O lançamento do livro “Entre uma noite e outra”, de Lucinda Persona, teve um ar diferente de outros eventos com o mesmo propósito. Realizado nesta quarta-feira (11) no salão social do Sesc Arsenal, a festa reuniu diversos nomes da literatura e cultura regional, bem como incluiu um recital com as poesias de Lucinda, declamadas por Maurício Ricardo.

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A obra, publicada pela editora Entrelinhas, estava a venda no local por R$ 30. Quem não pode comparecer o evento, encontrará o livro de Lucinda nas livrarias janinas e no site da editora. Lucinda Persona começou sua carreira literária em 1995, quando publicou seu primeiro livro, o “Por imenso gosto”.



“Entre uma noite e outra” é seu sexto livro de poesias, lançado cinco anos depois de seu último trabalho, o “Tempo Comum” (2009). No novo livro, Lucinda trabalha os 60 poemas como versos compondo um diário. A obra é organizada em dias da semana com o objetivo de valorizar a passagem do tempo e as coisas do dia a dia.

Crítico da obra de Lucinda desde o seu primeiro lançamento, o jornalista e escritor José Castello escreveu o prefácio de “Entre uma noite e outra”. Entre as páginas do livro, também encontramos outras críticas. “Lucinda tem uma dicção própria, uma poesia vigorosa e de qualidade indiscutível. O que funciona como um fio condutor nos poemas é o comportamento do Eu Lírico, que se propõe a ver o real além da costumeira aparência e valorizar cada detalhe, sem hierarquizar grandezas; a ver, simultaneamente, com olhares da razão e da imaginação”, escreveu Marta Cocco, professore cuja tema da tese de doutorado foi a obra de Lucinda.



Em uma de suas primeiros textos na coluna Rubrica, publicada toda segunda-feira no Olhar Conceito, Matheus Jacob também discutiu a poesia de Lucinda. “A poesia de Persona trabalha com linhas muito sutis, muito finas para urdir o tecido pesado da experiência humana. É um trabalho de alquimia, de transfiguração aquele que Lucinda Persona faz com o mais ordinário, o mais limpo e o mais simples: desses elementos todos ela ergue, com contraditória simplicidade, um completo edifício”.

Confira abaixo alguns poemas do recém-lançado “Entre uma noite e outra” e veja as fotos do lançamento na galeria.

Damascos

Pode ser muita coisa
e não ser nada

É difícil à mãe de família
fazer pouco das atividades
de toda a vida

Não apenas a fome
É uma necessidade infindável
enquanto se vive

Uma lágrima bem desenvolvida
ameaça os damascos
(são lindos)

Preta como a noite

Tenho o coração sempre aberto
ao que ficou para trás

Era uma galinha
preta como a noite
numa postura de alerta
tomada subitamente
quando
depois das trevas
o poleiro clareou

Disso em diante
tudo se fez segundo o costume
Excluídas as penas
foi conhecido em carne
aquele organismo de cúpulas
que não se rendeu sem luta

Que não se rendeu sem luta.

Conselhos gerais

Nos conselhos gerais
de Timóteo
encontro
um ponto justo
de repouso e desejo:
também quero ser
destes que
só tendo sustento e vestes
estão com isso contentes.