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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Roteirista e diretor cuiabano escreve final alternativo para Game of Thrones a convite do Olhar Conceito

Foto: Reprodução/Internet

Roteirista e diretor cuiabano escreve final alternativo para Game of Thrones a convite do Olhar Conceito
Após oito longas temporadas, o último episódio da série da HBO ‘Game of Thrones’ foi ao ar no último domingo (19), dividindo a opinião dos fãs. Enquanto alguns se disseram satisfeitos, outros afirmaram estar decepcionados com o rumo que a história tomou.

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‘Game of Thrones’ é o primeiro livro da série de fantasia épica ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’, escrita pelo norte-americano George R. R. Martine. Lançado originalmente em 6 de agosto de 1996, o livro venceu o Prêmio Locus de 1997 e o Prêmio Nebula de 1998. A série baseada no livro começou em 2011, nos Estados Unidos.

Para contemplar os fãs brasileiros que não ficaram satisfeitos com o final, o Olhar Conceito convidou o diretor e roteirista Bruno Bini a reescrevê-lo, como ele acredita que ficaria melhor. Bruno é roteirista e diretor desde 2001. Seus filmes foram selecionados para diversos festivais no Brasil e exterior e receberam mais de 50 prêmios, sendo 13 de roteiro. Esse ano Bruno lança Loop, longa-metragem em coprodução com Globo Filmes, tendo Bruno Gagliasso como protagonista e Fernando Meirelles como produtor associado.

Bruno Bini (Foto: Arquivo)

Leia abaixo a íntegra do ‘final alternativo’ escrito por Bruno:

King’s Landing está destruída. As cinzas ainda caem, se misturando a uma fina camada de neve.

No pátio, Drogon repousa tranquilo. O calor do seu corpo derrete a neve ao seu redor. Ele repara em Daenerys, se aproximando. Poucos passos atrás, Verme Cinzento a acompanha, seguido por outros três soldados. O dragão consegue sentir a respiração de sua mãe. Ela está ofegante. Falar com multidões sempre a deixou sem fôlego. Drogon estica seu longo pescoço e ganha um carinho de Daenerys.

O cheiro de mais alguém chama a atenção do dragão. Daenerys olha para o lado. Jon Snow se aproxima. Ela o chama, com um leve movimento de mão.

- Jon...  

Daenerys se sente constrangida em tratá-lo como um súdito. Ele dobrou o joelho. Ele a chama de ‘minha rainha’. Mas os dois sabem qual é o sangue que corre nas veias de Jon.

- Eu quero que esteja comigo nesse momento – diz Daenerys, sorrindo.

Ela sai e Jon a acompanha, pouco interessado com o que ela quer dizer com isso. Ele quer conversar com ela. Danny é sua rainha. Seu sangue. Sua amante. E ela acabou de matar milhares de pessoas. Homens, mulheres e crianças inocentes. E as imagens da carnificina não saem da mente de Jon. No entanto, ele a segue em silêncio enquanto eles andam até o que restou da grande porta à sua frente. Verme Cinzento ordena que os três soldados esperem ali fora, guardando a entrada.

Ao passar pela porta, Jon percebe onde estão. O salão do trono. Não há tochas iluminando o local, mas o teto destruído deixa entrar toda a luz necessária. E lá está ele.

O trono de ferro.

Ele respira fundo, pensando em como sua vida mudou por conta daquele horrível apanhado de metal. E se arrepia ao ser atingido pelo pensamento que gostaria de evitar: ele é quem deveria sentar ali.

Sem cerimônia nenhuma, Daenerys anda até o trono. Lentamente, ela estende a mão e toca o metal.

- É frio - ela diz, com o olhar vidrado.

Jon se aproxima, cauteloso.

- Minha rainha...

Daenerys parece não ouvir.

- Danny... – sussurra Jon. Isso chama a sua atenção. Ela olha para Jon parado ali e percebe que ele não compartilha do entusiasmo dela. Antes que qualquer um deles diga algo, uma terceira voz ecoa no ambiente.

- Cersei, Joffrey, Ilyn Paine, Walder Frey, Meryn Trant...

Jon, Daenerys e Verme Cinzento se viram para o outro canto do salão. Arya anda até eles com as mãos cruzadas nas costas. Jon está confuso.

- Arya... Como você chegou aqui?

Ela sorri, ainda achando graça na inocência do irmão.

- Eu tinha uma lista. De pessoas que eu queria matar. - Ela olha para Daenerys e seus olhos profundamente verdes. A Khaleesi sente um arrepio.

Verme Cinzento está atento, como sempre. Ele firma a pegada na lança em sua mão direita. Sem perceber porquê, anda lentamente pro lado e seu corpo joga seu peso para a ponta dos pés, um instinto de defesa para reação rápida. Arya continua andando e falando, completamente calma.

- Essa lista só não é maior do que a lista das pessoas que eu perdi. Que morreram por causa desse amontoado de ferro.

Jon começa a entender o que se passa na cabeça da irmã. Ela segue, vidrada em Daenerys.

- Ned Stark. Catelyn Stark. Robb Stark. Ryckon Stark. Syrio Forel. Theon. Sandor... Beric... Todos mortos.

- Arya... – Jon interrompe. Ela finalmente olha para o irmão. E fala com ele, serena.
- O Deus da Morte também pode ser uma Deusa da Morte, não?

Arya tira as mãos das costas e joga algo aos pés de Daenerys: um pedaço de madeira queimado. O cavalinho que uma garota carregava ao fugir do fogo no ataque de Drogon à cidade. Daenerys olha, nervosa.

Sem demonstrar nenhum nervosismo, Arya retira agulha da bainha, lentamente. A lâmina da pequena espada brilha.

Verme Cinzento já está empunhando sua lança. Jon olha, enquanto ele avança até a garota. Arya sorri para o irmão.

- O que dizemos à Deusa da Morte?

Verme Cinzento se aproxima veloz e desfere um golpe mortal na direção da garota. A lâmina para a poucos centímetros do coração de Arya. Jon segura o cabo da lança com a sua mão. Ele e Verme Cinzento se olham.

- Hoje não – diz Arya, enquanto dá um passo para trás.

Verme Cinzento puxa a sua lança, fazendo uma curva, levando a lâmina a poucos centímetros do rosto de Jon, que não tem saída senão desembainhar sua espada. Antes mesmo do ar gelado esfriar a lâmina, ela já está se chocando com a arma do líder dos Imaculados. Jon conhece a habilidade de Verme Cinzento, esculpida em anos de treinamento e violência.

- Imaculados! Protejam sua rainha! – grita Verme Cinzento em Valiriano. Enquanto Arya se aproxima de Daenerys, os três soldados entram pela porta, lanças e escudos em punho. Eles percebem o que acontece ali e correm na direção de Arya enquanto Daenerys recua olhando em volta, buscando algo para se proteger.

Antes que eles cruzem o salão, Jon se afasta de Verme Cinzento e se aproxima dos soldados. Com um movimento indefensável, ele atinge um deles no caminho, derrubando-o com um golpe mortal. Isso dá tempo para Verme Cinzento atingir Jon na perna. Ele cai, ajoelhado, com a lança cravada na coxa.

Enquanto isso, Arya encara os dois soldados com uma habilidade inacreditável. Nesse momento, ela é a técnica de Eddard Stark. Ela é a destreza de Syrio Forel. Ela é a frieza de Jaqen H’ghar. Ela é a raiva de Sandor Clegane. Ela é todos eles. E não é ninguém.

O primeiro soldado investe sobre a garota, mas ela gira rapidamente e a lâmina de agulha abre um corte longo na garganta do imaculado, que cai sem vida, sangue jorrando de seu pescoço aberto.

Daenerys tenta sair pela porta. Arya enfia o pé debaixo da lança do soldado morto e a joga para cima, pegando-a com a mão. A garota sabe que não tem a força necessária para jogar a arma, então faz um movimento circular, girando o longo cabo rapidamente. Isso afasta o outro soldado, que recua abrindo espaço para Arya dar um último giro longo. Ela alivia a pegada e deixa o cabo da lança escorregar até quase escapar da sua mão. No último espaço de madeira existente, ela segura e a arma gira, atingindo Daenerys no ombro, arrancando sangue e a derrubando. A targaryen grita de dor.

No pátio, Drogon ouve o grito de Daenerys e reage, se levantando.

Jon segue resistindo às investidas de Verme Cinzento como pode. Ele olha a lança metida na perna e decide arriscar. Segura o cabo da lança e desce a espada com toda força na madeira, rompendo-a. A dor é absurda, mas ele sabe que não há tempo para isso e logo puxa o cabo, retirando a lâmina. Jon vira a sua atenção para Arya e Daenerys. 

A figura monstruosa de Drogon surge no telhado destruído. Ele solta um urro assustador ao ver Daenerys em perigo.

Jon olha enquanto Arya rola agilmente pelo chão cinza e branco e crava agulha nas costas do último soldado. Daenerys recua até o trono. Ela sangra.

Verme Cinzento retira uma pequena espada da sua bainha e ataca Jon mais uma vez, abrindo um corte enorme em suas costas. Jon grita de dor, mas se vira com uma velocidade absurda e Verme Cinzento sequer consegue ver a lâmina passando pelo seu pescoço. 

Enquanto Verme Cinzento cai sem vida e sem cabeça, Jon vê Drogon cair para dentro do salão. O dragão urra assustadoramente.

Arya corre até Daenerys empunhando agulha e sua lâmina vermelha.

Jon tenta correr como pode até a irmã.

- Arya, não!

Ele olha enquanto um brilho de luz vermelha surge entre as presas de Drogon. Daenerys não tem para onde ir. Arya está a dois passos dela, com a espada em punho. A garota pula, enquanto Jon vê o absurdo se desenhar à sua frente.

- Arya! Não!!

Drogon cospe o fogo com vontade, cobrindo Arya e Daenerys com suas chamas. Jon olha, desesperado, enquanto o fogo gigantesco toma conta de quase todo o salão. O dragão não poupa seu fôlego e o tempo passa de maneira assustadoramente lenta para Jon enquanto ele se ajoelha, gritando e chorando.

Finalmente, Drogon recua. O fogo vermelho some.

Em meio à fumaça, Jon tenta ver o que aconteceu. Lentamente, ele começa a distinguir o que há ali.

A fumaça dissipa, revelando o pequeno corpo pequeno de Arya completamente carbonizado.

Uma dor absurda toma conta de Jon, que cai para frente, se apoiando em suas mãos. O chão quente queima o couro das suas luvas, mas ele não parece sentir o calor em sua pele.

Ele grita, destruído, até perder o fôlego. O silêncio toma conta do salão. Ele ouve apenas a respiração de Drogon. E lentamente, algo chama a sua atenção.

O som de alguém respirando com dificuldade. Jon levanta o olhar. Entre as lágrimas, ele a reconhece.

Daenerys está nua, suas vestes foram dizimadas pelo fogo. Jon não consegue crer.

- Jon – ela murmura.

- Danny...

Jon tenta se levantar. A dor na sua coxa é absurda. Mas ele fica de pé, enquanto a fumaça baixa um pouco mais. Daenerys anda lentamente até Jon.

Ele paralisa ao ver a lâmina cravada no peito de Daenerys. Jon reconhece o metal quase derretido da espada de Arya atravessando o coração da Khaleesy.

Ela desaba em seus braços. Sangue escorre pela sua boca. Jon chora enquanto Daenerys dá seu último suspiro. Ele é um homem quebrado.

Drogon os cerca com as suas asas.

O salão é coberto por branco, cinza e vermelho.
 
Olhando o teto da sua cela, Tyrion começa a fazer as pazes com a ideia de que ser queimado vivo não é um destino final tão ruim. O que o ajuda a chegar a essa conclusão é justamente a camada de vermelho escuro que cobre o teto para o qual ele tanto olha. Deitado, o último Lannister procura imaginar que tipo de tortura criativa foi adotada ali para resultar em uma profusão tão grande de sangue. Não é um pensamento confortante para um homem na sua situação.

- Graças aos Deuses pelos dragões – pensa ele em voz alta. Ele se lembra de Jaime ainda criança o assustando com a informação de que o fogo do dragão mata em poucos segundos. O calor destrói terminações nervosas, impedindo a dor excruciante e o seu cérebro praticamente derrete de imediato. Engraçado como algo tão assustador possa servir de alívio algum tempo depois.

O som da porta da cela se abrindo arranca Tyrion dos seus pensamentos. Ele olha, esperando encontrar um imaculado do exército de Daenerys mas encontra três soldados de Winterfell o encarando.
 
Depois de cruzar os corredores escuros do castelo, Tyrion chega até o salão do trono. Ele repara em Drogon esparramado no fundo do salão.

- Ele está nervoso – diz uma voz conhecida. Tyrion se vira e encontra Sor Davos Seaworth com uma expressão solene. – Tem sido um dia difícil para todos. Venha.

Tyrion não tem uma resposta, o que é raro. Ele segue sor Davos, enquanto ele cruza o salão. Finalmente o anão consegue perguntar.

- O que aconteceu aqui?

- Aparentemente, você é o tipo de homem que de alguma forma consegue sempre o que deseja – afirma o velho marinheiro.

Drogon repara nos dois homens se aproximando. O dragão bufa. E abre a asa, lentamente.

- E aí está um homem que consegue tudo o que não deseja.

sob a asa do dragão, Tyrion vê Jon, sentado nos degraus que levam ao trono de ferro. Daenerys repousa sem vida ao seu lado.

O rosto de Jon é o retrato vivo do sofrimento. Com um leve sinal de cabeça, ele dá uma ordem a Sor Davos. Tyrion olha enquanto Jon sobe com dificuldade no pescoço de Drogon.

Davos estende algo para o anão. É o broche de Mão do Rei. Tyrion pega o adereço dourado e olha para Jon, ainda sem reação.

- Preciso que você faça algo para mim – diz Jon.

- Qualquer coisa, alteza – responde Tyrion. O broche pesa mais do que nunca em sua mão.

- Destrua essa coisa maldita – pede o novo Rei enquanto se ajeita em Drogon. O dragão se levanta, revelando o trono de ferro. Com cuidado, Drogon recolhe Daenerys em sua garra.

Sob o olhar de Tyrion e Davos, eles decolam, passando pelo teto destruído do salão.
Drogon voa, batendo as asas gigantescas. Ele corta o céu carregando os últimos targaryen.

Aquela que sonhava em ser rainha.

E aquele que nunca quis ser rei.
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