Perpetuar a cultura e tradição indígena. Promover um intercâmbio entre as 48 etnias brasileiras presentes foi um dos pontos mais significativos da 12ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas, que acontece em Cuiabá de 8 a 16 de novembro. Artesanato, colares, cocares, maracá (chocalho indígena), arcos e flechas, pinturas corporais, gritos de guerra, danças, e muitas cores, assim é a feira que apresenta a produção das aldeias indígenas. Mais de 1.600 índios de 48 etnias dividem o espaço não só para vender o artesanato, mas, principalmente, para viver esta relação de troca.
Os índios reencontram familiares de todo o país, e no encontro a possibilidade de relembrar as tradições, conversar sobre as dificuldades vivenciadas em cada aldeia, conservar a cultura, seja pelos costumes, pelos jogos, guerras, canções e danças. A maioria dos indígenas também ressalta que outro ponto essencial é disseminar o que realmente são para os ‘povos brancos’, como consideram os demais brasileiros.
Teresa da etnia Xerente de Tocantins conta que o artesanato com capim dourado e buruti é ela mesma quem faz, com mais de 50 anos, a índia preserva a habilidade, destreza e cuidado com o qual faz as peças que expõe na feira. “Antigamente aprendemos a fazer com o buruti, mas agora também fazemos com o capim dourado, e fazíamos mais redes ao invés de bijuterias”, conta.
Para Teresa, o comércio foi fraco. Muitos passam com olhares curiosos para apreciar, mas poucos levam para casa as peças trabalhadas com tanto esmero. “No Rio de Janeiro todos gostaram, mas aqui parece que não é assim, lá nós conseguimos vender tudo”, lamentou.
Já Ryakonã da etnia Kariri Xocó de Alagoas revela que todos os produtos são feitos na tribo: pequenas estátuas de deuses, de bichos, cocares, cachimbos, penas, arcos e flechas. E esta foi apenas a primeira vez que participou dos Jogos Indígenas, e também considerou o comércio fraco: ‘alguns olham, outros compram e assim vai’. “O que mais estou gostando é a troca de conhecimento entre os próprios indígenas e também os não indígenas”, explica.
“Queremos mostrar que temos os nossos próprios jogos, diversão, ninguém é igual, nem os povos indígenas são iguais, são muitas línguas culturas e tradições diferentes”, ressaltou Ryakonã.
Direto do Sul da Bahia, o guerreiro Ubiranan da etnia Pataxó com pinturas em seu corpo, pedaços de madeira nas orelhas, se orgulha em dizer que o seu povo conserva há mais de 500 anos a tradição guerreira. “Os Jogos são importantes pelo intercâmbio entre as tribos, os Pataxós estão sempre guerreando, e mostrar a cultura e as tradições ao povo branco. Cada cultura é diferente e este contato de perto com o índio mostra a realidade que não aparece nos jornais”, disse.
Nos Jogos também aconteceu o 1º Encontro de Agentes de Leitura Indígenas e a 1ª Feira Nacional de Agricultura Tradicional Indígena. Troca de sementes tradicionais entre as etnias, comercialização de produtos como guaraná, farinhas, mel, entre outros. A tribo Kayabi Matipu estava vendendo documentário sobre a história da aldeia.
Contudo, o que a reportagem achou falho foi o fato de que não havia comercialização da produção literária indígena, mas a organização garantiu que durante os outros dias havia a venda de livros.