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Opinião

Pantanal Ameaçado

Rubem Mauro Palma de Moura

A maior planície alagada do planeta é o nosso Pantanal, que orgulho, e que decepção ao mesmo tempo. É que mesmo tendo o privilégio de possuir em terras mato-grossenses tamanha riqueza, este bioma sangra diante de tanto descaso público, da inércia em desenvolver e proteger. Nosso Pantanal sofre, seja por escassez de peixes, seja pela fragilização das espécies forrageiras.

Os culpados são vários, mas, vamos ressaltar um fato bastante noticiado; o tanque de vinhaça da usina de Açúcar e Álcool, denominada "Porto Seguro", implantada às margens de um Córrego, afluente do Rio Tenente Amaral no município de Jaciara se rompeu, chegando esse rejeito ao curso d'água.

Esse resíduo altamente tóxico, além do odor fétido e com DBO e DQO altíssima, consumiu o oxigênio das águas do rio, provocando a mortalidade de peixes por asfixia. Esse Rio é afluente do Rio São Lourenço um dos mais importantes formadores do Pantanal. Isso só ocorreu, porque os órgãos licenciadores e fiscalizadores não seguiram as orientações para que essas industrias e seus respectivos tanques de rejeitos, fossem construídos nas partes mais altas da sua área e o mais longe possível dos cursos d'água, onde tanques auxiliares pudessem ser construídos a fim de barrar possíveis rompimentos como esse que aconteceu.

Ainda, dentro do tema, vamos falar das cidades e seus resíduos. Não existe agressão maior ao ambiente do que as provocadas pelas cidades. Elas suprimem a vegetação natural, impermeabilizam o solo, produzem resíduos sólidos, líquidos e gasosos, que se não tratados com a necessária eficiência, irão com certeza provocar danos ambientais. 53 dos 141 municípios do nosso estado drenam para a bacia do Rio Paraguai, levando esses resíduos e impactando o ambiente pantaneiro. Nem 30% dos esgotos são coletados e tratados e mais de 3% dos resíduos sólidos flutuantes gerados acabam chegando aos rios.

Se formos analisar apenas esse impacto causado pelas duas maiores cidades do estado, Cuiabá e Várzea Grande, elas produzem e lançam sem tratamento algo em torno de 3 m3/seg de esgoto, o que comparativamente seria um rio do porte do Coxipó chegando ao Rio Cuiabá. Essa situação só não é mais crítica porque a vazão do Rio Cuiabá que em época de seca antes da APM Manso era de 80m3/seg., passou a ser de 175m3/seg., lhe proporcionando um poder de diluição preservando o oxigênio que ainda garante a vida aquática, pois 88% da vazão do Rio Cuiabá hoje, vem de Manso.

Ainda nessas duas cidades, o lixo flutuante não coletado por parte do poder público e lançados na natureza pela falta de educação de uma grande parcela da população, chega ao Pantanal, impactando a vida aquática e a beleza cênica desse ambiente ímpar. Em um cálculo bastante otimista, as primeiras chuvas, depois de aproximadamente três meses sem precipitações, carrearão algo em torno de 25 toneladas de lixo flutuante que irá nos envergonhar ao recebermos turistas e perante ao mundo por sermos tão irresponsáveis com um dos maiores dos nossos patrimónios. Isso ainda sem levar em consideração a parcela submersível que representa 35% e a matéria orgânica que é da ordem de 50%.

Como se tudo isso não bastasse, a cidade de Poconé, porta de entrada do Pantanal, berço de valentes preservacionistas, que tem feito da pecuária extensiva por mais de 200 anos, a maneira correta e sustentável para a lida com essa atividade, tem sofrido com a atividade do garimpo. Assoreando e poluindo córregos, mudando paisagens e fazendo da cidade algo parecido com as crateras da lua, ainda tem que conviver com a bandidagem, a prostituição e o ouro dali retirado, pouco tem contribuído para a sua melhoria social.  Apesar de tudo isso, ainda há pessoas, despreparadas ou cegas, que atribuem às PCHs, a destruição do Pantanal.


Rubem Mauro Palma de Moura é Mestre em ambiente e Desenvolvimento Regional, Professor aposentado da UFMT e consultor.
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