Depois de um longo período de festas e momentos de confraternização com familiares ou amigos, janeiro chega com a volta da rotina e impressão de ser um “mês infinito”, fazendo com que a terceira segunda-feira do ano ficasse conhecida como “Blue Monday”. A psicóloga Pricila Gonçalves de Sá, que atende em Cuiabá, dá dicas para enfrentar dias de desânimo como a “segunda-feira mais triste do ano”.
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A ideia surgiu em 2005, quando o psicólogo britânico Cliff Arnall desenvolveu uma fórmula que combinava fatores como clima, dívidas pós-festas de fim de ano, a queda nas resoluções de Ano Novo e a sensação de monotonia que janeiro pode trazer.
Apesar do termo ter surgido através da pesquisa de Arnal, Pricila ressalta que a teoria por trás da “blue monday” não apresenta respaldo científico sólido. No entanto, a psicóloga explica que no momento em que a “segunda-feira mais triste do ano” ganha as manchetes, é uma oportunidade para refletir sobre a importância de estratégias para lidar com emoções desconfortáveis, como tristeza ou fracasso.
“O que me preocupa ainda é a população pegar isso como verdade e internalizar, tomar como verdade para si que hoje é a segunda-feira mais triste do ano e isso acabar influenciando no seu estado de humor”.
“A tristeza, por exemplo, é considerada uma emoção desconfortável, não gosto de dizer que é uma emoção ruim, mas uma emoção desconfortável com uma valência negativa pelo viés da neurociência, porém, ela tem seus benefícios, seu efeito e sua necessidade. Essa emoção é fisiológica, você não consegue impedir que ela aconteça, é involuntária, você vai sentir no corpo de acordo com aquilo que você tem experimentado”, destaca Pricila.
Arnall criou a fórmula como parte de uma campanha publicitária para uma agência de viagens. Apesar de sua base científica ser questionável, o termo Blue Monday ganhou força no imaginário coletivo.
Volta à rotina
A psicóloga explica que é comum que o desânimo de ter que retomar rotinas como trabalho, aulas ou exercícios físicos dê as caras no mês de janeiro. Para ela, tem menos a ver com a ideia de “janeiro infinito”.
“Viemos de um período muito festivo e tendemos a estar mais acionados emocionalmente. Então, nesse momento a cidade está toda decorada, nós somos influenciados tanto internamente quanto externamente, então se estou em um ambiente festivo, a cidade decorada, todo mundo comprando e dando presentes, confraternizações, declarações de amor, amigo secreto… Essas comemorações fazem com que as pessoas não olhem para a vida em si e depois isso passa, ela precisa voltar para realidade. Aquelas pessoas que fizeram compra por impulso, depois vão sentir, por exemplo”.
No entanto, Pricila ressalta que o mês de dezembro não representa apenas festas e momentos de descontração, já que boa parte da população também pode estar passando por dias ruins nesse período do ano. De acordo com a psicóloga, a questão está na “lente que amplia” os cenários.
“Imagina o contexto que a família está em harmonia, por outro lado, existe um grupo de pessoas que podem estar ausentes das famílias, então a lente amplia para o outro lado. Em dezembro tem um grupo que está muito feliz e animado, mas também tem um grupo que está se sentindo muito sozinho, triste e depressivo”.
“Mas o que acontece? Em janeiro esse primeiro grupo que estava tudo bem e de repente se sente mal em janeiro, é que ele não olhou para sua realidade, agora ele está tendo que olhar para fora e voltar para a rotina. A orientação para essa pessoa seria olhar para dentro”, explica.
Para “olhar para dentro”, Pricila sugere atenção para o que precisa ser mudado e a importância de olhar para a tristeza. “Então, a pessoa precisa olhar para dentro de si: o que de fato não está bom na minha rotina ou no meu dia a dia? Se a gente usa apenas um recurso para dar um tchau para essa tristeza, colocar ela para longe e não olhar para isso, ela vai voltar em outro momento. A tristeza contínua pode levar a quadros de doenças psicológicas, de sofrimentos mais intensos”.
Cinco pilares da vida
Por conta do uso contínuo de redes sociais, por exemplo, a psicóloga nota uma dificuldade em olhar para dentro de si. Ela explica que encontrou uma maneira didática para ajudar os pacientes a olharem várias perspectivas, algo que chama de “cinco pilares da vida”, que são os aspectos sociais, espirituais, emocionais e físicos.
No âmbito social entra a família, os amigos, o cônjuge. O âmbito espiritual, independente de religião, mas aquilo que transcende. O âmbito físico, financeiro… As pessoas precisam olhar para isso para saber de onde está vindo e por que essa sensação [de tristeza ou desânimo, por exemplo]”.
Além disso, Pricila ressalta que ativações comportamentais, como a prática de exercício físico também podem ajudar a lidar com sentimentos desconfortáveis ao longo do ano.
“O mais importante é olhar para dentro, além disso fazer ativações comportamentais vai contribuir para isso, exercício físico, independente da atividade, movimentar o corpo, se colocar como prioridade em alguns momentos. No consultório conseguimos abranger isso com mais profundidade, mas esses passos já vão ajudar”.