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Opinião

Daqui não saio

Gabriel Novis Neves

Ninguém consegue me afastar da minha Cuiabá. “Terra agarrativa e linda” do poeta Gervásio Leite, das quadrinhas humoradas do historiador Rubens de Mendonça, de Dom Aquino Corrêa, autor da letra do Hino de Mato-Grosso. Cuiabá, a grande mãe desta civilização, nunca rejeitou a adoção de um filho. Na sua imensa generosidade abrigou a todos aqueles que por aqui aportaram. Sempre os tratou como filhos de sangue, e não adotivos.

O maior exemplo que posso dar do que escrevo sobre a minha querida Cuiabá, é a minha própria família. Do lado materno ela recebeu com carinho um baiano-judeu (Novis). Fez-se cuiabaníssimo, com raízes profundas nesta cidade. Do lado paterno a nossa Cuiabá adotou como filha, uma carioca filha de gaúcho com uruguaia. Essa carioquinha encantou-se por um nativo (Neves). Um, dos dezenove filhos dessa carioquinha, casou-se com uma das netas do baiano-judeu, dando origem aos nove filhos chamados de Novis Neves - união do Bugre do Bar com a Irene do Itaicy. Eu nasci em Cuiabá, na Rua de Baixo, onde o meu umbigo está enterrado. Casei-me com uma argentina, mãe dos meus três filhos cuiabanos nascidos no Hospital Geral.

O que mais me atrai em Cuiabá? Tudo. Sua gente, sua cultura, seu linguajar, seu eterno bom humor. Poderia ser conhecida, tanto como cidade-verde, como cidade dos apelidos. Tudo por aqui recebe um apelido: pessoas, ruas, avenidas, prédios, parques, festas, enfim, nada nesta gostosa cidade fica imune a aumentar, com humor, o seu nome de batismo.

Possuímos até professores especializados no assunto. O mestre dos mestres leciona na Avenida Beira-Rio. A ingenuidade da minha gente é comovente! E só para lembrar: esta cidade receberá os restos mortais da seleção do Dunga em 2014, com todo o calor humano de que somos portadores. A simplicidade e humildade do cuiabano – que para mim são todos os que vivem na cidade do Senhor Bom Jesus de Cuiabá - é pura poesia, e poesia não morre jamais. Por isso seremos sempre a eterna capital de Mato-Grosso! De nada adianta, portanto o desespero de alguns que por aqui passaram e logo foram embora, preferindo as riquezas dos nossos campos férteis e garimpos. Ainda bem!

Caminhando certo dia pela calçada de uma das principais avenidas de Cuiabá, vejo um muro meio inclinado, quase desabando. Ao me aproximar do dito cujo, chegando ao ponto mais perigoso, leio uma pequena inscrição no muro recém caiado de branco: “Cuidado! Muro está caindo!” Imediatamente liguei este “cuidado” com os transeuntes, obrigados a fugirem para a pista de alta velocidade dos automóveis, onde os riscos são bem maiores, com uma marchinha carnavalesca. Foi composta por Paquito e Romeu Gentil, para o carnaval de 1950.
Daqui não saio

Daqui ninguém me tira...

Onde é que eu vou morar...

Em lugar nenhum do mundo irei encontrar uma cidade tão inspiradora, humana e romântica, como a minha querida Cuiabá.
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