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Sábado, 27 de abril de 2024

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Apaixonada por Carnaval desde criança, sambista representou Cuiabá na Sapucaí e mantém tradição familiar

Foto: Reprodução

Apaixonada por Carnaval desde criança, sambista representou Cuiabá na Sapucaí e mantém tradição familiar
Em uma das melhores lembranças da infância, Izzy Lima dos Santos, de 43 anos, saiu pela janela de casa para pular Carnaval na matinê do Sesi, em Cuiabá, mesmo com o pé machucado. Nos almoços e festas de família, Izzy aprendeu com os pais sobre os clássicos do samba e o amor pelo Carnaval. Falecido há 20 anos, o pai da atual rainha do Carnaval de Cuiabá chegou a ser campeão de samba de gafieira, ao lado da mãe de Izzy. 

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“Meu pai era baiano e minha mãe é cearense. Os dois sempre gostaram de sair para dançar. Lembro que foram campeões de gafieira. Não lembro se no Monte Líbano ou no Sayonara. A dança está na minha vida desde criança, sempre gostei de samba e de dançar. Tenho raízes africanas e sou de família de artistas, meu irmão é mestre de capoeira e eu também dou aulas”. 

Os pais de Izzy se mudaram do Nordeste para Mato Grosso em 1973. Ela e a mãe ainda moram na mesma casa, no bairro Manga, em Várzea Grande, onde, inclusive, ela nasceu. Apesar do pai já ter falecido, a residência ainda guarda memórias dos dias de samba, tradição que Izzy faz questão de continuar. 

“Em casa sempre tocou samba, meu pai sempre gostou de Noite Ilustrada, Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho. Tenho até hoje os LPs deles. Teve uma vez que torci meu pé e meu pai não queria que eu saísse machucada. Me colocou no quarto para não sair, com quatro anos pulei a janela para pular Carnaval. Sempre amei o samba e o Carnaval. É a minha paixão”. 

Com 19 anos, Izzy decidiu entrar no mundo do Carnaval cuiabano, já que, até então, ela só gostava de frequentar rodas de samba para se divertir. Em 2002, ela participou do concurso para escolher a rainha do Carnaval de Cuiabá pela primeira vez, realizado no Museu do Rio, um dos principais pontos turísticos. 

A experiência foi frustrante e fez com que Izzy recuasse na tentativa de ingressar na folia cuiabana. Ela prometeu a si mesma que não participaria de concursos de carnaval novamente. Cumpriu o juramento por quase duas décadas. 

“Era adolescente e fiquei chateada por não ter ficado nem em 3º lugar. As pessoas que ganharam não sabiam dançar nada e eu sambo desde pequena. Claro que não era uma exímia sambista, mas fiquei chateada e decidi que não participaria mais de nenhum concurso”. 

Carnaval e samba abriram portas 

Mesmo convicta em não participar mais do concurso para rainha do Carnaval de Cuiabá, Izzy não desistiu do samba. Ainda se quisesse, não conseguiria, já que afirma que o Carnaval e o samba correm em suas veias. Em 2007, ele fez parte de uma delegação da escola de samba Imperatriz Portuária que representou Cuiabá na China. 

"Foi através da Selminha que era rainha de bateria do Banana da Terra, assim como o Caçula do Pandeiro e a Tia Lea, que já me conheciam e conheciam meu trabalho. Ficamos 25 dias, foi a primeira escola de tradição do carnaval cuiabano que foi representar o samba do outro lado do mundo”. 

Os olhos de Izzy cintilam quando ela lembra da “festa” e da “energia contagiante” com que a delegação cuiabana foi recebida na China. Quando voltou da viagem, não pensou duas vezes e entrou no já extinto Banana da Terra, onde entrou como passista e encerrou a carreira no bloco como rainha de bateria. 

“Eu era muito amiga da Selminha, que era a rainha da bateria, representamos o bloco juntas na frente da bateria quando eu era madrinha. Era muito emocionante. Já tinha 27 anos, mas ainda estava convicta em não participar de nada [relacionado aos concursos]”. 

Também através do samba e do Carnaval, Izzy conseguiu realizar o sonho de desfilar na Mangueira, em 2013, quando Cuiabá foi homenageada pela escola de samba carioca. Na ocasião, a rainha do Carnaval de Cuiabá sentiu na pele a emoção de entrar na Sapucaí em um carro alegórico. 

“Tenho medo de altura. É o sonho de qualquer pessoa que ama sangue e o carnaval, então fui na cara e na coragem, subi no carro. A estrutura balança, dá um medo do caramba, mas fui corajosa e valeu a pena. É um sonho realizado. Pretendo desfilar em outras escolas no Rio”. 

Alguns anos se passaram e, em 2019, pessoas próximas começaram a questionar Izzy sobre uma nova participação no concurso de rainha do Carnaval de Cuiabá. Apenas naquela época, ela considerou rever a promessa que fez a si mesma aos 19 anos e decidiu participar. 

“Para mim era um marco ser rainha do Carnaval de Cuiabá 300 anos, era um título importante. Naquela época tinha 39 anos e, em meio a muitas meninas até mais jovens que eu, fui escolhida como rainha. Claro que veio a chuva de críticas, tive que lidar com isso, aprender a lidar e não responder certas coisas”. 

Izzy lembra que a mãe chegou a ser ofendida por pessoas que não concordavam com sua vitória no concurso. Ela conta que a situação causou mágoa por sentir que sua trajetória no Carnaval cuiabano estava sendo desrespeitada. 

“Pessoas que chegaram depois de mim estavam criticando, sendo que eu tenho uma história, que não é pequena. Minha mãe na época foi ofendida também. Isso mexeu muito comigo na época, mas aprendi a lidar com certas coisas hoje. De 2019 para cá são cinco anos [como rainha], minha mãe brinca que sou penta”. 

Tradição do Carnaval cuiabano está se perdendo 

O posto de rainha do Carnaval é de Izzy há cinco anos por ausência da realização de novos concursos. Ela afirma estar ansiosa para passar a faixa para a próxima representante da folia cuiabana, mas lamenta que o tradicional Carnaval de Cuiabá esteja se perdendo e sendo deixado de lado. 

“É triste, como rainha do carnaval falar isso, sou rainha de um carnaval que praticamente não vai existir. A tradição dos desfiles e blocos mesmo não vai acontecer. É algo que está se perdendo cada dia mais, entra ano e sai ano, parece que o carnaval está morrendo. E tem gente querendo fazer acontecer”. 

Para Izzy, a história do Carnaval cuiabano se mistura com a do bloco Banana da Terra, que teve Cleomance Saldanha como presidente. Conhecida como “Pretinha”, ela também ocupou a presidência da Associação de Blocos de Cuiabá (Abloc). Izzy conta que, por muitos anos, Pretinha tirou dinheiro do próprio bolso para fazer o desfile tradicional acontecer. 

“Vão falar que estou puxando brasa para minha sardinha, mas o Banana da Terra era diferenciado. Me emociono de falar, me dói muito o bloco ter acabado. Era uma coisa que vivenciava no carnaval, estar no bloco que eu amo, a bandeira que eu carrego… é a minha paixão. O Banana da Terra abriu portas para eu ser o que sou hoje”.
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