Olhar Conceito

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Colunas

Quatro centavos, o sabor da vingança!

Arquivo Pessoal

“Boa tarde”!
“Boa tarde”!
“Qual o seu destino”?
“Cuiabá via Brasília, voo das 18h12”.

“Um documento, por favor”!
Saco a minha identidade e entrego ao jovem atendente que se encontra atrás do balcão da companhia aérea.

Passados alguns minutinhos, ouço: “Senhora, por favor, coloque sua bagagem na esteira”.
Falo: “Preciso que você me faça o favor de colocar mais um plástico nestes dois pacotes, é possível”?
“Sim, senhora. Tem algum eletrônico, coisa frágil , perecível ou que possa quebrar” ?
“Não”, respondo.

Mais alguns minutos e novamente o jovem e prestativo atendente, trazendo na face um sorriso simpático, fala:
“Senhora, o peso da sua bagagem está ultrapassando o limite permitido”.
Eu, com a minha melhor cara de surpresa, respondo:
“Sério ? Nossa, minha mala é tão pequena e está tão leve”!
“Sim, o excesso se deu pelos volumes à parte”, ele prosseguiu.
“Hum... entendi”...
Olho para o crachá dele, requisito meu melhor sorriso e falo: “Anderson, de que forma você pode me ajudar ? Afinal, um quilinho a mais”....
“Senhora, penso que não vou poder ajudá-la neste sentido, porque não foi pouca coisa, foram 14 quilos a mais, quando é assim, o sistema trava e não passa nada”.
“O que, 14 quilos ? Você viu direito” ?
“Sim senhora, está tudo conferido, o permitido são 23 quilos e o total da sua bagagem foram 37 quilos”, asseverou.

Ainda na tentativa de comover aquele jovem rapaz disse que outro dia minha bagagem deu 35 quilos e eles não tinham cobrado à parte.

“Mas seu voo era nacional ? Porque no internacional são 33 quilos e dependendo da classe que a senhora viaja, pode ser até mais”.

Pois é...
E quanto vai me sair essa brincadeira?
Um total de R$ 302,99.

“Ok... pago aqui mesmo”?
“Não, vou despachar tudo e entrego um ticket para a senhora acertar na loja da companhia logo ali na frente” .
“Ai eu volto aqui para pegar o bilhete”?
“Não precisa , lá mesmo eles lhe darão outro para o embarque”.
Despeço-me do gentil atendente e me dirijo à loja da companhia.

“Boa tarde”!
“Boa tarde”!
“Vim acertar o excesso da minha bagagem”. E entrego o ticket com a dolorosa conta para uma bela moça que estendeu a mão para pegar, mas nem levantou a cabeça para me dirigir o olhar.
Àquela altura eu já não estava mais achando ela tão bonita assim, muita falta de educação falar sem olhar nos olhos.

Enquanto a mal amada refazia as contas, busco na carteira o valor correspondente. Rapando a carteira juntei 302,95 reais.
Eu disse a ela: “Você não pode tirar estes quatro centavos”?
Sem ainda me olhar, respondeu: “NÃO posso”!

Aquilo me deu um ódio...
Eu poderia passar o cartão, mas como eu tinha um bom tempo ainda para pegar o voo, resolvi embirrar.

Mais uma vez me dirigi à assombrada e disse que iria providenciar o valor, que já voltaria. A negativa dela em abater os quatro centavos e a forma que ela me respondeu ficaram entaladas na minha garganta.

Fui atrás de um caixa eletrônico e retirei uma nota de cinquenta reais, deveria era ter retirado cem reais, mas enfim...

Voltei para o balcão onde estava a simpática, a aguardei atender o senhor que estava à frente e lhe entreguei R$ 350,00.
Desta vez ela levantou a cabeça, mas manteve a cara amarrada.

Eu estava atentíssima aos movimentos dela e assim que ela me entregou o troco que deveria ser de R$ 47,01, constatei que tinha somente R$47,00.

E então, calmamente olhei para ela e disse:
“Senhora, está faltando um centavo”.
Com cara de poucos amigos, respondeu que não tinha.
Com toda a fineza que me foi possível para o momento, disse que não ficaria sem o meu um centavo.

Naquela hora ela resolveu me olhar bem dentro dos olhos e incrédula com o que ouvia, repetiu que não tinha.
Eu com minha melhor cara de samambaia, disse que providenciasse, afinal eu não poderia ficar sem o devido valor.

A expressão do seu rosto estava uma coisa linda de se ver, mas me mantive com os ombros eretos, na maior calma, fiquei olhando docilmente para ela e aguardei.

A fila atrás de mim começou a aumentar e ela se impacientava mais e mais até que veio uma outra atendente e disse que também não tinha, ambas olharam para mim com cara de não tem!
Eu as olhei com cara de que dali não sairia sem meu um centavo.

Enfim... quando a horrorosa viu que eu não iria arredar o pé, levantou-se, foi até uma bolsa que presumo ser dela e dirigindo-se a mim me deu cinco centavos e quase gritando falou : “Não precisa me dar troco!”.

Eu até que gostaria de continuar com o perrengue, estava animada aquele dia, mas me dei por satisfeita e parti linda e faceira para a sala de embarque.

Pois é... olha a ironia da coisa, os quatro centavos que ela se negou em me dar de desconto e da forma mais deseducada possível foram os mesmos quatro centavos que ela abriu mão para ter sossego.
Pensemos nisso!

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*Isolda Risso é pedagoga por formação, coach, cronista, retratista do cotidiano, empresária, mãe, aprendiz da vida, viajante no tempo, um Ser em permanente evolução. Uma de suas fontes prediletas é a Arte. Desde muito cedo Isolda busca nos livros e na Filosofia um meio de entender a si, como forma de poder sentir-se mais à vontade na própria pele. Ela acredita que o Ser humano traz amarras milenares nas células e só por meio do conhecimento, iniciando pelo autoconhecimento, é possível transformar as amarras em andorinhas libertadoras.

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