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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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CURIOSIDADE

Primeira crítica teatral pode ter sido escrita em Cuiabá

Foto: Reprodução/Ilustrativa

Primeira crítica teatral pode ter sido escrita em Cuiabá
Há quem reclame da agenda cultural da cidade. Especialmente do que considera mesmice ou a falta de opções, é claro, segundo suas expectativas. Mas para estes, vale a pena ressaltar que houve um tempo em que Cuiabá possuía atrações artísticas aos moldes europeus, especialmente quando o assunto era arte cênica.

Os colonizadores tentavam transformar Cuiabá e Vila Bela – esta última porque foi capital do Estado por pouco tempo – em uma pequena Lisboa. O início do século XVIII foi um período de grande efervescência cultural. Mais tarde, no século XX, no período que compreende os anos de 1940 e 1970, multiplicaram-se as companhias e apresentações de teatro.

Ao analisar o atual panorama desse setor em Mato Grosso, a notícia até soa de maneira surpreendente já que os artistas que se dedicam às artes cênicas amargam a falta de espaços e quando os têm, em sua maioria, possuem condições precárias para as apresentações. Soma-se a isso o fato de que artistas da dança e do teatro contam com escassos incentivos do poder público e que dirá da iniciativa privada.

De acordo com o autor do livro O Teatro Mato-grossense – História, Crítica e Textos, o pós-doutor em Letras e professor da Unemat, Agnaldo Silva, do século XVIII a estes primeiros anos do século XXI, o Estado passou por períodos de baixa produção cultural, porém, o século XX foi decisivo para que se o fôlego na criação de mecanismos de incentivos culturais???. Segundo sua pesquisa, as décadas de 1920, 1950, 1970 e 1990 foram as que mais registraram produções voltadas ao teatro.

Voltando no tempo, no século XVIII em Cuiabá, as peças representadas eram provenientes da Europa, sobretudo de autores portugueses, espanhóis, franceses, alemães e italianos, entre outros. “Eram peças teatrais, óperas, a fim de refinar um pouco o gosto dos colonos. Essas peças chegavam a nossa região já adaptadas ao gosto português, com uma carga ideológica que visava a dominação pela cultura. Era uma tática para a continuidade de uma política que, mesmo na manifestação cultural, ditasse regras entre colonizados e colonizadores, quem deveria mandar e quem deveria obedecer. À época, o palco era um lugar de congregação, pois as peças eram representadas por índios, negros e brancos”.
O autor conta que o povo tinha o contato com arte, por isso a consumia, mas não com uma capacidade de análise crítica do teor ideológico que as peças traziam de forma subjacente.

Em tempo de “sentimento municipalista” fortalecido pelo aniversário de Cuiabá, a população há de se orgulhar. Alguns historiadores se arriscam a dizer que a primeira crítica teatral brasileira foi escrita em Mato Grosso. “Há dois documentos que indicam o registro das peças que foram representadas no Estado no século XVIII com descrição de alguns aspectos e críticas sobre tais representações. Trata-se da 'Lista das pessoas que entraram nas Funções Principais de Agosto de 1970 e a Crítica das Festas e a Relação de Notícias sobre o Teatro Mato-grossense no Século XVIII'.
De acordo com Agnaldo, esses documentos foram discutidos por críticos como Moura (1976), Lott (1986) e Carvalho (2004) e há o indicativo de que a primeira crítica teatral escrita tenha sido feita em Mato Grosso, “tendo em vista que as representações naquele período colonial, na sua somatória, deram-se em maior número em nossa região”. Mas o escritor defende que há mais a pesquisar.

Quanto à efervescência de tempos mais atuais, ele complementou a seus estudos críticas publicadas em periódicos (jornais e revistas, livros, apreciações críticas de textos cênicos de autores mato-grossenses tais quais Zulmira Canavarros, Amauri Tangará, Glorinha Albues, Justino Astrevo Aguiar, Flávio Ferreira, Agostinho Bizinoto e Sandro Lucose, entre outros.

Foi um belo tempo no qual os artistas faziam a ocasião e o surgimento de grupos e companhias de teatro estava ligado às escolas, que acima de tudo, se voltavam à formação de artistas. “De 1940 a 1970, houve uma grande manifestação cultural que nasceu no interior das escolas e os resultados eram expostos nas praças públicas e nas ruas de Cuiabá, bem como acontecia no século XVIII”, remata o auto de O Teatro Mato-grossense.
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