para senador: Jonas Pinheiro e Wellington Fagundes. Dois vice-governadores tentaram a vaga, mas só um conseguiu a vitória, o atual senador Carlos Fávaro; já Rogério Salles amargou duas derrotas.
Outros dois perfis também foram vitoriosos: os juristas Pedro Taques (na sua primeira eleição) e Selma Arruda, ambos naquele momento sem histórico de disputa eleitoral. E não podemos esquecer uma personagem que fugiu dos padrões anteriores: a deputada estadual por duas vezes, e eleita senadora com votação surpreendente, Serys.
Vou me ater apenas às eleições de dois votos, pois elas nos revelam alguns comportamentos repetitivos ao longo da história. Primeiro, o segundo voto é muito descompromissado e, em todas as eleições deste século, tivemos a vitória de alguém que começou bem abaixo nas pesquisas. São eles: Serys, Pedro Taques e Selma Arruda. E o mais surpreendente é que todos derrubaram favoritos. Serys derrubou Dante (ex-governador) e Bezerra (ex-governador); Pedro Taques venceu Antero (ex-senador) e Abicalil (ex-deputado federal); e Selma Arruda deixou a ver navios Fávaro (ex-vice-governador) e mais dois deputados federais, Nilson Leitão e Sachetti. Se essa lógica se mantiver, podemos dizer que alguém que hoje aparece tímido nas pesquisas pode surpreender.
Outro fato interessante é a dobradinha de vitória das chapas entre governador e senador. Uma das vagas do Senado sempre esteve ligada à coligação vitoriosa do Executivo estadual. Vamos analisar esse fato com os outros três que se elegeram nas eleições de duas vagas deste século. Jonas Pinheiro venceu em dobradinha com seu candidato a governador Blairo Maggi; Blairo ganhou para senador em dobradinha com seu candidato a governador Silval Barbosa; e Jayme também se elegeu em sintonia com seu candidato a governador Mauro Mendes. Logo, podemos concluir que o primeiro voto tem forte relação com o grupo político; é o voto mais compromissado. Agora, um fato para apimentar as apostas: toda eleição de dois votos para senador neste século que teve mulheres candidatas, uma delas venceu!
Então, se a história não falhar, posso afirmar que teremos três perfis que respeitam o comportamento histórico do voto em Mato Grosso. São eles: o candidato a senador que estiver colado ao governador que se eleger; um candidato a senador surpreendente, que hoje ainda não figura entre os favoritos; ou uma mulher que sempre surpreende no segundo voto — aí estão Serys e Selma que não me deixam mentir.
Levando em consideração o contexto em que a ideologia será o peso forte da balança, façam suas apostas! Pois os personagens se repetem: temos governador tentando migrar para o Senado; uma deputada estadual alçando voo a Brasília; senador tentando reeleição; deputado federal querendo atravessar da Câmara para o Senado; ex-governador e ex-senador querendo voltar para a capital brasileira. Sem dúvidas, será a melhor eleição de senadores de todos os tempos.
Caíque Loureiro , é mestre em Marketing, Professor de Graduação e Pós- Graduação; como marqueteiro político já assinou dezenas de campanhas eleitorais em Mato Grosso, entre elas Flavia Moretti e Gisela Simona.