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Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

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essência da cuiabania

Sobrinha de Gervane de Paula vende bolo de queijo cuiabano com receita que atravessa gerações

Foto: Reprodução

Sobrinha de Gervane de Paula vende bolo de queijo cuiabano com receita que atravessa gerações
Além das memórias da infância em meios às tintas e telas no ateliê do artista plástico Gervane de Paula, Wania de Paula, de 39 anos, também guarda com carinho as lembranças do que viveu na cozinha com a avó ou a mãe na casa da família, no bairro Araés, em Cuiabá. A receita do bolo de queijo cuiabano, vendido desde a adolescência por ela, é fruto de um dos momentos que Wania esteve rodeada dos familiares e da culinária regional. 


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“Com 17 anos já comecei a fazer, vender informalmente para minhas tias. Sempre gostei de fazer e servir a família, esse era meu prazer: servir a família. Comprava o queijo, mas o cuiabano, pelo menos na minha família, tem que fazer bem feito, então mantenho a qualidade e quantidade de queijo, para manter a originalidade de uma geração passada. Dentre outras coisas da culinária cuiabana que também produzo”. 

Os bolos de queijo cuiabanos podem ser encomendados com Wania pelo Instagram ou pelo Whatsapp. Neste mês, ela decidiu criar um perfil na rede social para divulgar a produção do quitute que atravessa gerações na família. A base da receita ainda é a mesma que aprendeu e consumia na infância, mas a cuiabana fez algumas modernizações. 

“Readequei com os cursos que já fiz, comprei uma máquina de embalagem a vácuo e as embalagens específicas por conta da durabilidade para poder atender a demanda com qualidade, mas mantendo a essência do bolo de queijo cuiabano”. 

Wania é sobrinha de Gervane de Paula, que atualmente expõe parte das obras que criou desde 1979 na Pinacoteca de São Paulo. Por cinco anos, ela foi a primeira sobrinha na família materna e paterna, período em que teve o privilégio de circular pelo ateliê do tio, além de servir de inspiração para as obras. 

“As pretinhas das telas do meu tio, a referência de inspiração sou eu. Depois de cinco anos nasceram outros primos, então, nessa jornada, essa característica da pintura do Gervane, da cuiabania, do cotidiano mesmo, que ele retrata nas telas, sou eu. Muitas pessoas pensam que sou filha dele, dou um suporte na carreira dele. O ateliê dele sempre foi no bairro Aráes e continua sendo, mora no bairro Araés. Ele continua produzindo e desbravando a arte em Mato Grosso”. 

A cozinheira cresceu entre a cuiabania, fosse ateliê e nas exposições de de Gervane de Paula ou na cozinha e quintais dos familiares. Para ela, o bolo de queijo cuiabano faz parte do cotidiano dos moradores tradicionais da cidade, como ela e a família. 

“Quando coloco uma obra dele junto com o bolo de queijo cuiabano, agrego o útil ao agradável, porque faz parte do cotidiano, como ele retrata as brincadeiras de roda, amarelinha, faz parte também”. 
 

Infância cuiabana 

Nascida e criada no bairro Araés, Wania conta que a família sempre fez questão de envolver as crianças nas tarefas de casa. Foi na infância que ela se viu hipnotizada pela rotina da mãe, da avó e das tias na cozinha, além de ter aprendido a preparar e temperar os peixes de rio com o avô. 

“Cresci em meio a toda tradição e cultura cuiabana, respirei isso com meus pais e meus avós. Eu sempre estive adornada nessa beira de fogão, na cozinha acompanhando minha vó e minha mãe fazendo as comidas. Sempre em comunhão, nunca deixa uma criança que está perto parada quando você está fazendo alguma coisa, sempre repassa o conhecimento, isso é instintivo do cuiabano, pelo menos de parte da minha família”. 

Em uma das memórias narradas pela cuiabana, a avó materna sentada em uma rede, na época em que já não tinha mais mobilidade, ensinava a descascar as verduras para preparar o clássico ensopadão. 

“Ali na rede me mostrava: olha, é assim, vai lá e lava, pega as cascas e coloca na planta que é bom para adubar. Sempre passando conhecimento e a gente ali recebendo isso que é de gerações. A partir dos 14 anos comecei a tomar gosto, lá em casa sempre foi comida típica”. 

Wania aprendeu a fazer a receita durante a juventude, quando se encantou pelos momentos em família na cozinha. (Foto: Arquivo pessoal)

O cuidado que os familiares tinham desde o momento de comprar os ingredientes também ficou gravado na memória de Wania. Que hoje tem como prioridade usar bons produtos na receita de bolo de queijo da família. Quando era criança, os fornecedores chegavam em bicicletas ou “carrinhos” que passavam pela rua de casa. 

“No bairro sempre passavam os bicicleteiros com peixes enrolados em cipó para vender, passava o carrinho da verdura. As compras eram bem informais antigamente, por mais que tinham os supermercados ou mercearias, a minha família sempre fazia compras mais informais, tradicionais. Lembro que o pão vinha de um bicicleteiro que tinha uma cesta na frente e atrás, vinha o pão francês e o mandi, em uma cesta de lona, isso é algo que recordo bem, aquele cheiro de pão”. 

Ela explica que o bolo de queijo cuiabano faz parte de uma memória afetiva que ela pretende continuar perpetuando pelas gerações da família. “ Domingo de manhã, por exemplo, se tem alguém lá em casa, asso um bolo de queijo, porque é bom comer assado na hora. Na minha casa ainda tem varanda na frente, cadeiras de fio, asso um bolo de queijo, a gente faz um cafezinho, senta e come. A gente mantém essa essência familiar e da cultura”.
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