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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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O 'artivismo' de Linha Dura: conheça o rapper que há vinte anos usa a arte como salvação

Foto: Da Assessoria

O 'artivismo' de Linha Dura: conheça o rapper que há vinte anos usa a arte como salvação
A arte salva vidas. O rapper Linha Dura sabe muito bem disso. No último dia 15 de maio, participou de uma apresentação junto à Orquestra Sinfônica da UFMT, mas muito antes de subir no palco do teatro ao lado do maestro, e muito longe dos holofotes da mídia, Paulo Ávila usa a música como forma de ativismo social.

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Nascido no bairro CPA 1 e crescido no Alvorada, o cuiabano começou a cantar rap aos 15 anos de idade. “Eu comecei porque eu queria mandar minha mensagem, como ferramenta de protesto, que é o que eu faço até hoje na verdade”.
Procurando entender a cena do rap no país e buscar os instrumentais de rap, enquanto gravava suas fitas demo sozinho, Linha Dura viajava para São Paulo quase todos os meses. “Eu fui o primeiro rapper de Cuiabá a ter a oportunidade de gravar em um estúdio mesmo, em 97, lá em São Paulo”, conta. Para comprar as passagens, juntava o dinheiro que ganhava vendendo maçã e laranja na Rodoviária de Cuiabá.

O contato com os rappers paulistas lhe deu a oportunidade de passar a adolescência nessa ‘ponte rodoviária’. Foi em 2004, que após conhecer a Central Única das Favelas (CUFA) do Rio de Janeiro, ele trouxe o rapper MV Bill para Cuiabá para uma palestra e um show, e foi convidado pra ser o fundador da CUFA na cidade.



“A gente sempre teve uma responsabilidade social por meio do rap, mas a gente sempre trabalhou sem CNPJ, vamos dizer assim. O movimento Hip Hop sempre fez ações, como movimento Hip Hop, e partir de 2004 a gente criou uma associação mesmo. E por meio dela a gente conseguiu ter apoio de recurso. Porque até então chamavam a gente e o projeto já tava pronto, e era como se a gente fosse um funcionário do projeto. E a partir desse momento a gente passou a ser protagonista”, conta.

O nome da associação foi importante como respaldo durante muito tempo, mas em 2012 Linha saiu do projeto por falta de liberdade, já que tudo tinha que passar pelo aval da CUFA do Rio de Janeiro. Sem medo das dificuldades, em 2010 ele já tinha criado um novo coletivo, Toda Vida, que sobrevive até hoje.


Linha Dura na apresentação 'A nova música de Mato Grosso' (Foto: Da Assessoria)

No comando desse coletivo, o rapper já criou até mesmo um bairro. “Chamado Vila Toda Vida, e até hoje o bairro existe, as pessoas moram lá e temos muitos projetos sociais. (...) A Toda Vida era uma gíria de uma gurizada do bairro e eu comecei a dar vida nessa gíria. Transformei na Toda Vida Produções, que é nossa agência. (...) Lançamos nossa grife, também, que é a Toda Vida Wear, e tudo isso paralelo ao bairro também”, conta.

Linha considera a criação desse bairro sua ação mais ousada e perigosa. “Porque não pessoas disputando pedaço de terra, uma coisa muito séria. Até quando eu tava na liderança eu consegui equilibrar fazendo com que ninguém tomasse terra de ninguém, até porque eu nunca vendi terra lá”. Com a ação social, os presidentes de bairro e alguns moradores começaram a ficar desconfiados, e até a fazer denúncias de que o rapper estaria se aproveitando da situação. Apesar das dificuldades, a Vila Toda Vida existe até hoje. Por mais que esteja ‘oficialmente’ com outro nome, as ações continuam.
O Toda Vida como coletivo também está ativo. Ali, Linha Dura une adolescentes e trabalha com arte. “Nós temos uma oficina de serigrafia, estrutura de som, home estúdio, a gente dá aula”, conta.

Ele também vai instalar no bairro uma academia de MMA. “Lá sempre teve a cultura do boxe, que na periferia vem da cadeia. Os caras gostam de sair na mão mesmo, sem acertar a cara, um desafia o outro. E eu tenho uma série de filmagens dessas lutas da gurizada, e agora a gente quer pegar esse potencial de ficar saindo na mão, e ensinar a equilibrar isso aí”. Além de ficar no bairro, Linha também circula por escolas, outros bairros e até bocas de fumo.

“Eu levo meu Home Studio e começo a falar de rap pros caras. (...) Às vezes o cara que ta no tráfico e ta sempre numa biqueira nem sai. Ele fica ali todo dia. Então a gente leva o som e começa a falar, troca uma ideia. A galera gosta, mas é uma troca de ideia mais reta, é um cara que não é qualquer coisa que vai tirar o cara do crime, não é o rap que vai fazer o cara sair. A gente leva pra talvez a arte mostrar uma luz. Mas não tem a ilusão que vai resgatar nada. A gente sabe que o que iria resgatar seria gerar emprego”.

Com os adolescentes do coletivo é diferente. Segundo Linha, cada um tem uma história mais ‘sinistra’, e a partir do momento em que entram no mundo da música, chega uma hora em que eles têm que escolher pra onde ir. Foram esses garotos que subiram ao palco junto ao Rapper na apresentação com a Orquestra, e são dezesseis deles que farão participações especiais no novo álbum de Linha, que será lançado ainda no primeiro semestre.

Carreira


Linha Dura e o maestro Fabrício Carvalho (Foto: Luzo Reis)

Apesar de cantar e estar envolvido no mundo do rap há vinte anos, Linha Dura conta que só conseguiu viver de música este ano. Assim como muitos outros artistas, ele não acreditava que era legítimo transformar sua arte em um produto vendável. “Eu sempre fiz da minha arte um ‘artivismo’, e hoje eu continuo na mesma pegada do ativismo, mas eu consigo entender que a gente tem que transformar em um produto e vender, entendeu (...). É mais uma mudança de chave na mente mesmo”.

Levando seu ‘artivismo’ para dentro do Teatro da UFMT, por exemplo, ele conseguiu apresentá-lo para um público que, segundo ele, era formado em 90% por pessoas que não o conheciam. “Querendo ou não, por mais que se esforce, essa música não ta no mundo comercial. Você não vai escutar rap nas rádios ainda, então quem foi teve a oportunidade de escutar o meu trabalho autoral, verdadeiro, que ta aí há muito tempo e que talvez não chegou pra muitas pessoas ainda”.

Na apresentação com a Orquestra, Linha Dura cantou as músicas “Esse é o mundo dos homens” (que mostra os pensamentos de um detento que não entende porque as mulheres nunca saem do lado dele), “Sentimento reflexo” (os devaneios e a agonia de uma pessoa sob o efeito de drogas ) e “O querido” (fala sobre um homem que quer ser o querido da quebrada). As músicas de Linha Dura podem ser ouvidas online AQUI.

Shows

Nesta quinta-feira (26), o rapper Linha Dura se apresenta às 20h na Praça do Pedra 90, junto a Wellington Berê, Rajada e Luciano Controverso. No próximo domingo (29), o show será na Praça do Jardim Vitória, ás 18h. As apresentações têm apoio da Prefeitura municipal de Cuiabá, através de um edital da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo.
Para saber mais sobre o trabalho de Linha Dura, acesse a FAN PAGE e o YOUTUBE.
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