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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Em MT, irmãs se dividem entre estudos e tranças: “têm importância na autoestima de meninas negras”

Foto: Arquivo Pessoal

Fernanda (esq.) e Amanda (dir.)

Fernanda (esq.) e Amanda (dir.)

As irmãs Amanda Fernandes de Paula Campos, 20, e Fernanda de Paula e Silva, 18, nunca alisaram os cabelos. Mas não por falta de pressão da sociedade, e sim por um esforço da mãe, que chegou até mesmo a fazer um curso de cabeleireiro para aprender a cuidar das madeixas cacheadas das filhas. Hoje, as duas dividem seu tempo entre estudos e o trabalho como trancistas, e presenciam, no dia a dia, a importância das tranças na aceitação e autoestima das meninas negras – principalmente aquelas que passam pela transição capilar.

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As duas nasceram no interior de Goiás, já moraram no Rio Grande do Norte, e vivem em Cuiabá desde 2013. “A gente começou a fazer trança mesmo quando eu tinha uns 8 anos a minha mãe fez um curso de cabeleireiro para poder aprender a mexer no meu cabelo e da minha irmã, porque a gente tem o cabelo cacheado, e na época era muito complicado”, contou Amanda ao Olhar Conceito. “A gente queria alisar, e ela fez o curso para poder aprender e a gente não ter essa vontade, para gostar mais do nosso cabelo cacheado. Ela cuidava, hidratava, de vez em quando fazia escova, e ela também fez um curso de penteado, e sempre estava trançando nosso cabelo”.

Com o incentivo em casa, as irmãs aprenderam a fazer tranças, e usavam um tio, que tinha uma banda de reggae, como ‘cobaia’. Com o tempo, uma passou a fazer na outra, e os cabelos passaram a chamar atenção, até que Amanda entrou na faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e uma amiga lhe incentivou a começar a trabalhar com isso.

“Minha mãe finalizou a faculdade em 2018, e ela consegui um emprego como assistente social, mas com o tempo teve uma demissão em massa na empresa que ela trabalhava e ela acabou sendo demitida, e foi bem complicado. As tranças ajudaram muito, eu consegui pegar firme... a princípio nunca foi uma dependência que a gente tinha, mas com o tempo foi virando, hoje em dia a gente não depende dela [da trança] para se manter, mas ajuda bastante, eu consigo, de certa forma, ter uma clientela, e ajudar em casa”.

Os primeiros atendimentos eram na casa das clientes. Depois, Amanda começou a atender no salão de beleza da mãe de uma amiga, mas só podia marcar horários aos domingos e, às vezes, aos sábados. Passou a compensar mais o trabalho em casa, que as irmãs realizam até hoje. Fernanda está finalizando o Ensino Médio no colégio Liceu Cuiabano, e as duas, atualmente, têm que dividir o tempo entre os estudos e o trabalho, o que muitas vezes não é fácil.

“Muitas vezes eu penso em parar, mas aí eu vejo o quanto é importante, o quanto é uma coisa que traz uma relevância muito grande na vida dessas meninas, e me enche os olhos quando vejo isso”, afirma Amanda. Para ela, as tranças são uma forma de devolver a autoestima a meninas e meninos negros que, por conta do racismo, nunca conseguiram se achar bonitos.

“[As tranças] foram muito importantes para mim, para a minha irmã, para pessoas da minha família. A maioria das mulheres negras, tanto da minha família quanto de pessoas que eu conheço, alisou os cabelos na infância, e acabou que, com o tempo, viram que aquilo era uma forma de embranquecimento, de tirar a estética da pessoa negra, que é o cabelo crespo, cacheado. Com o tempo perceberam que queriam os cabelos naturais”, explica.

Este processo de retorno ao cabelo natural, crespo ou cacheado, chama-se ‘transição capilar’. Segundo Amanda, muitas clientes que passam por este período fazem as tranças para se sentir mais bonitas, e o resultado é nítido. “Às vezes eu acabo de fazer uma trança e a pessoa se olha, e você vê no rosto dela... quando ela chega, como ela está, e quando faz a trança, a maneira como ela sai”, comemora.

Os tipos de tranças que as irmãs fazem são principalmente a Box braid e a nagô. A primeira é especialidade de Amanda. Mais atual, e demora em torno de 6 a 8 horas para ficar pronta, dependendo da dificuldade. Ela dura em torno de dois meses. A nagô, mais tradicional e de matriz africana, demora menos tempo para fazer – no máximo três horas – e é temporária. Quem faz a nagô é Fernanda. Recentemente, Amanda também começou a fazer as tranças ‘twist’.

O preço depende da dificuldade e do comprimento. As irmãs fazem o trabalho tanto com linha (fornecem o material) quanto com jumbo (cabelo sintético, a cliente tem que levar). É necessário agendar um horário e se programar, já que o processo todo leva um tempo para ficar pronto.

Apesar de serem importantes para a autoestima e aceitação de negros e negras, segundo Amanda, as tranças ainda são mal vistas pela sociedade. “As pessoas ainda olham para as tranças com olhares maldosos. Acham que é um tipo de cabelo que ‘fede’, umas coisas que não são verdade. As tranças são laváveis! Mas ainda é muito complicado para a sociedade, principalmente as pessoas brancas, ou as pessoas que não entendem, que não sabem, de entender isso. O trabalho, em si, acaba sendo de certa forma prejudicado por conta das pessoas que veem de fora”, lamenta.

Serviço

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