DJ profissional há sete anos, Vivi Seixas sempre foi perseguida pelo sobrenome famoso. Sendo filha de Raul, ou Raulzito, ouvir do público aquele batido berro de “toca Raul!” era mais comum do que se pode imaginar. “Sabe, eu costumo levar na brincadeira”, conta Vivi. “Às vezes, as pessoas realmente queriam que eu tocasse as músicas dele, em outras, queriam fazer piada.” Vivi aprendeu a conviver com a ausência do pai, que morreu em agosto de 1989, e com a enorme e mitológica sombra dele.
“Demorei muito tempo pra tocar as músicas dele. Queria construir a minha carreira de house”, ela conta. Mas, enfim, ela mudou de ideia. Raul Seixas, acostumado em vida a realizar encontros de rock, baião, tango entre outros gêneros que lhe pintassem na telha, agora tem voz levada até a música eletrônica pelas mãos da filha e do produtor norte-americano Mike Frugaletti, com o disco Geração da Luz.
O projeto começou há seis anos, quando Vivi recebeu rolos de fita com a voz de Raul à capela. “A Warner Music me ligou e propôs que eu fizesse um disco. Deram liberdade total”, afirma. Ao entregar o álbum, contudo, o material não estava comercial o bastante para ser lançado. “Temos uma pegada underground”, diz, rindo. “Não sabíamos o que fazer, não sabíamos como transformar a música para que ela tocasse na rádio.” Foi aí que o produtor Plínio Profeta entrou no trabalho. “A história mudou completamente”, confessa Vivi.
O disco traz dez músicas e uma introdução que funciona quase como se o próprio Raul apresentasse esse disco. “”Não quero ranço de velhice. Quero uma coisa nova. Vamos fazer a cabeça dos novos que os velhos já estão fritos”, diz Raul, acompanhado já pelas primeiras batidas. “É como se meu pai abençoasse esse disco”, justifica ela. Há outras surpresas, como “Metamorfose Ambulante” em espanhol e “Só Pra Variar”, um lado B composto por Raul, Kika Seixas (mãe de Vivi) e Claudio Roberto, em 1980.
A DJ perdeu o pai aos 6 anos de idade. Nunca, contudo, ficou longe dele. “Estou na fase apaixonada pelas músicas do meu pai”, diz ela, que não divide as figuras de pai e mito. Ela conta que, quando começou a vida na música eletrônica, foi criticada: os fãs de Raul queriam ver a filha dele com uma guitarra nas mãos, não atrás de uma picape. Ela recorreu ao próprio pai e encontrou, na música “No Fundo do Quintal Da Escola”, a resposta e a força que ela precisava para seguir o próprio caminho. “Não sei onde eu to indo/ Mas sei que eu to no meu caminho/ Enquanto você me critica, eu to no meu caminho”. “Senti que era uma mensagem de pai para filha”, conta ela. “Eu me agarrei muito a isso.”
Ao contrário das outras duas irmãs, de mães diferentes, Vivi teve uma relação próxima com o pai. Ouvir as músicas dele, trabalhar com elas, contudo, aflorou sentimentos que ela mesma não sabia que existiam. “Às vezes, eu chorava. Ficava arrepiada”, conta. “Minha mãe fez questão que nós nos mantivéssemos próximos, eu e meu pai. E eu tenho muita sorte, porque eu ainda posso pegar um CD e escutar a voz do meu pai. Muita gente só pode guardar uma foto. Eu, não. Eu tenho a sorte de poder ouvir o meu pai na hora em que eu quiser.”
Atualmente, Vivi Seixas se estabelece no mercado da música eletrônica. Ela estreia, nesta quinta-feira, 16, uma noite mensal na casa Rinque Lounge, no Jardim Paulista, em São Paulo. Como não há fantasma para ser exorcizado, Vivi se sente à vontade pra repetir o mesmo que fazem com ela e, quando vai aos shows, faz questão de pedir: “Toca Raul!”