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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Especial de natal

Especial de Natal: Deus, o céu, o inferno e o diabo estão dentro de você: O budismo de Nichiren Daishonin

Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito

Especial de Natal:  Deus, o céu, o inferno e o diabo estão dentro de você: O budismo de Nichiren Daishonin
Às 18h30 de uma quarta-feira chuvosa, Vera Matos sai de seu trabalho no Centro de Cuiabá e vai até o Pedra 90. O trajeto é feito todos os dias de ônibus, e ela leva cerca de 1h30 para chegar no bairro. Antes de ir para casa, no entanto, ela vai ao encontro de suas colegas budistas para uma pequena celebração. 

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Na casa de uma cabeleireira, misturam-se na sala os móveis do salão, os da casa e o “santuário”, que tem dentro o Gohonzon (pergaminho que os budistas ganham quando se ‘convertem’), frutas, água, incenso, e alimentos. Isair Boligón, outra participante do grupo, explica que aquelas são formas de agradecimento, ações simbólicas.


Frutas colocadas em frente ao Gohonzon (Foto: Isabela Mercuri)

O budismo que Vera, Isair e as outras três mulheres que estavam na sala seguem é o de Nichiren Daishonin. Ele afirma que o Buda está dentro de cada um, e todos podem alcançar esse ‘estado’, e que o budismo só se realiza na sociedade. Ou seja, o budismo não se realizaria mais apenas com os monges longe da sociedade, mas de pessoa para pessoa e de coração para coração.

Os Budistas não acreditam em um Deus. A força maior está no Universo e, acima de tudo, dentro de cada um. Vera conheceu a religião em 2000, através de Tania Ohana, uma jornalista de Cuiabá. Vera estava há três anos trabalhando em Rondonópolis e veio para a capital passear, mas acabou ficando. Pelos caminhos do trabalho, as duas se conheceram.
Certo dia, Tania falou para Vera: “Engraçado, você pensa exatamente como os budistas”. Vera, então, percebeu que já era budista, mas não sabia. Este pensamento, no dia, era o de que a ‘Coragem equivale à fé’.

Mesmo com o ceticismo que ela carrega em si, Vera começou a frequentar os encontros e em 2006, depois de ter sido católica durante muito tempo, se tornou formalmente budista: “Você recebe um pergaminho, o Gonhonzon, quando se torna budista”.

A base da filosofia budista é que tudo está dentro de você: “Não existe inferno, diabo, céu. SE existe um estado de inferno, ele está dentro de você. Você é Deus, ou você é budista. Tanto faz, só muda o termo”, explica Vera, “O céu é um estado de espírito elevado, tão elevado que se alguém chegar e te xingar você não responde, e não deixa o ambiente te influenciar”.

Outra diferença entre o budismo e a maioria das religiões, é que nele as pessoas buscam o céu em vida, e não apenas após a morte. E depois da morte, há o renascimento: “No budismo não existe coincidência. Se você nasceu em certa família, e até mesmo uma planta que está a seu lado está ali porque você tem um compromisso com eles, para se resgatar dos seus antepassados”, explica Vera.

Este é, também, o chamado ‘Karma’, que para os budistas é a missão: “É o que você e seus antepassados não terminaram de fazer, mas pode ser bom ou ruim. Aí que entra a principal questão do budismo, a revolução humana”.

A revolução humana é outro ponto importante do budismo. Eles acreditam que é necessário mudar radicalmente as ações da vida, todos os dias. Para realizar essas mudanças é que eles fazem as orações e os mantras.


O Jamapala é um 'terço' budista que pode ou não ser utilizado na oração (Foto: Isabela Mercuri)

O mantra mais feito é o “Nam Myoho Rengue Kyo”. O objetivo é entrar em sintonia com a lei mística do universo. Vera conta que faz duas horas de mantra por dia. O significado é:

Nam – Devotar-se para a própria felicidade e a dos outros

Myoho – Lei do Universo que permeia e rege todas as coisas

Rengue - Lei de Causa e Efeito

Kyo – Funções da vida na transformação do destino

Ouça o mantra: 


Repetir o mantra durante certo tempo é uma oração. Quando os budistas fazem esta oração, meditam e pedem para si mesmos que mudem seu comportamento e, como consequência, o universo também vai mudar: “Se professar o Nam Myoho Rengue Kyo, não existe oração sem resposta, nem pecado imperdoável, toda fortuna será concedida e toda justiça será provada”.

O que eles buscam, também, é não causar sofrimento. Nem para si mesmo nem para os outros. “O budismo não critica nada. Um dos princípios é a lei de causa e efeito, se você critica, vai receber críticas também”, explica Vera.

Festas

Vera explica que para ela, não há problema em comemorar o natal: “Se a minha família quer comemorar, eu não vou ter arrogância de falar que não. Mas eu participo como se fosse uma festa normal”.

No entanto, para os budistas a festa mais importante é a de Ano Novo: “O Ano Novo significa renascimento. Significa mudança, que você determina. Mas não é uma mudança milagrosa, e sim uma mudança que você mesmo determina que vai fazer”.

A comemoração do Ano Novo é comum, e os budistas se reúnem para fazer a mesma celebração que fazem em todos os encontros.

Encontros


Vera Matos em um dos encontros (Foto: Isabela Mercuri)

Assim como no encontro que Vera frequenta, todas as vezes que os budistas se reúnem eles lêem um “Gosho”, que é um texto com ensinamentos, e discutem o que ele diz. Antes e depois dessa conversa, o grupo faz o “Nam Myoho Rengue Kyo” olhando para o Pergaminho (que não pode ser fotografado).

Todos os atos da religião buscam, acima de tudo, a felicidade. “As pessoas confundem felicidade com realização de desejos, e não é”, afirma Vera. “A minha felicidade depende só de mim mesma”, finaliza Isair Boligón.

Para finalizar, Vera descreve sua fé desta forma: “O budismo para mim é como andar num bosque. Eu não me confundo com o bosque, porque eu não sou o bosque, não sou perfeita, mas eu usufruo de toda aquela paz”.
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