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Sexta-feira, 11 de outubro de 2024

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Aos 59 e 49, casal de artesãos se prepara para morar em kombi: 'não queremos outra vida'

Foto: Arquivo pessoal

Aos 59 e 49, casal de artesãos se prepara para morar em kombi: 'não queremos outra vida'

Com a kombi estacionada no Mirante de Chapada dos Guimarães (a 64 km de Cuiabá), os artesãos Sirlei Mariza Hintz e Jorge Bispo Pereira, de 59 e 49 anos, observam o movimento no ponto turístico enquanto vendem artesanato hippie ou escrevem o nome dos clientes em um grão de arroz. Sorrindo, Bispo avisa aos curiosos que passam olhando o carro antigo: “essa é a nossa casinha”. 



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A história da Kombi Estradeira, como foi nomeada pelo casal, começou antes mesmo de Sirlei e Bispo se conhecerem, no final de 2021, quando estavam no mesmo camping em Chapada dos Guimarães. A gaúcha que vive em Cuiabá desde a infância já dividia o sonho nômade com amigas, que também compraram uma kombi para viver na estrada. 

Sirlei brinca que a casa dela ficou conhecida como “estacionamento de kombi”, já que nos finais de semana as amigas estacionavam os veículos no local para fazerem as adaptações necessárias para transformá-los em casas sobre rodas. A artesã conta que tudo foi feito por ela ou por amigos. 

“Uma amiga me mandou um vídeo de um motorhome e falou: Sirlei, olha essa vida. Menina, na hora que vi aquilo decidi que era o que queria para mim. Menos de seis meses depois já vendi meu carro e comprei uma kombi Todos ficaram doidos, imagina. Esse foi o primeiro passo, depois começamos a reunir os amigos, quando um não sabia fazer algo tinha outro que sabia. Aqui em casa era todo final de semana. Tinham dias com duas kombi aqui dentro e duas lá fora”, lembra aos risos. 

Ela explica que a marcenaria foi feita pelo irmão e a parte elétrica foi resolvida por um amigo. Orgulhosa, ela reforça que a casa foi montada quase que artesanalmente. “Lixamos muito, passamos horas fazendo furos. Fomos tentando e aprendendo”, conta Sirlei. 

Sirlei e Bispo trabalham vendendo artesanato hippie nas estradas brasileiras para custear gastos da viagem. (Foto: Arquivo pessoal)

Alegria compartilhada

Enquanto passava pelo processo de montagem da kombi e vivia a expectativa do sonho de pegar estrada, Sirlei confessa que não se sentia plenamente feliz por sentir falta de ter alguém para compartilhar as experiências da vida nômade. Pouco tempo depois ela encontrou Bispo que, por coincidência, se preparava para transformar uma Doblô em casa. 

“Quando estava montando a kombi, a questão de viajar sozinha sempre me incomodava, sempre falava que iria conhecer alguém. Tanto que fui montando e pensando que conheceria alguém para viajar comigo. E as coisas foram acontecendo… De repente estávamos juntos, viajando juntos… Gostamos das mesmas coisas, trabalhamos com artesanato, pedalamos. A gente se diverte o tempo todo. É inexplicável”. 

Bispo também encontrou a parceria que buscava na aventureira Sirlei, que conta ter aprendido com as experiências do namorado. O rondoniense já viajou de Uno Milli, a pé, de bicicleta e de carona. Quando tentou se encaixar em uma vida “tradicional”, Bispo foi contra a paixão que sente pelas viagens e chegou a ficar deprimido. 

“Esse sistema não é para mim mesmo, não me encaixo. Me desfiz do Uno para comprar a Doblò, o Uno era muito bom, viajava com ele. Já viajei a pé com um mochilão nas costas, um violão do lado e lembro que tinha uma  barraca dessas canadenses que era um sacolão de ferro, as armações eram todas de ferro. E o pé na estrada. Mas viajava sozinho e é bom ter alguém para compartilhar”. 
 

Depois que se conheceram, o plano de viver na estrada foi discutido por Sirlei e Bispo enquanto casal. Juntos, decidiram que morariam na Kombi Estradeira, que já estava praticamente pronta para receber os novos moradores. 

A primeira experiência do casal nas estradas brasileiras durou quatro meses. Durante 22 dias da viagem, eles “moraram” na beira da praia em Ilhéus (BA). Sirlei descreve a experiência com brilho nos olhos. “Acordando e dormindo com o barulho do mar, não dá vontade de viver outra vida”, define. 

Agora, os dois querem ficar pelo menos quatro anos vivendo na kombi. Para concretizar o sonho, Sirlei colocou a casa para alugar e junto de Bispo vai continuar produzindo os artesanatos que vendem nas paradas que fazem pelo Brasil. 

“Nessa primeira experiência minha, viajando desse modo, morando em um carro… Foi tudo novidade, precisei ir me adaptando. O bom é que o Bispo já tinha experiência e não passamos apuro. Mas não troco mais, ficar aqui em casa uma semana já me incomoda”, diz Sirlei. 

A artesã conta que na estrada ouviu muitas pessoas dizendo que compartilhavam do mesmo sonho de viver viajando pelo Brasil. Para Sirlei, sonhos como esse não devem ser deixados de escanteio e que a idade nunca foi motivo para não viver as próprias aventuras, como quando deixou um emprego de sete anos para morar em Barcelona sozinha. 

“59 anos é um pouco mais da metade. Já vivi tudo isso trabalhando, cuidando, vivendo para os outros… Agora vou viver para mim. Em nenhum momento a idade foi impedimento para mim. Se alguém pensou isso, guardou para si. Sempre fui uma pessoa que nunca me importei com a opinião alheia, sempre priorizo o que quero. A pessoa tem dois trabalhos: um de gostar e outro de desgostar”. 

Preocupação da família 

Em uma das publicações do Instagram no perfil da Kombi Estradeira, uma das filhas de Sirlei comemora a realização do sonho da mãe, mas também externa a preocupação que sente ao vê-la viajando de carro pelo Brasil. A artesã brinca que houve uma “inversão de papéis” e que as filhas foram contra. 

“A princípio foram contra, falaram que era perigoso. Fui insistindo… Aconteceu essa inversão de papéis. Quando elas viram que não tinha jeito, que realmente iríamos pegar estrada acabaram aceitando. Tentaram me convencer de não ir o tempo todo, desde a compra da kombi. Mas estão criadas, já tenho netos”. 


O casal tem o amor por novas experiências em comum e compartilham aventuras diárias juntos. (Foto: Arquivo pessoal)

Os netos, uma menina de 12 e um menino de cinco anos, acharam o máximo a avó aventureira. Ela conta que Henrique se apaixonou pela kombi desde que ela começou o processo de montagem. 

“As crianças gostam de aventura. Meu neto Henrique é completamente apaixonado pela kombi, desde que começamos a montar. Esse acho que vai ser aventureiro mesmo”, brinca Sirlei. 

Bispo não tem filhos, mas tem uma neta “do coração”, com quem conviveu desde que era recém-nascida por conta do antigo relacionamento. 

“Era casado e ela cresceu comigo. Teve o rompimento do relacionamento e ela sentiu muito. Trocamos cartinhas, ligações… Ela sempre pede para me ver, pergunta quando vou visitar. É uma paixão”, conta o artesão. 

Segunda temporada na estrada 

Bispo e Sirlei estão fazendo os últimos ajustes na casa de Cuiabá que será alugada para pegar a estrada novamente. A artesã confessa que os meses parada desde a primeira experiência como nômade foram estranhos e que não se adequa mais a esse estilo de vida. Para ter mais conforto na segunda temporada da Kombi Estradeira, o casal construiu um banheiro no veículo. 

“Nessa viagem vimos o que realmente é importante levar, porque a kombi fica pesada. Chegamos a conclusão que teríamos que ter um banheiro dentro da kombi. Ele é minúsculo, mas é importante. Foi a primeira coisa que fizemos, inverter a posição dos móveis e colocar um espaço para o banheiro”. 

A expectativa é começar a subir em direção ao Norte do Brasil, onde pretendem passar alguns dias em Alter do Chão (PA). Sirlei já conhece o distrito paraense, mas agora quer viver a experiência no lugar paradisíaco ao lado de Bispo, que nunca viajou para o local. 
 

“Ver um lugar bonito sozinho e com alguém que gostamos, é diferente. Às vezes as pessoas estão viajando ou morando com alguém e às vezes não se conhecem. Hoje a tecnologia é tanta que as pessoas estão tão envolvidas nas redes sociais, que não sabem mais quem é a pessoa que está do lado. Não sabem compartilhar uma pizza ou um cinema. Gostamos muito de compartilhar as mesmas coisas. As pessoas estão perdendo esse lado”, aponta Bispo.

Como pretendem monetizar a conta no Youtube, onde vão compartilhar vídeos da vida na estrada, Sirlei e Bispo explicaram que estão precisando de um notebook para editar as imagens. Os dois têm dificuldade de usar o celular para fazer a edição e ficaram sem computador recentemente. 

Para seguir no Instagram: @kombi_estradeira

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