Ambientado em Chapada dos Guimarães, o curta "Lírios" reinventa o olhar sobre o amor trans no cinema brasileiro através da história de Rita, uma mulher trans, e Gabriel, um homem cis. Amigos de infância, eles redescobrem o vínculo durante uma viagem para a cidade. A estreia está marcada para 28 de março, mas já é possível conferir o trailer oficial do filme. 

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Dirigido por Lupe Capitani, Lírios propõe um romance sensível, leve e realista, ao contrário das representações comuns de personagens trans no cinema, que frequentemente exploram narrativas de dor e marginalização. Com um roteiro construído a partir de poemas e vivências da da diretora, o filme apresenta um casal de amigos aprofundando seus laços longe dos preconceitos.

“A ideia era criar uma narrativa que trouxesse conforto e identificação para pessoas trans e LGBTQIAP+, algo que eu e tantas outras sentimos falta no cinema. O amor de Rita e Gabriel não está pautado em tragédias, mas na descoberta, no afeto e na possibilidade de viver plenamente”, explica a diretora Lupe Capitani.

A diretora destaca ainda que muitas mulheres trans são vistas de maneira "mitológica e fantástica", mas não como parte da vida cotidiana de seus parceiros. “Queremos mostrar que nós podemos ocupar esse lugar do amor romântico. Muita gente chamou o roteiro de clichê romântico, mas, para mulheres trans, isso não é clichê - é uma novidade. E queremos ver esse tipo de história nas telas também”, completa Lupe.

Para a atriz Alice Anayumi, interpretar a protagonista foi um desafio, mas também uma experiência emocionante. “Foi muito especial interpretar uma personagem que compartilha da minha identidade, mas que, ao mesmo tempo, é muito diferente de mim. A Rita é mais séria, introspectiva, e eu sou mais expressiva. Foi um processo de descoberta entender como me aproximar dela”, conta Alice.

“A delicadeza e o cuidado que Rita tem com sua amizade com Gabriel foi o que nos conectou. Ela é sutil, cheia de nuances. O filme também mostra como as mulheres trans são múltiplas, e eu acho isso muito bonito”.

A atriz destaca que um dos momentos mais marcantes da trama é a relação de amizade e acolhimento entre Rita e Gabriel: “A história deles era algo que eu precisava ter assistido na minha adolescência. Um amigo que está lá, que te protege e acolhe após a transição, que te recebe em sua casa. Essa rede de afeto que se forma ao longo do filme é muito bonita. Esse filme aquece o coração e mostra que há outras possibilidades para nós”.

Produção independente e representatividade

O filme é uma produção do coletivo Bora Fazer Filmes, criado por estudantes da UFMT e formado, majoritariamente, por pessoas LGBTQIAP+ e racializadas. Segundo o produtor Luan Mello, Lírios simboliza um avanço na busca por um cinema mais representativo, feito por pessoas LGBTQIAP+ para pessoas LGBTQIAP+.

“Não queremos apenas que nossas histórias sejam contadas, mas que sejam contadas por quem realmente vive essas experiências”, afirma Luan. “O mercado do audiovisual ainda se apropria de nossas narrativas sem dar o devido espaço para as pessoas que pertencem a essas comunidades. Lírios vem para quebrar esse ciclo”.

“O filme foi uma experiência transformadora para nós, um divisor de águas para o coletivo”, acrescenta Luan. “Até então, fazíamos filmes sem orçamento, tirando dinheiro do próprio bolso. Esse foi o primeiro projeto viabilizado por um edital, a Lei Paulo Gustavo, e isso fez toda a diferença para conseguirmos realizar o que imaginávamos”.

Lírios foi viabilizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio do edital Fornada (002/2023/SMCEL/FMC).