Foi durante uma viagem para Portugal que o artista e publicitário Ricardo Freitas, de 26 anos, viu uma placa anunciando aulas de pintura com degustação de vinho. Ele lembra de ter achado a proposta divertida, mas não imaginava que ela serviria de inspiração para criar a própria oficina unindo arte e espumantes em Cuiabá.
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As primeiras aulas aconteceram nessa quarta-feira (7), no Ateliê Vivo Filhos do Barro da CASACOR 2024, no anexo da Arena Pantanal. Conforme a demanda de interesse, Ricardo vai avaliar a criação de turmas para novas oficinas até dezembro deste ano.
As latas de espumante que Ricardo fornece aos alunos guardam um detalhe especial, já que os rótulos foram criados por ele após um convite da Spognardi, que o provocou a se inspirar na transição entre a seca e o florescer do Cerrado.
“Quando fui convidado para fazer essa oficina lembrei que estava em Portugal procurando algo para comer às 23h e vi um lugar que anunciava ‘wine and art’, achei divertido. Então pensei em unir a arte e o espumante, não que a pessoa vá se embriagar, mas ela vai ganhar duas latas, o moscatel e o rosé brut”.
No começo da oficina, Ricardo faz uma breve introdução aos elementos que compõem uma pintura. Através da explicação do artista, os alunos passam por três atividades em que devem criar, livremente, imagens usando apenas pontos, linhas ou formas geométricas. Ele ressalta que não é necessário ter experiência prévia com arte para poder participar.
“Depois vamos para as telas e como o ambiente é sustentável, com obras riquíssimas de artistas grandiosas, além de vários recursos como livros, vou levar meu acervo literário de tudo que tenho, vou levar até revistas da Vogue, para eles procurarem uma referência depois de terem estudado e fazer uma criação no tela”.
No final, além do material usado durante a oficina, os alunos também podem levar as obras de arte produzidas durante as duas horas de aula para casa. No final, cada participante se impressiona com o resultado das telas que podem ser expostas em um espaço reservado do ateliê, pensado para que cada um dos que passarem pelo local se sinta um artista.
Como já tinha ilustrado dois rótulos de espumante, Ricardo decidiu levar as bebidas para a oficina de pintura em tela. (Foto: Reprodução)
“Sou formado em publicidade, então sempre dei palestras e treinamentos, mas é a primeira vez que vou ensinar sobre criação e arte, além de falar sobre a arte livre, que é orgânica, não é uma arte acadêmica, que a pessoa tem que ser rígida e técnica, é para ser espontâneas”.
Ele conta que foi procurado por pessoas que se interessaram por fazer a aula de pintura com espumante para comemorar o aniversário com amigos ou compartilhar um momento de conexão e descontração para um relacionamento romântico, por exemplo.
“Pais que estão visitando no primeiro horário e querem deixar os filhos também, apesar de ter a proposta do espumante, algumas pessoas não bebem, não é obrigatório”.
Arte desde o berço
Ainda na infância, Ricardo já tinha a criatividade estimulada pela mãe e lembra que uma das atividades que faziam juntos era a pintura, enquanto o pai, uma das vítimas da terceira onda da covid-19 em 2020, era músico. Por conta disso, o jovem cresceu rodeado de diversas formas de produzir arte e cultura.
“Cresci nesse ambiente bem artístico, sempre criava algumas coisas e era de dar para as pessoas que gostavam. Em 2018 já pintava telas, porque aqui em casa sempre tiveram telas da minha mãe, ela abria as revistas, via algo e reproduzia, ela era mais disso. Minha mãe pintava realismo, então as paredes sempre tiveram arte e tudo mais, sempre gostei, mas sempre tive um estilo mais diferente”.
Antes de começar a estudar sobre Arte Livre, no Rio de Janeiro (RJ), e Arte Acadêmica, em São Paulo (SP), Ricardo começou a divulgar algumas das telas na internet, período em que realizou as primeiras vendas e descobriu que mais pessoas se identificavam com suas obras.
No entanto, Ricardo conta que sempre teve o sonho de entrar no mercado da arte, principalmente nas galerias. “Consegui expor meu trabalho de maneira mais institucional, porque sempre fui um artista que vendeu mais no ‘boca a boca’, mas eu queria entrar na galeria. Quando você entra em uma galeria, você tem que percorrer uma linha mesmo, fui tentando fazer até, por exemplo, hoje que já consegui expor na Galeria Arto, em Cuiabá".
À medida em que foi profissionalizando a própria arte, o jovem também sentiu necessidade de deixar sua identidade ainda mais evidente nas telas. O objetivo de Ricardo era que, quando alguém visse uma tela com seus traços, não houvesse dúvidas de que ela foi produzida por ela.
“Nunca quis ser só um artista que pinta, queria ser alguém que continuou a história da arte, que continuou criando com inovação. Comecei a pensar em como iria desenvolver o meu traço para quando a pessoa olhar, saber que é o meu trabalho, como o Romero Brito, por exemplo. Comecei a treinar, não foi fácil, acho que comecei em 2020 e ainda estou estudando para conseguir uma identidade muito mais consolidada”.