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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Enfermeira mestre em luto cria grupo para acolher mães que perderam seus filhos

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

Enfermeira mestre em luto cria grupo para acolher mães que perderam seus filhos
Em 2016, a enfermeira Beluci Bianca, hoje com 32 anos, passou por um momento delicado. Uma amiga perdeu um filho e ela não sabia como conversar sobre o assunto. Recém-formada de um curso de doulas e mestre em saúde pública com foco em luto, ela decidiu se aprofundar no assunto da perda parental e, pouco tempo depois, criou o grupo ‘Mães de Anjo Mato Grosso’, para acolher mulheres de todo o estado. Hoje, são cerca de 30 mulheres que compartilham dores, mas, também as alegrias e a superação.

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“A gente começou a ver que existem muito mais mulheres que passam por essa perda do que a gente imagina. Eu vi que minha tia passou por uma perda, mas ninguém conversou sobre isso, minhas irmãs, amigas... tem muita gente que passa por isso e não tem com quem conversar. E esse foi o intuito do grupo”, contou ao Olhar Conceito.

A primeira reunião aconteceu em dezembro de 2016, com apenas sete mulheres. Para saber como agir, Beluci também recebeu apoio da Organização Não-Governamental (ONG) ‘Amada Helena’, pioneira da causa no Brasil. “Elas encaminham as cartilhas, que também são gratuitas, e a gente entrega para as mães quando vamos realizar o acolhimento”, explica.

A participação no grupo é gratuita, e os encontros acontecem a cada dois meses, sempre em Cuiabá. No entanto, existem mulheres participantes em cidades do interior, como Rondonópolis e Primavera do Leste. Em cada reunião é escolhido um tema para discussão, e é feito, também, o acolhimento para as mulheres que participam pela primeira vez.

Segundo Beluci, são duas as principais reclamações destas mães. “Primeiro do profissional da área da saúde, na hora desse acolhimento com elas. A maioria fala que tanto médico quanto enfermeiro, no momento de dar a notícia, não têm tanta sensibilidade. A segunda reclamação é em relação a pessoas leigas, que não sabem o que falar, e falam frases que pioram o sentimento de dor. Por exemplo: você é nova, você vai ter outro filho, logo você esquece, porque você está sofrendo tanto se você nem pegou ele... são essas frases que as mães escutam e pioram o sentimento do processo de luto”, lamenta.

No grupo são acolhidas mulheres que perderam os filhos desde oito semanas de gestação até cerca de dois anos de idade. “A gente mostra que é normal passar por isso, e está tudo bem. A gente legitima essa dor da mãe, que a sociedade não legitima”, explica. “Quando elas chegam, estão em um momento muito obscuro, e ao ouvir outras histórias, ela vêem que todo mundo ali já passou pelo mesmo processo, e que tem uma luz no fim do túnel, que ela vai conseguir se readaptar. Porque a gente fala que ninguém supera a morte de um filho. A gente se readapta a essa nova vida”.

O processo do luto, no entanto, é singular para cada uma, e por isso não há fórmula mágica, ou como saber quanto tempo ele vai durar. “O processo de luto, quando a gente estuda na faculdade, é dividido em fases, passo a passo. Quando a gente vai para o mundo real, a gente vê que o processo de luto é diferente. Hoje eu posso estar bem, mas amanhã posso estar muito triste e chorosa. E é normal”, explica.

No entanto, existem sinais que os amigos e familiares devem ficar atentos, para quando este luto se torna ‘complicado’. “É aquele em que a pessoa já começa com uma ideia de que quer ir encontrar o filho, e para isso toma uma medicação, dorme o dia inteiro para sonhar com ele... já começam alguns sinais de que esse processo está mais profundo”.

Mesmo no grupo, Beluci conta que uma vez foi procurada pelo marido de uma das mães, que a encontrou se automutilando no banho. “A gente encaminhou para o psicólogo. Precisamos ficar de olho nestes pequenos momentos, e perceber que essas mulheres podem ser mais propícias ao suicídio, à depressão”, lamenta.

Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional

O Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional acontece em 15 de outubro e, há três anos, o grupo ‘Mães de Anjo Mato Grosso’ realiza eventos em alusão à data. Desta vez, Beluci pensou em algo diferente, e com o apoio da fotógrafa Ana Boel, realizou uma sessão de fotos com os ‘bebês arco-íris’, como são chamados aqueles que nascem após a perda de um filho.

As fotos serão expostas na Sala da Memória da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) dos dias 14 a dia 18 de outubro. Além disso, no dia 19, sábado, haverá um evento de ‘solta de balões’ no Parque das Águas. “Num primeiro momento a gente conta um pouco sobre o grupo, quem somos nós, o que estamos fazendo ali no parque, fazemos a entrega da cartilha para as mães... depois tem um momento de música, de poesia, e a gente faz a homenagem com os balões”, explica.

Foto: Ana Boel

Serviço

Quem quiser mais informações sobre o grupo, pode entrar em contato com Beluci pelo (65) 99913-4124 ou pelo INSTAGRAM
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