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Sábado, 20 de abril de 2024

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Assistente social de Guiné-Bissau encanta cuiabanas com tranças e roupas de tecido africano

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

Diela e o marido, Wallace, que é mato-grossense

Diela e o marido, Wallace, que é mato-grossense

Quando Diela Tambanhaque era criança, na Guiné-Bissau, sempre ouviu seu pai contando histórias sobre o Rio de Janeiro e São Paulo, da época em que fez pós-graduação na USP. Ele, que é médico formado em Moscou, foi um dos primeiros estudantes a vir para o Brasil por meio de um convênio universitário. Seguir os mesmos passos dele sempre foi o sonho da garota, que conseguiu realizá-lo durante a faculdade. Começou estudando sociologia em seu país, passou para o intercâmbio com uma vaga de letras, e se formou em Serviço Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Depois de muitas idas e vindas, se instalou de vez em Várzea Grande, e hoje encanta as brasileiras com suas tranças e as roupas feitas em tecido africano que desenha e comercializa.


Diela começando a trançar seus cabelos (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
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Diela, hoje com 31 anos, veio para Cuiabá por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). Ela, que sempre foi apaixonada por política e por movimentos sociais, sonhava em terminar os estudos e voltar para seu país, onde acreditava que seria mais útil como profissional.

Quando se formou, no entanto, a estudante tentou continuar e fazer o mestrado. Neste tempo, conheceu seu atual marido, e engravidou. “Foi um choque. Eu escondi de todo mundo, entrei em depressão. Eu sempre fugi de namorar estrangeiro, porque sou muito ligada à minha família, e sempre tive esse medo. Do nada as coisas mudaram...”, contou ao Olhar Conceito.

Com o filho pequeno, ela recebeu a visita da mãe, que incentivou que ela voltasse para Guiné-Bissau. Para completar, Diela começou a ter problemas para conseguir sua carteira de assistente social, já que o convênio da graduação exigia que ela voltasse para seu país. Ela ainda conseguiu passar em um concurso da Prefeitura, onde trabalhou por dois anos, até que chegou um momento que decidiu ir para a África, mesmo contra a vontade do marido.

“Eu inventei tudo. Disse para ele que iria ficar por 45 dias e receber meu certificado. Como era minhas férias, eu pedi para minha coordenadora e ia pegar as férias para ir para Guiné”, lembra. Com essa desculpa, ela conseguiu que o marido assinasse a autorização de viagem de seu filho. “Mas eu já cheguei já entreguei currículo, sonhando que eu conseguiria um bom trabalho e ele iria para lá também”.

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Os 45 dias se passaram, e ela conseguiu trabalho onde sempre quis. O esposo, Wallace Rogério, no entanto, ficou decepcionado. Do Brasil, pedia que Diela voltasse, prometia que ia buscar seu filho, e os dois passaram por um momento muito difícil. Ele chegou, até mesmo, a decidir ir embora para a África, e pediu demissão de seu emprego em Cuiabá.

“Só que eu fui tirando algumas conclusões da vida. Eu vi que eu não tinha ido embora porque eu queria, eu fui porque minha mãe e minhas irmãs me induziram a ir. Eu sempre quis estudar, fazer mestrado, doutorado... meus grandes amigos são pessoas estudiosas, eu sempre gostei de ler, meu crescimento eu devo a isso. Mas eu percebi, neste período, que eu também precisava da minha família. Eu estava fazendo uma pessoa sofrer, eu estava sofrendo, meu filho estava sofrendo. Então eu travei”, lembra.
Wallace conseguiu o emprego de volta, e Diela e o filho voltaram para o Brasil. Ao chegar aqui, ela ainda trabalhou certo tempo como assistente social, mas já estava decepcionada com a profissão, ao perceber – tanto no Brasil quanto em Guiné-Bissau – que por mais que quisesse ajudar, o sistema era muito mais complexo e ela só conseguia ir até certo ponto, até se frustrar. Com isso na cabeça, decidiu que usaria seu senso de justiça social para atuar por outros meios, e que transformaria outras paixões – cabelos e roupas – em novas profissões.

“Eu sempre gostei de tecidos africanos. E trança também, desde criança. E isso é um dom, é uma paixão para mim. Sempre, onde eu estava, as pessoas iam me visitar e já pediam para fazer o cabelo delas”, conta. Como ela já tinha o costume de fazer este tipo de trabalho para algumas amigas, foi fácil começar a conquistar a clientela.

Wallace, marido de Diela, com uma de suas camisas (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Com as roupas, no início ela teve um pouco de dificuldade para que os tecidos chegassem – problemas com malas extraviadas e burocracia dos correios – até que encontrou uma fornecedora em São Paulo, a ‘Mama África’. “Ela me fornece os tecidos e me dá dicas de como negociar com as costureiras. Eu desenho e levo para elas... mas o tecido africano é muito difícil de trabalhar, então eu tenho que ficar orientando, por exemplo, para não cortar os detalhes... tenho três que trabalham comigo”, explica.
Hoje, grande parte de sua produção é sob encomenda, mas algumas peças ela deixa de mostruário e leva em feirinhas pela cidade. Todas as peças são desenhadas por ela mesma.

Nos cabelos, faz todos os tipos de trança e alongamento, desde megahair até boxeadora, dreads, boxbraids, dentre outros. E todos à mão. A maior parte de sua clientela é formada por brasileiras, e muitas de cabelos lisos, o que, para ela, não é nenhum problema: “Eu faço em quem valoriza o meu trabalho”, comenta.

Serviço

Diela
Informações e encomendas: Wats: (65) 9 92080479
Ligação: 65 992438880
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