A antiga caverna de Kamukuwaká é um local histórico sagrado para 16 povos indígenas do Xingu, mas após a demarcação da terra indígena em 1961, a gruta ficou dentro de uma fazenda de soja a 30km da aldeia no Alto Xingu (MT) e foi criminalmente vandalizada em 2018. Há seis anos, pesquisadores europeus começaram a construir uma réplica que viajou mais de 8 mil km de Madri para o Alto Xingu, onde foi instalada na aldeia Ulupuwene.
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O sítio arqueológico foi tombado como patrimônio cultural em 2010 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Brasil (Iphan), desde a década de 60, os Wauja reinvindicam que a gruta sagrada e seu entorno, incluindo a nascente do rio Batovi sejam anexados ao território Indígena do Xingu.
O projeto de reconstrução foi feito em parceria entre o povo Wauja, Fundação Factum e People’s Place Project (PPP), que realizaram um trabalho coletivo de resgate e compartilhamento de saberes da construção de uma réplica da gruta sagrada com mais de uma tonelada.
Uma expedição realizada pelo PPP em setembro de 2018 constatou que antigos petroglifos da gruta haviam sido sistematicamente destruídos: marcas de cinzel, uma superfície lascada e fragmentos espalhados pelo chão foram tudo o que restou.
A réplica ficará alojada no Centro Cultural e de Monitoramento Territorial, construído na aldeia de Ulupuwene.
Uso de tecnologias de impressão 3D
A equipe da Factum Foundation empregou tecnologia de alta resolução (fotogrametria e digitalização LiDAR) para registrar a caverna. Em seguida, utilizando tecnologias de impressão 3D de última geração e com referência à documentação fotográfica anterior, bem como à memória coletiva dos Wauja, foi realizada uma restauração digital com precisão forense das gravuras, resultando em um fac-símile 1:1 da entrada até a caverna com todos os petroglifos, medindo 8x4x4m.
Um ano após a descoberta do vandalismo, nos dias 18 e 19 de outubro de 2019, a Factum organizou um evento de dois dias na sua oficina de Madrid para inaugurar a réplica da caverna restaurada. Um dos líderes do povo Wauja, Akari Waurá, historiador oral e cantor, e seu filho Yanamakakuma Waurá, ao lado de Takumã Kuikuro, cineasta do povo Kuikuro, e Shirley Djukuma Krenak, líder do povo Krenak, inauguraram a gruta com um ritual.