Amigos, familiares e colegas deram o último adeus ao artista plástico mato-grossense Adir Sodré, na manhã desta terça-feira (11), na Capela Jardins, em Cuiabá. Aos 57 anos, Adir passou mal em frente da própria casa, por volta das 18 horas, e suspeita-se que tenha falecido em decorrência de um infarto.
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Apesar de ser comadre, Alba Regina Silva Medeiros disse que considerava Adir um irmão. “Meu escudeiro, cuidou de mim por muitos anos”, disse a enfermeira, bastante abalada.
Segundo ela, Adir tinha medo de morrer em decorrência da Covid-19, mas acabou falecendo de problemas no coração. “O que nos acalma é saber que ele não sofreu. Não sentiu dor, nem sabia que ia morrer”, acrescentou.
Alba afirmou que Adir tinha diabetes, mas fazia uso de medicação e tinha uma alimentação saudável. O problema no coração era desconhecido. No entanto, outros familiares já morreram de causa parecida. “Ele não morreu, está no meio de tanta gente que viveu com ele. Ele vai estar vivo entre nós por muitas gerações”, disse.
A enfermeira lembrou também de um episódio inusitado com o amigo. “Ele organizou um aniversário pra mim, fez uma pintura, e eu não fui. Ele ficou bravo, mas ele fazia isso com todo mundo, marcava e não ia”, conta. “Achei que ele não fosse ser mais meu amigo, mas passou um tempo e ele voltou. Inclusive comprou o enxoval do meu filho, o afilhado dele”.
O artista plástico Valques Pimenta lembra que conheceu Adir quando começou a frequentar o ateliê onde seu pai, Nilson Pimenta, trabalhava como orientador. “Conheço ele desde 1988, tenho fotos arquivadas em revistas, livros, jornais. Uma perda muito grande. Muitos artistas grandes estão indo embora e não irão surgir outros iguais. Igual ele é difícil”, lamentou o colega, que também citou diversos artistas plásticos que surgiram no bairro Pedregal.
O amigo e artista plástico, Gervane de Paula, também esteve no velório e disse que Adir ira fazer falta no cenário das artes visuais. “Começamos a carreira praticamente no mesmo período, frequentávamos o mesmo ateliê. Com Adir criei um laço de amizade, por muito tempo líamos os mesmos livros, ouvíamos as mesmas músicas, pintávamos os mesmos assuntos. A morte dele vai criar um vazio nas artes visuais mato-grossense e brasileira”.
O enterro está previsto para acontecer por volta das 14h no cemitério Parque Bom Jesus de Cuiabá.
História
Adir nasceu em Rondonópolis (216 km de Cuiabá) em 1962. Já em 1977 passou a frequentar o Atelier Livre da Fundação Cultural de Mato Grosso, onde foi orientado por Humberto Espíndola (1943) e Dalva (1935). Nos dois anos seguintes, integrou com Gervane de Paula (1962) e outros artistas, um grupo que procurava renovar a arte mato-grossense.
Adir participou de exposições coletivas organizadas pelo Museu de Arte e de Cultura Popular da Universidade Federal do Mato Grosso (MACP/UFMT) e também de outras, coletivas: Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), Rio de Janeiro, em 1983, e Modernidade, Arte Brasileira no Século XX, no Museu de Arte Moderna de Paris, em 1987.
Em sua produção, aborda temas relacionados à cultura regional e questões acerca dos povos indígenas, além e ser lembrado pelos 'falos' e por ter a sexualidade como tema em grande parte de sua obra.
Na Enciclopédia do Itaú Cultural, seu trabalho é apresentado como com "diálogo constante com a tradição da história da arte, e faz referências, entre outros, aos pintores Vincent van Gogh (1853-1890) e Diego Velázquez (1599-1660). Aproxima-se também do universo dos quadrinhos, como em Almoço na Relva VII (1988). A partir da década de 1980, Adir Sodré inclui em suas obras temáticas relacionadas aos povos indígenas, à invasão causada pelo turismo em determinadas regiões do Brasil e ao consumismo, esse último exemplificado no quadro Dolores Descartável (1984)".
O artista é reconhecido nacionalmente por suas obras. Em 2017, um de seus quadros esteve ao lado de Pablo Picasso, Adriana Varejão e tantos outros na exposição 'Histórias da Sexualidade', no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.