Uma poetisa de livro novo na praça! Claro: um bom motivo, um ótimo motivo e propício a se comemorar, ainda mais quando considerada a quadrada (das águas perdidas) vivida por todos nós nosotros do Brasil nos últimos anos, em especial no tocante às coisas da arte, da cultura, da educação.
Adiante, pois, conforme nos advertiram os poetas Paulo Diniz e Roberto José (na canção ‘Janira’), “já é chegado o dia e hora e meia já se faz”.
A escritora em tela faz parte de uma safra de novos poetas, em particular, poetisas que têm aflorado na cena cultural da terra, de 2010 para cá, pelo menos. Embora ela diga que não é, de fato, parte militante de um Coletivo de Mulheres Poetas, eu a ligo a outras, dentre as quais cito Diná Vicente – e proclamo as duas, sem favor nem sombra de dúvida, as minhas preferidas dessa geração aqui destacada.
Lucileide, em seu fazer literário, apresenta, a meu ver, a tendência eternizada por uma linhagem de poetas filosóficos, os poetas-filósofos a exemplo de Fernando Pessoa, para o Universo. Já quanto à poesia feminina, e brasileira, há também de se lembrar de Cecília Meirelles em sua ligação com o hinduísmo, os Vedas, toda a magia do mundo oriental, de gentes e natureza para, quem sabe, tornar a vida um fado bem mais leve que um fardo.
Na verdade, o eu poético da autora local almeja alcançar paragens ainda mais espirituais, por assim dizer; namora, mesmo, o decididamente esotérico, o contemplativo, aproximando-se, nesse sentido, dos versos do indiano de expressão bengali Rabindranath Tagore.
Senão, vejamos.
Na de título por demais sugestivo “Somos pó”:
“(...) Somos da terra / do pó, do chão / Inclinamos ao sagrado / pela luz que habita / nosso coração / Pela consciência integrada / com o cosmo e todos os seres / frutos da criação / Amemos a terra, nosso lar / onde todos são irmãos”.
No livro há muitos, muitos poemas falando de amor, afinal trata-se de uma mulher-poeta, poeta-mulher. E então, esse nobre sentimento, para a maior parte da humanidade o maior dentre todos (eu bem o sei), derrama-se por todo o livro: só na Parte I, sintomaticamente intitulada “O chamado do Amor”, a palavra e sua derivada ‘amar’ se fazem presentes em nada menos que 13 títulos; na Parte II, em mais três; e na Parte III, em mais um. Entretanto, apesar da abundância, quase não resvala em sexo, o amor quase nunca remete ao carnal.
Até nisso, veja bem a leitora, o leitor, a poetisa aqui se aproxima de Tagore, pois são dele, afinal, os versos: “Não quero amor que não saiba / dominar-se / (...) Dá-me esse amor que conserva / tranquilo o coração, / na plenitude da paz”. Coisa de quase um século depois, a lição do Mestre ainda ecoa em Lucileide: “Vi o Paraíso / (...) Fiquei maravilhada / Sua essência revelada / Uma expressão do Senhor. / Neste momento vi a possibilidade / De a humanidade voltar para casa / Só desejar tirar o véu da ilusão e / viver no amor”.
Entre amores, em busca de paz búdica ou cristã, entre reflexões, filosofias e poses contemplativas, vai o livro qual um mar, qual um rio, feito o Riacho do Navio dos poetas populares.
Seu possível, provável ancoradouro? Não sei. Só sei que a partir de agora uma rosa pode desabrochar também, plenamente, para você.
Tens aí uma rosa em tua mão.
SERVIÇO
EVENTO: lançamento do livro de poesia "A Rosa Vermelha do Arco-Íris", de Lucileide Queiroz
ONDE: Biblioteca do Sesc Arsenal
QUANDO: dia 19 de outubro, quarta-feira, a partir das 19h