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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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A bigamia foi liberada?

Arquivo Pessoal

Não faz muito tempo elegi os ombros de um amigo para chorar minhas pitangas. É um homem inteligente, aquele tipo de pessoa que dá gosto de conversar, jamais terminamos um papo sem eu ter aprendido alguma coisa, nem que seja uma receita de peixe, ele adora cozinhar.

Nos conhecemos há mais de trinta anos. Acompanhei sua fase de namorador, fui testemunha do seu casamento e estive ao seu lado quando a união acabou. Ele é aquele tipo de amigo com qual tenho a liberdade de falar sobre tudo, sem constrangimentos. Às vezes esqueço que ele é homem, comento coisas, pergunto outras que só sendo uma mulher para saber como é. Nessas horas, ele me olha fixamente, arregala os olhos e eu me toco que ele é XY. É clichê, sei, mas o que seria de nós se não tivéssemos bons e verdadeiros amigos para nos acolher, aconselhar, alegrar, falar o que nos faz bem, até mesmo o que não desejamos escutar?

Amigo verdadeiro, de fé, raça e coração nos fala o que ninguém mais ousa mencionar.

Neste dia o foco da prosa era sobre relacionamentos, as esperanças que criamos em relação aos mesmos, os conflitos existentes e as frustrações decorrentes da não correspondência das nossas expectativas.
Como dizem lá nas Minas Gerais : oh, trem difícil !

Relacionar-se exige boa vontade e muitas concessões. Relacionar-se saudavelmente, atinge o patamar das artes e relacionar-se sem criar expectativas penso que não é para gente desse mundo. Ah, não é mesmo!

Por mais que saibamos que não se deve esperar nada do outro, dificilmente nos relacionamos sem criar esperanças, por menor que seja, de algum tipo de retorno.

Esse retorno não está fundamentado em lucros incessantes, vantagens políticas ou influência social. Esse retorno poderá ser desejado por uma demonstração de afeto, gratidão, respeito, reconhecimento, companheirismo, amizade, fidelidade. São muitas as roupagens. Um exemplo bem clássico é o nosso sentimento enquanto pais. Educamos nossos filhos com amor e zelo, passamos a eles os princípios da ética, da moral, investimos na sua formação acadêmica, enfim... Qual a expectativa que teremos? No “mínimo” que seja um homem de bem. Este desejo não deixa de ser uma forma de retorno.

Não descarto a possibilidade de ser pequeneza da minha alma esperar algum tipo de manifestação vinda do outro lado.
Às vezes desejamos que o outro tenha compaixão com nossas pequenas faltas, que não nos atire pedras diante de um deslize qualquer cometido. Afinal, dói muito uma atitude impiedosa vinda de alguém que amamos.

Então... eu e meu amigo sabido estávamos há um bom tempo compartilhando nossos sentimentos quando ele indagou:
“Quantos filhos você tem” ?

Ai foi minha vez de olhar firme para ele, arregalar os olhos e fazer cara de samambaia.

“Que pergunta... Você foi ao batizado dos dois, lembra-se” ?

“Sim... e se eu te disser que você tem quatro filhos”?

Me assombrei e momentaneamente cheguei a cogitar que meu amigo sabido havia perdido não somente a sabedoria, mas o juízo e a razão. Como sei que ninguém se dilui assim tão rapidamente, indaguei onde ele queria chegar com aquela fala.
E aí ele soltou o verbo: quando digo que você tem quatro filhos é pelo fato de carregar dentro de você dois filhos idealizados, mas fora de você existem dois filhos reais.

Inicialmente achei estranha a colocação, mas aos poucos, conforme ele foi pontuando, acabei por concordar. Trocando em miúdos:

Idealizamos alguém ( não importa o tipo da relação) e quando nos deparamos que esse alguém não é como o idealizado, a confusão pode começar. E ela vai ter seu início a partir do momento que passarmos a querer e exigir que a pessoa pense e se comporte como idealizamos. A coisa não funciona assim e isso gera confusão de toda ordem nas relações.

Essa parada também se aplica aos namorados(as), esposas e maridos.

Sendo assim, a bigamia está liberada ?

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